terça-feira, 29 de agosto de 2017

Desmistificando o Maṅgala doṣa

Resultado de imagem para indian weddingMaṅgala doṣa, também chamado de Kuja doṣa foi uma das primeiras coisas que li a respeito quando conheci o jyotiṣa. É dito que aqueles que possuem Maṅgala (Marte) em um, dois, quatro, sete, oito ou doze a partir do lagna viverão um matrimônio infeliz, se divorciarão ou ficarão viúvos.

É fácil de entender o porquê dessa afirmação, afinal, Maṅgala é um graha ígneo e dos maléficos, o mais cruel. Além disso, é dominador, individualista e naturalmente inclinado a agressividade e a arrogância. Em relacionamento algum essas características são apreciáveis, pois vão completamente de encontro com as características de Śukra (Vênus), o kāraka do matrimônio, que é diplomático, pacífico e agradável.

Resta, no entanto, saber qual seria a referência clássica para o Maṅgala doṣa, pois muitos acreditam que se trata de uma invenção moderna, o que não é verdade - exceto pelo fato de que a designação desse yoga enquanto um doṣa (uma desarmonia, tal qual nascer no penúltimo ou no último dia lunar, em eclipses, etc.) é fruto da liberdade tomada pelos astrólogos contemporâneos. Quem menciona o Maṅgala doṣa é Parāśara, o qual diz o seguinte (80.47-49, BPHS):

"Uma mulher que nasce com Maṅgala em doze, quatro, sete ou oito a partir do lagna, sem a influência de um benéfico se tornará viúva.

Esse yoga se aplica também aos homens. No entanto, se ambos, marido e mulher possuem o mesmo yoga, seus efeitos cessarão".

Essa afirmação está no cp. de strī jātaka, horóscopo feminino, do horā śāstra, o qual é inteiro dedicado a determinar as características femininas, pois na tradição védica o casamento idealmente só deve ocorrer uma vez na vida e, portanto, o homem deve saber escolher corretamente a mulher com quem irá se casar e vice-versa.

domingo, 27 de agosto de 2017

Os fantasmas dentro da perspectiva do Jyotiṣa

Nṛsīmha, divindade que afasta fantasmas
Os espíritos/fantasmas são comuns em todas as culturas, inclusive na indiana. Nela, eles são chamados de bhūtas. Um bhūta é um ser que, após a morte, não conseguiu transmigrar para um plano superior ou inferior[1] e muito menos reencarnar ou alcançar mokṣa (a libertação).

As razões que levam um ser a assumir a forma de um bhūta são basicamente morte violenta e traumática, questões que ficaram mal resolvidas ao longo do período em que estava encarnado (e que o mantém apegado a esse mundo) ou a negligência de seus parentes em realizar as suas cerimônias de passagem, chamadas de śraddhā[2].

Uma vez que permanecem apegados a esse mundo, mas destituídos de uma forma física, os bhūtas acabam assombrando lugares e pessoas, geralmente porque querem se vingar de alguém, alcançar seus desejos mal resolvidos, satisfazer anseios sexuais, causar danos a outros, sugar aqueles que possuem uma vibração positiva mas que ainda são imaturos e desprotegidos, controlar e induzir pessoas que tem uma propensão maior a ira e outros sentimentos negativos ou aproximar-se de pessoas a quem mantém vínculos ou que possuem vibração semelhante, ou seja, que estão sob a influência de tamas[3] (a obscuridade), como alcoólatras, drogados, assíduos comedores de carne e pessoas inertes, de mentalidade torpe e obscura.

sábado, 26 de agosto de 2017

A relação do lagna com o corpo

lagna (ascendente) é relacionado ao corpo, no entanto, esse não é o entendimento mais apropriado a respeito, pois na verdade o lagna só se relaciona com o corpo porque ele representa o crânio e o cérebro, a sede da inteligência, sem a qual não podemos viver de forma saudável.

A totalidade do corpo é descrita ao longo de todas as casas e não apenas do lagna. Por exemplo, a face e o pescoço são estudados através da dois, os ombros, braços e mãos por meio da três, etc.

No āyurveda é dito que existem três formas pelas quais a saúde é afetada: kāla parinama (mudanças relativa aos ciclos naturaism, como o das estações, por exemplo), prajñāparadha (falhas de julgamento) e asatmyendriyartha (uso nocivo dos sentidos). 

lagna descreve especialmente prajñāparadha, ou seja, erros de julgamento que levam ao adoecimento, como ignorar os sinais que o próprio corpo dá, por exemplo, cultivando hábitos e um estilo de vida nocivo a saúde. É por conta disso que o lagna é relacionado a saúde e não porque ele representaria o corpo como um todo.

Um graha fraco e relacionado ao lagna indica prajñāparadha em relação aos seus temas (órgãos, doṣa, etc.), um lagneśa (senhor do lagna) fraco indicará o mesmo. Por exemplo, no mapa abaixo, Maṅgala (Marte) ocupa o lagna e aflige também o senhor do lagna, Śani (Saturno), por meio do seu olhar. Essa pessoa, portanto, está sujeita a pitta doṣa, desequilíbrios da sua função metabólica, o que também se refletiria em um humor irritadiço.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Guru (Júpiter)

Na Índia, Júpiter é chamado de Guru, que superficialmente significa "professor". O seu significado mais profundo, no entanto, é expresso na Advayatārakopaniṣad, que diz:

गुरुभक्तिसमायुक्तः पुरुष्ज्ञो विशेषतः।
gurubhaktisamāyuktaḥ puruṣjño viśeṣataḥ |

एवं लक्षणसंपन्नो गुरुरित्यभिधीयते॥ १५॥
evaṁ lakṣaṇasaṁpanno gururityabhidhīyate || 15||

A sílaba "gu" significa escuridão e "ru", aquele que dispersa. Portanto, quem tem tal poder de dispersar a escuridão da ignorância é um guru.

Logo, alguém capaz de guiar um indivíduo da treva de tamas (inércia, escuridão, ignorância) a luminosidade de sattva (bondade, equilíbrio, conhecimento) pode ser chamado de guru. No entanto, guru também pode se referir a alguém que remove nossas dúvidas quanto a um determinado ramo de conhecimento, não necessariamente espiritual.

Outra tradução da palavra guru é "pesado", referindo-se ao fato de um guru deter vasto conhecimento e estar firmemente alicerçado na verdade absoluta, ou seja, ele é um tattva-darśī (um vidente da verdade). De um ponto de vista mundano, qualquer pessoa que tenha vasta experiência e conhecimento em um determinado tema também pode ser considerado um guru, ou seja, um mestre.

Astrologicamente, Júpiter é quem personifica todas essas características. Inclusive, ele é o único graha exclusivamente kapha, ou seja, que partilha das características desse doṣa como ser pesado, macio, untuoso, doce e estático, o que favorece a sua natureza benevolente, tolerante e pacífica, uma vez que kapha é um doṣa mais associado as características femininas, pois combina dois elementos femininos em si: a água e a terra.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Māhamṛtyunjāya mantra

No seu horā śāstra, Parāśara diz que quando o indivíduo vive a daśā de um graha que ocupa ou rege a dois ou a sete, ou mesmo se relaciona com os regentes dessas duas casas, o indivíduo correrá riscos de vida ou experimentará sofrimentos e agonias semelhantes aos da morte. Isso se deve ao fato das casas dois e sete serem a doze da três e da oito, respectivamente, casas que falam sobre āyur, a longevidade. Portanto, dois e sete tratam da perda da longevidade e são denominadas mārakas (assassinas) nos textos clássicos.

Na minha prática atestei que, de fato, um indivíduo morrerá ou passará por dificuldades de saúde e temores durante as daśās acima mencionadas. Aqueles que tem indicações de vida curta (alpāyu) costumam abandonar o corpo na terceira daśā (vipat-tāra), os que tem vida média (madhyāyu), na quinta daśā (pratyak-tāra) e os de vida longa (pūrṇāyu) na oitava daśā (naidhana-tāra). Isso, obviamente, quando tais daśās estão de acordo com os princípios acima mencionados e há também uma confluência de fatores negativos, como trânsitos e indicações por parte de outras daśās tais como a śūla daśā.

No entanto, tendo em vista que determinar a extensão da longevidade (āyu-kandha) não é uma tarefa fácil, é recomendável que o indivíduo sempre tome um cuidado especial com a sua saúde na daśā de grahas que adquirem o potencial de mārakeśas (assassinos). Parāśara recomenda, inclusive, que certas práticas sejam realizadas durante tais períodos. Dentre elas, destaca-se a prática do māhamṛtyunjāya mantra, o grande mantra que venceu a morte e que é dedicado a Tryambakaṃ, aquele que possui três olhos: Śiva.