sexta-feira, 23 de abril de 2021

Como progredir nos estudos de jyotiṣa?

Tenho uma fórmula muito boa para quem deseja progredir no estudo do jyotiṣa. O primeiro passo é se informar se você possui boas configurações para isso no seu mapa, o que é muito importante. O segundo passo é estudar algum texto contemporâneo que dê uma boa introdução ao tema, como é o caso do Light on Life do Robert Svoboda & Hart de Fouw, o Elements of vedic astrology do Dr. K. S. Charak, o How to judge a horoscope do B. V. Raman ou o Learn hindu astrology easily do K. N. Rao.

O terceiro passo é adentrar os clássicos, idealmente sob a orientação de algum professor que possa te ajudar a abreviar a sua passagem pelas sentenças conflituosas da literatura e iluminar os significados de certas técnicas e conceitos. Inicialmente é importante focar apenas em um professor e, depois, adquirindo mais discernimento, a pessoa também pode aprender com muitos outros sem acabar confusa. O professor te dá um atalho de anos e pode poupar muito desgaste desnecessário nos seus estudos. Porém, é preciso buscar alguém que ensine de acordo com os clássicos. O problema é que para saber se ele realmente procede dessa forma você terá não só que exigir referências como também estudar a literatura clássica. Pois então, quais textos seriam importantes? Existem inúmeros, mas quatro deles são fundamentais na tradição, de acordo com os pāṇḍitas (eruditos) em jyotiṣa. O primeiro texto é o Bṛhat jātaka (séc. VI) de Varāharamihira, o segundo é a Sārāvalī (séc. X) de Kalyāna Varma, o terceiro é a Phaladīpikā (séc. XV) e o quarto é o Jātaka pārījāta (XV). O já póstumo Madhura Krishnamurthy Shastry, um pāṇḍita muito respeitado do jyotiṣa, classificou o Bṛhat jātaka e a Sārāvalī como textos de yavana jyotiṣa, o jyotiṣa que possui mais características yavanas (estrangeiras) e cujo primeiro modelo textual foi o Yavana jātaka (séc. II) de Sphujidhvaja. No caso, o Bṛhat jātaka é uma versão mais concisa de yavana jyotiṣa, enquanto a Sārāvalī é uma versão bem mais extensa, com descrições elaboradas dos grahas nas casas, signos, das conjunções e vários outros fundamentos.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Suicídio é algo externo as promessas do mapa?

O suicídio é algo que faz algumas pessoas pensarem: “Bem, isso o mapa não revela”, mas não, o suicídio também faz parte das promessas de um mapa. Todas as coisas negativas que vivenciamos, na verdade, são resultantes de vikarma, as ações impiedosas realizadas em vida pregressa. Essas ações, basicamente dão força aos cinco kleśas (aflições): avidya (ignorância), asmita (egoísmo), raga (apego), dveśa (aversão) e abhiṇiveśa (medo da morte/absorção no corpo). No caso do suicídio, ele é perpetrado quando a consciência está predominada por esses kleśas, ou seja, ela adquire uma expressão tamasika (obscura e ignorante), que leva ao ato de atentar contra a própria vida.

Todos os casos de suicídios que estudei apresentam padrões similares, que também aparecem em outros casos envolvendo mortes violentas ou que não são naturais. Porém, há um elemento distintivo em relação aos casos de suicídio: eles costumam estar acompanhados de unmada yogas, configurações de insanidade/desequilíbrio psicológico. Essas configurações podem ser Chandra (Lua) severamente aflita, krūra-grahas (maléficos) em koṇas (5-9), aflições a cinco e seu regente, etc.

sábado, 17 de abril de 2021

Regências e dignidades para Rāhu e Ketu

Em Jaimini, no contexto do cálculo das daśās e também para a determinação da longevidade, considera-se que Rāhu e Ketu teriam regências. Rāhu seria o regente de aquário, enquanto Ketu, de escorpião. Isso é citado por Raghavabhāṭṭa em seu Jātaka sāra saṅgraha, além de aparecer também no Vanchināthīyam e no Vṛddha kārikā, que é a principal referência para compreender o Upadeśa sūtra de Jaimini.

Essa ideia, no entanto, não é aplicada no contexto da interpretação do mapa. Isso é algo que todo praticante de Jaimini que tenha estudado esses textos sabe, pois diferente de Parāśara jyotiṣa, em Jaimini nós não temos apenas textos que instruem sobre técnicas, mas também textos que dão exemplos práticos com mapas reais. Como nenhum dos exemplos práticos incorpora as regências de Rāhu e Ketu para interpretação e como os autores que citam o conceito não instruem que ele deve ser aplicado no contexto da interpretação, fica claro que a ideia é limitar a técnica a situações específicas. Isso também foi seguido por autoridades recentes, como Iraganti Rangācharya, Madhura Kṛṣṇamūrti, etc.

Inclusive, outra questão interessante é que em Jaimini, considera-se que Ketu se exalta em leão e se debilita em aquário, enquanto Rāhu se exalta em escorpião e se debilita em touro. Essa visão é corroborada pelas mesmas fontes que citei aqui, sendo que há ainda uma tradução do Jātaka sāra saṅgraha que inverte essas dignidades de Rāhu e Ketu, algo que não aparece nos outros textos. Porém, devo admitir que eu não acredito no uso de dignidades para os nodos, já que na literatura de jyotiṣa além de haver muitas discordâncias sobre o assunto, há também um enorme número de astrólogos clássicos que, assim como eu, não consideram dignidades ou mesmo regências para os nodos.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Vaiśeṣikāṁśas e o mapa de Johannes Kepler


Os vaiśeṣikāṁśas ou divisões de excelência, levam em conta o número de vargas em que um graha ocupa suas dignidades, ou seja: uccha (exaltação), mūlatrikoṇa e svakṣetra (domicílio). Para cada varga que um graha ocupe tais divisões, um ponto lhe é acrescentado. De acordo com o número de divisões que um graha obtém, determinados títulos lhe são conferidos. Os efeitos do mesmo podem ser interpretados com base nesses títulos. Tal técnica aparece pela primeira vez entre os séculos VI e VIII, no Bṛhat Parāśara horā śāstra, ao que tudo indica. Os vaiśeṣikāṁśas também aparecem na Phaladīpikā, no Jātaka pārījāta e no Sarvārtha chintāmaṇi, os quais usavam daśavarga, ou seja, dez vargas para a análise de vaiśeṣikāṁśa: rāśi, horā, drekkāṇa, saptāṁśa, navāṁśa, daśaṁśa, dvadāśāṁśa, ṣoḍaśāṁśa, triṁśaṁśa e ṣaṣṭyāṁśa. 

Os títulos que um graha ganha quando ocupa de dois a nove vargas próprios são pārījātāṁśa, uttamāṁśa, gopurāṁśa, siṁhāsanāṁśa, parvatāṁśa, devalokāṁśa, suralokāṁśa e airavatāṁśa. O décimo varga, o ṣaṣṭyāṁśa, não compreende signos em suas divisões, mas sim divindades, logo, não há como um graha deter dignidade no mesmo, daí de só haver nove vaiṣeśikāṁśas possíveis, invés de dez.

Alguns exemplos de ślokas clássicos que citam os vaiṣeśikāṁśas são:

"O indivíduo será devotado a ontologia se Júpiter ocupar um kendra ou koṇa sob o olhar de Mercúrio e Vênus, enquanto Saturno detém paravatāṁśa (Jātaka pārījāta, 11.85)." 

"Quando Júpiter ocupa um kendra, Vênus detém siṁhāsanāṁśa e Mercúrio, sendo senhor do navāṁśa ocupado pelo senhor de dois, detém gopurāṁśa, o indivíduo será proficiente nos seis vedāṅgas - śikṣā, chandas, vyākaraṇa, nirukta, kalpa e jyotiṣa (JP, 11.86)." 

"Se o senhor da dois detém gopurāṁśa e Vênus parvatāṁśa, todos aqueles que viverem sob a proteção do indivíduo prosperarão e serão felizes (JP, 11.87)." 

"O senhor da cinco em uma casa auspiciosa e a deter vaiśeṣikāṁśa faz do indivíduo inteligente e sincero (Phaladīpikā, 16.15)." 

"Se o Sol detém devalokāṁśa e o lagneśa está forte, enquanto o senhor da nove ocupa a sua exaltação, o indivíduo será famoso e afortunado (Sarvātha chintāmaṇi, 02.71)." 

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Júpiter em aquário age como se estivesse exaltado (em câncer)?

Já que Júpiter finalmente ingressou aquário e há pessoas em dúvida sobre os resultados desse posicionamento, vou aproveitar para esclarecer a afirmação controversa de Varāhamihira (século V) que é causa de tais dúvidas. Basicamente, ele diz o seguinte:

"Júpiter em aquário produz os mesmos resultados de Júpiter em câncer. – Bṛhat Jātaka"

Ou seja, ele afirma que Júpiter em aquário age como exaltado. Mas veja agora o que o próprio Varāhamihira diz sobre Júpiter em câncer:

"...será abençoado com joias, filhos, riqueza, esposa, poder, inteligência e confortos. – Bṛhat Jātaka"

Em tese, seria isso que Júpiter em aquário ofereceria, mas o problema é que na prática os resultados de um Júpiter em câncer são muito distintos dos de Júpiter em aquário, o que fica ainda mais claro quando comparamos os resultados desses em ângulos. Mas nem será o caso de fazer isso aqui. Vamos apenas comparar o que outros autores dizem sobre ambos os posicionamentos, a começar por Júpiter em câncer:

"Aquele que possui Júpiter em câncer será um erudito, belo, alguém altamente instruído, caridoso, de uma natureza benevolente, muito forte, famoso, possuirá grãos em abundancia e riquezas. Além disso, será veraz e dado a realizar penitências, terá filhos longevos, será honrado por todos, um rei, terá uma profissão distinta e será apegado a seus amigos. –Sārāvalī"

“O indivíduo com Júpiter em câncer adquirirá uma grande variedade de riquezas e seu trabalho progredirá bem. Ele será bem versado nos śāstras, assim como em diferentes artes, se mostrará um orador astuto, talentoso e possuirá cavalos e elefantes. – Mānsagari"

"Aquele que nasce com Júpiter em câncer será sábio e terá muitos filhos. – Jātaka-pārijāta"

Já em relação aos resultados de Júpiter em aquário, os autores posteriores à Varāhamihira dizem o seguinte:

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Uma análise do mapa do Ayrton Senna


A pedido, vou apresentar aqui o que vejo sobre a partida precoce do Ayrton Senna, assim como também sobre o seu talento e renome. Começando pela questão da longevidade, o primeiro ponto é que ele tem dois benéficos, a Lua e Júpiter, na doze, um dusthāna. Isso por si só já um indicativo negativo para a longevidade, mas que deve ser relacionado a outros pontos. 

Como o regente do ascendente dele, Saturno, também ocupa a doze e ainda aflige os benéficos, temos um testemunho ainda mais negativo para a longevidade. Os senhores de um, oito e dez também não estão posicionados de forma ideal, como é demandado em um método de análise de longevidade citado na literatura. Isso é agravado pelo fato do Ayrton ter apenas maléficos ocupando kendras e koṇas. No ascendente ele tem Marte, enquanto na nove ele tem Rāhu.

Em relação ao Marte, o fato dele estar forte em um ângulo é um testemunho comum para mortes violentas, rápidas, que envolvem fogo, acidentes, etc., como já testemunhei em muitos casos, além de ser também algo pontuado na literatura clássica. Mas há algo mais: para o ascendente do Ayrton, Marte é o bādhakeśa, além de ser, nesse caso, dispositor de Gulikā. Pulippani cita em seu Pulippani Jothidam que o bādhakeśa em ângulo é especialmente indesejável, ao passo que Vaidyānatha cita como indesejável ter Gulikā relacionado ao bādhaka ou ao bādhakeśa, algo que ocorre nesse caso e só reforçou o testemunho negativo de seu Marte angular. Como Marte olha a oitava casa, deixa evidente que sua morte estaria relacionada a algo da natureza do mesmo: um acidente.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Um estudo da daśā atual de Michael Schumacher

 

Estava estudando o mapa de Michael Schumacher, tentando entender o que levou ele a ficar na situação que se encontra agora, completamente paralisado. Me surpreendi com o que encontrei. Ele está vivendo a daśā de Mercúrio desde 2008, sendo esse um māraka que forma uma conjunção estreita com Gulikā no bādhaka-sthana. Mercúrio ainda está recebendo o olhar de Júpiter, que é regente de oito e do próprio drekkāṇa da oito. Vaidyanātha chega a citar no Jātaka pārījāta que quando Gulikā ou o regente do drekkāṇa da oito se relaciona com o bādhaka ou com o bādhakeśa, isso gera efeitos muito adversos, o que inclui naturalmente doenças, acidentes e situações de aprisionamento.

Schumacher não só tem a configuração citada por Vaidyanātha, como ela ainda envolve um māraka. A partir da Lua, Mercúrio é o seu dispositor colocado na oito, outra indicação forte para um evento desastroso. Também é importante notar que Mercúrio ainda é dispositor de Júpiter, o regente de oito, e está sob o olhar de Marte, um māraka, senhor de doze (privações) e significador natural de acidentes.

Mas uma coisa que me chamou bastante a atenção também é o fato dele ter a conjunção de Saturno e Rāhu, ainda que com uma orbe folgada. Essa conjunção produz problemas de natureza vāta e, embora ele tenha se acidentado, isso comprometeu o seu movimento e fala, duas funções vāta. A conjunção de Saturno e Rāhu ainda está situada exatamente a meio caminho da oposição do Sol e da Lua, o que tenho certeza, é outro fator decisivo que influenciou o seu quadro atual. Isso ainda é reforçado pelo fato de Saturno ser o bādhakeśa, que além de conjunto a Rāhu, está sob influência do regente de oito e é o dispositor de Gulikā. Ou seja, temos praticamente a mesma indicação do bādhaka-sthana se repetindo com o bādhakeśa.

 

oṁ tat sat

segunda-feira, 5 de abril de 2021

O regente do ano também é considerado no jyotiṣa?

Todos os anos vejo as pessoas citarem: “Esse é o ano do Sol”, “Ah, agora estamos sob a regência de Saturno”, “Agora com o ano da Lua, as pessoas ficarão mais sensíveis”, e coisas do tipo. Alguns até chegam a me perguntar se no jyotiṣa isso também é válido, pois essas regências são citadas pelos astrólogos modernos, em geral.

A verdade é que no jyotiṣa o conceito de regente do ano existe, sim. Bṛhat saṁhitā e Kālaprakaśika são dois textos clássicos que citam essa ideia, porém, seus métodos são divergentes e poucos astrólogos levam isso realmente a sério, pois é de natureza muito generalista.

A melhor maneira de se determinar o regente do ano, seria tomando por referência algo mais específico, como um país ou um indivíduo. No caso dos países, o método pode variar e ser bem complicado, mas no caso dos indivíduos, há um método simples e eficiente. Em Jaimini jyotiṣa eles denominam o senhor do ano como sendo o varṣācharya (vide Jātaka sāra saṅgraha), em tājika ele é inferido por meio do muntha, enquanto em Parāśara ele seria determinado por meio da técnica de sudarṣana-chakra.

Há algumas diferenças entre esses métodos, porém, o que julgo mais eficiente é o de Jaimini (o qual não difere em essência do método de Parāśara), que é, inclusive, o mesmo utilizado pela maior parte dos astrólogos helenísticos e medievais. Nesse método, o senhor do ano seria o senhor do signo destacado pela progressão anual, onde a cada ano o ascendente move um signo. Logo, de 0-1 ano de idade o senhor do ano é o senhor do ascendente, de 1-2 é o da casa dois, de 2-3 é o da casa três, e assim por diante.

Uma forma simples de calcular o varṣācharya é tomar a idade do indivíduo, subtrair múltiplos de 12 e acrescentar 1 ao que resta. Por exemplo, se alguém está com 32 anos, subtraindo múltiplos de 12 teremos 32 - 24 = 8, acrescentando +1 teremos 9, logo o senhor do ano seria, nesse caso, o senhor da nona casa. 

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Quais são afinal as diferenças entre Parāśara e Jaimini?

Em vista das dúvidas que algumas pessoas acabam tendo quando digo que misturar Parāśara e Jaimini não dá certo nem é recomendado na literatura, eu decidi escrever esse esclarecimento. No caso, é importante entender o que cada um desses dois métodos de jyotiṣa tem como característico, antes de falarmos sobre as misturas.

Parāśarī jyotiṣa é, em outras palavras o método yavana (descrito no Yavana jātaka, Bṛhat jātaka, Sārāvalī, Horā makaranda, etc.) reformado. O que lhe distingue são os seguintes elementos:

Graha-dṛṣṭis olhares dos grahas.

Udu-daśās daśās calculadas a partir do nakṣatra ocupado por Chandra (Lua), como é o caso da viṁśottarī, aṣṭottarī, kālachakra daśā, etc.

Upagrahas – grahas secundários, como Gulikā, Dhūma, Upaketu, etc.

Yogas gaja kesari, śaṅkhā, kāhala, Lakṣmī, Sarasvatī yoga, etc.

Ṣaḍ-bala cálculo de forças.

Aṣṭakāvarga cálculo aplicado tanto a análise natal quanto também de trânsitos e daśās.

Natureza funcional – análise da natureza dos grahas conforme a regência que adquirem.

Āyurdāya o cálculo de longevidade em Parāśara é baseado em uma técnica envolvendo os regentes de um, oito e dez, assim como também nos métodos aṁśāyu, nisargāyu, etc.

Em suma, isso é Parāśarī jyotiṣa, pois é exatamente assim que Phaladīpikā, Jātaka pārījāta, Jātaka deśa marga, Sarvārtha chintāmaṇi e outros textos ligados a essa tradição representam o método Parāśarī.

Agora, em relação a Jaimini, o que distingue o método são os seguintes elementos:

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Um esclarecimento sobre os argalas

O conceito dos argalas é um dos menos explorados pelos astrólogos em geral. Além disso, há muitos equívocos quanto a sua utilização. Visando esclarecer isso, decidi escrever esse artigo, mas que já alerto, se destina a estudantes mais avançados ou aqueles que já tiveram algum contato com a técnica, mas ainda não sabem como ela realmente deve ser aplicada.

Em primeiro lugar, argala só foi realmente incorporado e praticado dentro do método de Jaimini, pois você não encontra essa técnica em nenhum dos textos da tradição Parāśarī. Quem afirma que no BPHS argala é citado, inclusive, provavelmente não sabe que o BPHS de hoje está cheio de interpolações, capítulos faltando e, em vista desses problemas, não é aceito como uma autoridade perfeita e inquestionável, especialmente no que se refere a Jaimini jyotiṣa. A primeira versão do BPHS, dos séculos VI-VIII, não cita argalas no seu índice, que foi por sinal apresentado pelo David Pingree em seu Jyotiḥ-śāstra, um respeitadíssimo livro acadêmico sobre a história da astrologia e astronomia na Índia.

Argala, na verdade, é um conceito que foi apresentado no Upadeśa sūtra (2.1.5-10) de Jaimini e expandido no Jyotiṣa phala ratna mala, Jyotiḥ pradīpikā e no Jātaka sāra saṅgraha, dentre outros textos da tradição de Jaimini jyotiṣa. Porém, a sua utilização não é tão simples, já que há muitas considerações a seu respeito e, inclusive, algumas divergências mesmo entre os autores clássicos sobre um ponto ou outro. No meu caso, a perspectiva que uso, depois de ter estudado suas variantes, foi a que aprendi com o Shanmukha Teli. Essa perspectiva é fiel as ideias clássicas, especialmente do JPRM e do JSS, já que o Jyotiḥ pradīpikā parte de ideias únicas sobre o assunto, mas pouco populares.

Esse artigo, no entanto, não visa ensinar como usar os argalas, pois considero que, ainda mais se tratando de argalas, meio conhecimento é mais perigoso que conhecimento algum. Jaimini não é tão fácil de apreender quando Parāśara (que por sinal já é muito difícil). Muito menos é um método que dá para discorrer facilmente por meio de posts na internet. Minha intenção com relação a esse artigo é simplesmente mostrar o que não é a abordagem clássica dos argalas e dar um indício de como essa técnica foi usada na tradição de Jaimini jyotiṣa. Se alguém a partir disso ainda assim decidir seguir uma visão outra, isso já é uma opção pessoal. O importante é ter consciência de como o conceito foi apresentado em Jaimini jyotiṣa.