O terceiro passo é adentrar os clássicos, idealmente sob a orientação de algum professor que possa te ajudar a abreviar a sua passagem pelas sentenças conflituosas da literatura e iluminar os significados de certas técnicas e conceitos. Inicialmente é importante focar apenas em um professor e, depois, adquirindo mais discernimento, a pessoa também pode aprender com muitos outros sem acabar confusa. O professor te dá um atalho de anos e pode poupar muito desgaste desnecessário nos seus estudos. Porém, é preciso buscar alguém que ensine de acordo com os clássicos. O problema é que para saber se ele realmente procede dessa forma você terá não só que exigir referências como também estudar a literatura clássica. Pois então, quais textos seriam importantes? Existem inúmeros, mas quatro deles são fundamentais na tradição, de acordo com os pāṇḍitas (eruditos) em jyotiṣa. O primeiro texto é o Bṛhat jātaka (séc. VI) de Varāharamihira, o segundo é a Sārāvalī (séc. X) de Kalyāna Varma, o terceiro é a Phaladīpikā (séc. XV) e o quarto é o Jātaka pārījāta (XV). O já póstumo Madhura Krishnamurthy Shastry, um pāṇḍita muito respeitado do jyotiṣa, classificou o Bṛhat jātaka e a Sārāvalī como textos de yavana jyotiṣa, o jyotiṣa que possui mais características yavanas (estrangeiras) e cujo primeiro modelo textual foi o Yavana jātaka (séc. II) de Sphujidhvaja. No caso, o Bṛhat jātaka é uma versão mais concisa de yavana jyotiṣa, enquanto a Sārāvalī é uma versão bem mais extensa, com descrições elaboradas dos grahas nas casas, signos, das conjunções e vários outros fundamentos.
Em relação a Phaladīpikā e o Jātaka pārījāta, ambos são textos de
Parāśari jyotiṣa, que é uma linha que
inclui muitos elementos originários da Índia para fundamentar o seu método,
como a viṁśottarī e a kālachakra daśā - que são nakṣatra daśās -, os upagrahas, um grande número de yogas inéditos, etc. Desses dois textos,
a Phaladīpikā é uma versão mais concisa de Parāśari jyotiṣa, enquanto o Jātaka pārījāta é bem mais extenso, contendo
longos capítulos que tratam da interpretação de cada um dos doze bhāvas, das daśās, etc. Mas e o BPHS? Bem, embora seja tratado como a
referência maior da astrologia nos dias de hoje, isso é tão somente um
equívoco. O BPHS é o último texto a ser estudado, pois do contrário, o
estudante não terá o discernimento necessário para absorver o seu conteúdo sem
misturar conceitos que não pertencem realmente ao método Parāśari e que foram
interpolados nesse texto.
Uma pessoa que se dedique a seguir essa sequência que descrevi aqui,
certamente vai adquirir um conhecimento sólido da teoria do jyotiṣa. De resto, é prática com
centenas ou mesmo milhares de mapas. Inclusive, é importante dizer que em
termos de aprendizado, a análise de mapas é o mais importante. Não sei dizer o
quão importante é em termos de porcentagem, mas talvez chegue na casa dos 70%.
Aprender os clássicos com rigor e receber instruções de professores deve
constituir cerca de 30% do estudo todo. Porém, sem esses 30%, não tem como
desenvolver os 70% da prática com coerência e segurança. Não adianta sequer
investir apenas no estudo dos textos contemporâneos, no conhecimento da
internet e em estudar com professores se a pessoa não se dedica a adquirir o
conhecimento clássico. Digo isso tudo com segurança, pois eu mesmo perdi anos
estudando muito material contemporâneo cheio de erros e insistindo em métodos
furados de astrólogos que não falam de acordo com os śāstras (escrituras), por mais que os citem.
Felizmente a minha disciplina e natureza inquisitiva acabaram me levando
em direção aos śāstras e a
professores que puderam me orientar bem no caminho do jyotiṣa. Hoje, com 10 anos apenas de jyotiṣa e mais de 12 anos de astrologia, eu finalmente posso dizer
que me sinto mais seguro em termos de conhecimento, interpretação e predição.
Mas isso porque eu realmente segui o script que apresentei aqui (e muito mais),
ainda que no começo a desorientação e as misturebas tenham me feito patinar por
algum tempo. Porém, não fosse esse período, hoje eu não teria o senso crítico
que desenvolvi e que me permite perceber com muito mais clareza o que é
realmente necessário para progredir de forma sadia e consistente no jyotiṣa.
oṁ tat sat
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