O conceito dos argalas é um dos
menos explorados pelos astrólogos em geral. Além disso, há muitos equívocos
quanto a sua utilização. Visando esclarecer isso, decidi escrever esse artigo,
mas que já alerto, se destina a estudantes mais avançados ou aqueles que já
tiveram algum contato com a técnica, mas ainda não sabem como ela realmente
deve ser aplicada.
Em primeiro
lugar, argala só foi realmente incorporado e praticado dentro
do método de Jaimini, pois você não encontra essa técnica em nenhum dos textos
da tradição Parāśarī. Quem afirma que no BPHS argala é citado, inclusive,
provavelmente não sabe que o BPHS de hoje está cheio de interpolações,
capítulos faltando e, em vista desses problemas, não é aceito como uma
autoridade perfeita e inquestionável, especialmente no que se refere a
Jaimini jyotiṣa. A primeira versão do BPHS, dos séculos VI-VIII, não
cita argalas no seu índice, que foi por sinal apresentado pelo
David Pingree em seu Jyotiḥ-śāstra, um respeitadíssimo livro acadêmico sobre a
história da astrologia e astronomia na Índia.
Argala, na verdade, é um conceito que foi apresentado no Upadeśa sūtra (2.1.5-10) de Jaimini e expandido no Jyotiṣa phala ratna mala, Jyotiḥ pradīpikā e no Jātaka sāra saṅgraha, dentre outros textos da tradição de Jaimini jyotiṣa. Porém, a sua utilização não é tão simples, já que há muitas considerações a seu respeito e, inclusive, algumas divergências mesmo entre os autores clássicos sobre um ponto ou outro. No meu caso, a perspectiva que uso, depois de ter estudado suas variantes, foi a que aprendi com o Shanmukha Teli. Essa perspectiva é fiel as ideias clássicas, especialmente do JPRM e do JSS, já que o Jyotiḥ pradīpikā parte de ideias únicas sobre o assunto, mas pouco populares.
Esse artigo, no entanto,
não visa ensinar como usar os argalas,
pois considero que, ainda mais se tratando de argalas, meio conhecimento é mais perigoso que conhecimento algum.
Jaimini não é tão fácil de apreender quando Parāśara (que por sinal já é muito
difícil). Muito menos é um método que dá para discorrer facilmente por meio de
posts na internet. Minha intenção com relação a esse artigo é simplesmente
mostrar o que não é a abordagem clássica dos argalas e dar um indício de como
essa técnica foi usada na tradição de Jaimini jyotiṣa. Se alguém a partir disso
ainda assim decidir seguir uma visão outra, isso já é uma opção pessoal. O
importante é ter consciência de como o conceito foi apresentado em Jaimini jyotiṣa.