quinta-feira, 1 de abril de 2021

Um esclarecimento sobre os argalas

O conceito dos argalas é um dos menos explorados pelos astrólogos em geral. Além disso, há muitos equívocos quanto a sua utilização. Visando esclarecer isso, decidi escrever esse artigo, mas que já alerto, se destina a estudantes mais avançados ou aqueles que já tiveram algum contato com a técnica, mas ainda não sabem como ela realmente deve ser aplicada.

Em primeiro lugar, argala só foi realmente incorporado e praticado dentro do método de Jaimini, pois você não encontra essa técnica em nenhum dos textos da tradição Parāśarī. Quem afirma que no BPHS argala é citado, inclusive, provavelmente não sabe que o BPHS de hoje está cheio de interpolações, capítulos faltando e, em vista desses problemas, não é aceito como uma autoridade perfeita e inquestionável, especialmente no que se refere a Jaimini jyotiṣa. A primeira versão do BPHS, dos séculos VI-VIII, não cita argalas no seu índice, que foi por sinal apresentado pelo David Pingree em seu Jyotiḥ-śāstra, um respeitadíssimo livro acadêmico sobre a história da astrologia e astronomia na Índia.

Argala, na verdade, é um conceito que foi apresentado no Upadeśa sūtra (2.1.5-10) de Jaimini e expandido no Jyotiṣa phala ratna mala, Jyotiḥ pradīpikā e no Jātaka sāra saṅgraha, dentre outros textos da tradição de Jaimini jyotiṣa. Porém, a sua utilização não é tão simples, já que há muitas considerações a seu respeito e, inclusive, algumas divergências mesmo entre os autores clássicos sobre um ponto ou outro. No meu caso, a perspectiva que uso, depois de ter estudado suas variantes, foi a que aprendi com o Shanmukha Teli. Essa perspectiva é fiel as ideias clássicas, especialmente do JPRM e do JSS, já que o Jyotiḥ pradīpikā parte de ideias únicas sobre o assunto, mas pouco populares.

Esse artigo, no entanto, não visa ensinar como usar os argalas, pois considero que, ainda mais se tratando de argalas, meio conhecimento é mais perigoso que conhecimento algum. Jaimini não é tão fácil de apreender quando Parāśara (que por sinal já é muito difícil). Muito menos é um método que dá para discorrer facilmente por meio de posts na internet. Minha intenção com relação a esse artigo é simplesmente mostrar o que não é a abordagem clássica dos argalas e dar um indício de como essa técnica foi usada na tradição de Jaimini jyotiṣa. Se alguém a partir disso ainda assim decidir seguir uma visão outra, isso já é uma opção pessoal. O importante é ter consciência de como o conceito foi apresentado em Jaimini jyotiṣa.

A chave para entender como aplicar os argalas é o sūtra 2.1.5 do Upadeśa sūtra de Jaimini, onde ele cita que argalas são observados em relação ao nidhyātu-graha. O termo nidhyātu-graha se refere a um graha que lança um rāśi-dṛṣṭi ao lagna. Como muitos grahas podem fazer isso, é preciso determinar por meio das regras de força de Jaimini (e não as de Parāśara!) qual desses grahas seria, de fato, o nidhyātu-graha, pois só pode haver um em um jātaka (horóscopo). Outro termo para se referir ao nidhyātu-graha, especialmente quando esse goza de condições privilegiadas é yogada, ou kevala, algo que é pontuado por Kṛṣṇamiśra em seu Jyotiṣa phala ratna mala.

Uma vez que o nidhyāthu é determinado, o próximo passo da análise é notar os argalas de que ele dispõe e, por meio disso, identificar o status social e econômico do indivíduo, dentre outros detalhes. Em suma, essa é a abordagem dos argalas, na qual a sua aplicação se limita a um único signo do mapa, aquele onde está o nidhyātu-graha. Isso é enfatizado por Somanātha, Lakṣmāṇa Suri, Kṛṣṇamiśra, vṛddha kārikā, etc. Argala, nesse contexto, seria basicamente uma extensão do estudo de rāja/dhana yoga, já que ele existe como um elemento de fortalecimento do nidhyātu-graha.

Dito isso, espero que todos entendam que nenhum autor na linhagem de Jaimini recomendou usar argalas a torto e a direito, em cada ponto do mapa e muito menos misturando Parāśara. Se alguém realmente deseja entender como aplicar o conceito dos argalas, recomendo que estude o Jaimini sūtramṛtam de Irangati Rangācharya, pois ali o conceito foi explicado de forma extensiva e já incluindo todas as referências clássicas mais importantes sobre o assunto. Porém, também devo alertar que, a menos que o indivíduo tenha antes assimilado bem o método de Parāśara, estudar Jaimini, ainda mais sem a instrução de alguém que entenda do método, tende mais a atrapalhar do que a ajudar. Inclusive, se tiver interesse em realizar um curso sobre o assunto, eu já tenho um pronto que pode ser estudado individualmente ou com uma turma. Para mais informações, acesse: jyotisha.com.br/cursos/

oṁ tat sat

Nenhum comentário:

Postar um comentário