Em vista das
dúvidas que algumas pessoas acabam tendo quando digo que misturar Parāśara e
Jaimini não dá certo nem é recomendado na literatura, eu decidi escrever esse
esclarecimento. No caso, é importante entender o que cada um desses dois
métodos de jyotiṣa tem como característico, antes de falarmos
sobre as misturas.
Parāśarī
jyotiṣa é, em outras palavras o método yavana (descrito no
Yavana jātaka, Bṛhat jātaka, Sārāvalī, Horā makaranda, etc.) reformado. O que
lhe distingue são os seguintes elementos:
Graha-dṛṣṭis – olhares dos grahas.
Udu-daśās – daśās calculadas a partir do nakṣatra ocupado por Chandra (Lua), como
é o caso da viṁśottarī, aṣṭottarī, kālachakra daśā, etc.
Upagrahas
–
grahas secundários, como Gulikā,
Dhūma, Upaketu, etc.
Yogas – gaja kesari, śaṅkhā, kāhala, Lakṣmī,
Sarasvatī yoga, etc.
Ṣaḍ-bala – cálculo de
forças.
Aṣṭakāvarga – cálculo aplicado
tanto a análise natal quanto também de trânsitos e daśās.
Natureza
funcional – análise da natureza dos grahas conforme a regência que adquirem.
Āyurdāya – o cálculo de
longevidade em Parāśara é baseado em uma técnica envolvendo os regentes de um,
oito e dez, assim como também nos métodos aṁśāyu,
nisargāyu, etc.
Em suma, isso é Parāśarī jyotiṣa, pois é exatamente assim que
Phaladīpikā, Jātaka pārījāta, Jātaka deśa marga, Sarvārtha chintāmaṇi e outros
textos ligados a essa tradição representam o método Parāśarī.
Agora, em relação a Jaimini, o que distingue o método são os seguintes elementos:
Rāśi-dṛṣṭis –
olhares dos signos.
Rāśi-daśās –
daśās baseadas em signos, invés de grahas.
Viśeṣa-lagnas –
ascendentes especiais, como horā lagna,
ghaṭikā lagna, tara lagna, indu lagna, tripravana lagna, navāṁśa sphuṭa lagna, etc.
Ārūḍhas –
extensões aplicadas na análise das casas.
Chara-kārakas –
significadores móveis, como ātmākāraka,
amatyakāraka, bhṛatṛ-kāraka, etc.
Svāṁśa – lagna derivado a partir do ātmākāraka.
Argalas – técnica que visa
qualificar o suporte recebido por um graha.
Nidhyatu/yogada –
graha de importância fundamental na
análise geral do mapa e que é determinado por meio de regras bem específicas.
Balas –
há quatro tipos distintos de cálculos de força (bala).
Natureza
intrínseca – em Jaimini o foco recai sobre a natureza
intrínseca dos grahas (benéfico ou
maléfico), invés da funcional, como é o caso em Parāśarī jyotiṣa.
Yogas – os yogas de Jaimini não são os mesmos de
Parāśara.
Āyurdāya – em Jaimini o
cálculo de longevidade é feito com base em técnicas como a dos três pares e
outras bem distintas das de Parāśara.
Chakras – diferentes formas
de se orientar na visualização do mapa, o que geralmente é usado mais para
cálculos, mas também chega a ser utilizado por alguns autores para a
interpretação.
Descritos os dois métodos,
agora posso dizer que misturar ambos é fazer coisas como: (1) usar rāśi-dṛṣṭis na análise da viṁśottarī daśā; (2) considerar na viṁśottarī daśā que o graha ativo é o ātmākāraka ou dārakāraka,
etc.; (3) usar um yoga de Jaimini na
predição de efeitos da viṁśottarī;
(4) usar rāśi-dṛṣṭis para identificar
yogas de Parāśara ou graha-dṛṣṭis para identificar yogas de Jaimini; (5) dar ênfase a
natureza funcional dentro da análise de Jaimini; (6) misturar os cálculos de
força de Parāśara em uma análise de Jaimini e vice-versa; (7) aplicar argalas em Parāśarī, sendo que a técnica
é usada apenas de forma bem específica em Jaimini; (8) identificar o nidhyatu-graha por meio de graha-dṛṣṭis.
Enfim, eu poderia escrever
mais algumas dezenas de exemplos, mas acho que isso é suficiente. Misturar é
algo altamente desaconselhável, já que inclusive não é algo que se vê entre
nenhum dos grandes nomes de ambas as tradições. Agora, comparar análises por
meio dos dois métodos não é errado. Pelo contrário, isso é seguido pelo K. N.
Rao e também era aplicado por Irangati Rangācharya. Porém, comparar é fazer a
análise por meio dos dois métodos, mas respeitando os seus limites, ou seja,
sem fazer essas misturas que citei acima.
Se alguém deseja aprender Parāśara, a recomendação é ler a Phaladīpikā e não o BPHS. O BPHS deve ser lido por último, do contrário, a pessoa não vai saber distinguir quais são as interpolações de Jaimini que estão ali presentes. Da mesma forma, se alguém deseja aprender Jaimini, não deve considerar o BPHS como referência, senão que deve focar no Jātaka sāra saṅgraha. Claro que há outros textos tanto em Parāśarī jyotiṣa quanto em Jaimini, mas esses dois textos que citei, a Phaladīpikā e o Jātaka sāra saṅgraha, são as melhores referências para quem quer desenvolver o discernimento sobre o que é Parāśara e o que é Jaimini. O resto é especialização...
oṁ tat sat
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