quinta-feira, 22 de abril de 2021

Suicídio é algo externo as promessas do mapa?

O suicídio é algo que faz algumas pessoas pensarem: “Bem, isso o mapa não revela”, mas não, o suicídio também faz parte das promessas de um mapa. Todas as coisas negativas que vivenciamos, na verdade, são resultantes de vikarma, as ações impiedosas realizadas em vida pregressa. Essas ações, basicamente dão força aos cinco kleśas (aflições): avidya (ignorância), asmita (egoísmo), raga (apego), dveśa (aversão) e abhiṇiveśa (medo da morte/absorção no corpo). No caso do suicídio, ele é perpetrado quando a consciência está predominada por esses kleśas, ou seja, ela adquire uma expressão tamasika (obscura e ignorante), que leva ao ato de atentar contra a própria vida.

Todos os casos de suicídios que estudei apresentam padrões similares, que também aparecem em outros casos envolvendo mortes violentas ou que não são naturais. Porém, há um elemento distintivo em relação aos casos de suicídio: eles costumam estar acompanhados de unmada yogas, configurações de insanidade/desequilíbrio psicológico. Essas configurações podem ser Chandra (Lua) severamente aflita, krūra-grahas (maléficos) em koṇas (5-9), aflições a cinco e seu regente, etc.

O mapa incluído aqui para a exemplificação do que digo é o de Michel Gauquelin, que aos 60 anos de idade, depois de um ataque de nervos, mandou destruírem todos os seus arquivos/pesquisas e cometeu suicídio ingerindo uma grande quantidade de pílulas para dormir. O ascendente do mapa é câncer, cujo regente, a Lua, reside na cinco (equilíbrio psicológico), debilitada e entre os dois maléficos, Saturno e Ketu. Nesse caso, Saturno é o regente da oito (natureza da morte), o que já mostra que a sua morte seria causada por um desequilíbrio psicológico.

O regente da quinta casa, Marte, reside na décima segunda, retrógrado em signo inimigo e ocupando ainda um navāṁśa de Saturno. Por nakṣatra, Marte reside em ārdrā, que é por natureza tempestivo e classificado como saṁhara – destrutivo. A divindade que preside ārdrā é Rudra, a forma furiosa e caótica de Śiva. Tudo isso aponta claramente para desequilíbrio psicológico – unmada.

A viṁśottarī daśā em que ele cometeu o suicídio foi justamente a de Marte/Marte, o qual está na oito a partir da Lua e a doze do ascendente, sendo o senhor da cinco (discernimento). Na kālachakra, a daśā vigente era escorpião, que conta com a configuração de Lua-Saturno-Ketu, justamente.

Se isso parece impressionante, saiba que absolutamente qualquer movimento físico, mental ou intelectual está sob a jurisdição dos guṇas (modos da natureza), ou seja, de rajas (paixão), sattva (bondade) e tamas (ignorância), os quais se alternam continuamente, criando, preservando e destruindo todas as coisas, afinal, este não é um plano de permanência, mas sim de instabilidade constante.

Como diz Śrī Kṛṣṇa na Gītā (13.30):

prakṛtyaiva ca karmāṇi
kriyamāṇāni sarvaśaḥ
yaḥ paśyati tathātmānam
akartāraṁ sa paśyati

“Aquele que pode perceber como todas as atividades realizadas pelo corpo são criadas pelos guṇas (modos da natureza), sabendo bem que a ātmā (alma) nada faz, enxerga as coisas como elas realmente são”.

Em outras palavras, tudo que ocorre na realidade material, seja a nível físico ou sútil (plano mental, intelectual ou egoico) é controlado pela ação dos guṇas. Apenas a ātmā (alma) está livre do contato com os guṇas, mas sendo transcendental, ela nada faz em relação a realidade material, senão que vive a parte, embora aparentemente enredada.

O que gera a percepção de enredamento da ātmā é o ahaṅkāra, o egoísmo material/equívoco, que distorce a nossa percepção e nos faz pensar sermos os autores de todas as nossas ações. Com isso, acabamos envolvidos pelo drama da realidade material, assim como alguém que assiste um filme e sente todas as emoções que esse transmite, envolvendo-se completamente. O ahaṅkāra é, justamente o elemento que eclipsa a percepção da ātmā, enquanto consciência impassível. Por isso, na Gītā, Śrī Kṛṣṇa se refere aos seres condicionados pela matéria como ahaṅkāra-vimūḍhātmā (3.27), ou seja, "confusos pelo egoísmo material ou equívoco".

prakṛteḥ kriyamāṇāni
guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ
ahaṅkāra-vimūḍhātmā
kartāham iti manyate

“A alma, confusa pela influência do ahaṅkāra, pensa ser o autor das atividades que, na realidade, são conduzidas pelos três guṇas da natureza material”.

 

oṁ tat sat

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