sexta-feira, 2 de abril de 2021

Quais são afinal as diferenças entre Parāśara e Jaimini?

Em vista das dúvidas que algumas pessoas acabam tendo quando digo que misturar Parāśara e Jaimini não dá certo nem é recomendado na literatura, eu decidi escrever esse esclarecimento. No caso, é importante entender o que cada um desses dois métodos de jyotiṣa tem como característico, antes de falarmos sobre as misturas.

Parāśarī jyotiṣa é, em outras palavras o método yavana (descrito no Yavana jātaka, Bṛhat jātaka, Sārāvalī, Horā makaranda, etc.) reformado. O que lhe distingue são os seguintes elementos:

Graha-dṛṣṭis olhares dos grahas.

Udu-daśās daśās calculadas a partir do nakṣatra ocupado por Chandra (Lua), como é o caso da viṁśottarī, aṣṭottarī, kālachakra daśā, etc.

Upagrahas – grahas secundários, como Gulikā, Dhūma, Upaketu, etc.

Yogas gaja kesari, śaṅkhā, kāhala, Lakṣmī, Sarasvatī yoga, etc.

Ṣaḍ-bala cálculo de forças.

Aṣṭakāvarga cálculo aplicado tanto a análise natal quanto também de trânsitos e daśās.

Natureza funcional – análise da natureza dos grahas conforme a regência que adquirem.

Āyurdāya o cálculo de longevidade em Parāśara é baseado em uma técnica envolvendo os regentes de um, oito e dez, assim como também nos métodos aṁśāyu, nisargāyu, etc.

Em suma, isso é Parāśarī jyotiṣa, pois é exatamente assim que Phaladīpikā, Jātaka pārījāta, Jātaka deśa marga, Sarvārtha chintāmaṇi e outros textos ligados a essa tradição representam o método Parāśarī.

Agora, em relação a Jaimini, o que distingue o método são os seguintes elementos:

Rāśi-dṛṣṭis – olhares dos signos.

Rāśi-daśāsdaśās baseadas em signos, invés de grahas.

Viśeṣa-lagnas – ascendentes especiais, como horā lagna, ghaṭikā lagna, tara lagna, indu lagna, tripravana lagna, navāṁśa sphuṭa lagna, etc.

Ārūḍhas – extensões aplicadas na análise das casas.

Chara-kārakas – significadores móveis, como ātmākāraka, amatyakāraka, bhṛatṛ-kāraka, etc.

Svāṁśa lagna derivado a partir do ātmākāraka.

Argalas – técnica que visa qualificar o suporte recebido por um graha.

Nidhyatu/yogadagraha de importância fundamental na análise geral do mapa e que é determinado por meio de regras bem específicas.

Balas – há quatro tipos distintos de cálculos de força (bala).

Natureza intrínseca – em Jaimini o foco recai sobre a natureza intrínseca dos grahas (benéfico ou maléfico), invés da funcional, como é o caso em Parāśarī jyotiṣa.

Yogas os yogas de Jaimini não são os mesmos de Parāśara.

Āyurdāya em Jaimini o cálculo de longevidade é feito com base em técnicas como a dos três pares e outras bem distintas das de Parāśara.

Chakras diferentes formas de se orientar na visualização do mapa, o que geralmente é usado mais para cálculos, mas também chega a ser utilizado por alguns autores para a interpretação.

Descritos os dois métodos, agora posso dizer que misturar ambos é fazer coisas como: (1) usar rāśi-dṛṣṭis na análise da viṁśottarī daśā; (2) considerar na viṁśottarī daśā que o graha ativo é o ātmākāraka ou dārakāraka, etc.; (3) usar um yoga de Jaimini na predição de efeitos da viṁśottarī; (4) usar rāśi-dṛṣṭis para identificar yogas de Parāśara ou graha-dṛṣṭis para identificar yogas de Jaimini; (5) dar ênfase a natureza funcional dentro da análise de Jaimini; (6) misturar os cálculos de força de Parāśara em uma análise de Jaimini e vice-versa; (7) aplicar argalas em Parāśarī, sendo que a técnica é usada apenas de forma bem específica em Jaimini; (8) identificar o nidhyatu-graha por meio de graha-dṛṣṭis.

Enfim, eu poderia escrever mais algumas dezenas de exemplos, mas acho que isso é suficiente. Misturar é algo altamente desaconselhável, já que inclusive não é algo que se vê entre nenhum dos grandes nomes de ambas as tradições. Agora, comparar análises por meio dos dois métodos não é errado. Pelo contrário, isso é seguido pelo K. N. Rao e também era aplicado por Irangati Rangācharya. Porém, comparar é fazer a análise por meio dos dois métodos, mas respeitando os seus limites, ou seja, sem fazer essas misturas que citei acima.

Se alguém deseja aprender Parāśara, a recomendação é ler a Phaladīpikā e não o BPHS. O BPHS deve ser lido por último, do contrário, a pessoa não vai saber distinguir quais são as interpolações de Jaimini que estão ali presentes. Da mesma forma, se alguém deseja aprender Jaimini, não deve considerar o BPHS como referência, senão que deve focar no Jātaka sāra saṅgraha. Claro que há outros textos tanto em Parāśarī jyotiṣa quanto em Jaimini, mas esses dois textos que citei, a Phaladīpikā e o Jātaka sāra saṅgraha, são as melhores referências para quem quer desenvolver o discernimento sobre o que é Parāśara e o que é Jaimini. O resto é especialização...


oṁ tat sat

Nenhum comentário:

Postar um comentário