Todos
os anos vejo as pessoas citarem: “Esse é o ano do Sol”, “Ah, agora estamos sob
a regência de Saturno”, “Agora com o ano da Lua, as pessoas ficarão mais
sensíveis”, e coisas do tipo. Alguns até chegam a me perguntar se no jyotiṣa isso também é válido, pois essas
regências são citadas pelos astrólogos modernos, em geral.
A
verdade é que no jyotiṣa o conceito
de regente do ano existe, sim. Bṛhat saṁhitā e Kālaprakaśika são dois textos
clássicos que citam essa ideia, porém, seus métodos são divergentes e poucos
astrólogos levam isso realmente a sério, pois é de natureza muito generalista.
A
melhor maneira de se determinar o regente do ano, seria tomando por referência
algo mais específico, como um país ou um indivíduo. No caso dos países, o
método pode variar e ser bem complicado, mas no caso dos indivíduos, há um
método simples e eficiente. Em Jaimini jyotiṣa
eles denominam o senhor do ano como sendo o varṣācharya
(vide Jātaka sāra saṅgraha), em tājika
ele é inferido por meio do muntha,
enquanto em Parāśara ele seria determinado por meio da técnica de sudarṣana-chakra.
Há algumas diferenças entre esses métodos, porém, o que julgo mais eficiente é o de Jaimini (o qual não difere em essência do método de Parāśara), que é, inclusive, o mesmo utilizado pela maior parte dos astrólogos helenísticos e medievais. Nesse método, o senhor do ano seria o senhor do signo destacado pela progressão anual, onde a cada ano o ascendente move um signo. Logo, de 0-1 ano de idade o senhor do ano é o senhor do ascendente, de 1-2 é o da casa dois, de 2-3 é o da casa três, e assim por diante.
Uma forma simples de calcular o varṣācharya é tomar a idade do indivíduo, subtrair múltiplos de 12 e acrescentar 1 ao que resta. Por exemplo, se alguém está com 32 anos, subtraindo múltiplos de 12 teremos 32 - 24 = 8, acrescentando +1 teremos 9, logo o senhor do ano seria, nesse caso, o senhor da nona casa.
O
senhor do ano pode ser considerado relevante tanto no que se refere a sua
posição natal e as configurações em que se encontra envolvido, como também no
contexto dos trânsitos e do varṣaphala,
a revolução solar específica desse ano em questão.
Um evento relevante em sua vida é o seu casamento, que ocorreu aos 22 anos de idade, ano em que o varṣācharya era Sūrya (Sol) e o varṣa-rāśi (signo do ano), portanto, era leão. Note que leão está ocupado por Maṅgala (Marte), o regente da sete (casamento), enquanto Sūrya está conjunto a Śukra (Vênus), o significador natural de casamento.
Aos
seus 72 anos, Drummond foi agraciado com o grau de grande oficial da ordem militar
de Sant’iago da Espada, de Portugal. Nesse ano, o senhor era Śukra e, o signo
do ano era libra. Note que em libra estão Śukra, Sūrya, Chandra (Lua) e Rāhu, o
que ativa um rāja yoga significativo,
daí dele ter recebido um título importante no ano.
Por
fim, a sua morte se deu quando ele tinha 84 anos. O senhor do ano era mais uma
vez Śukra, e o signo do ano, libra. Como Śukra é o senhor da oito (morte) e
ocupa libra, a morte faz sentido. Mais ainda, Śukra é o senhor do ascendente
(saúde) e está aflito por Sūrya e Rāhu, que o cercam, sendo que Sūrya está tão
próximo, que Śukra fica combusto, enquanto Rāhu é um māraka (assassino) natural a causar um eclipse solar, nesse caso.
Esse
breve exemplo já nos mostra quão útil o varṣācharya
pode ser na predição de eventos. Somado a outras técnicas como viṁśottarī, trânsito, etc., ele ajuda
muito a refinar predições para a faixa de um ano.
oṁ
tat sat
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