Um rei/governante, por exemplo, para manter a ordem social, muitas vezes tem que usar de ações cruéis: prender, expor, punir, ou até mesmo mandar matar. Se refletirmos com cuidado, embora essas suas ações visem o bem, elas são desagradáveis e pesadas, e essas são qualidades próprias dos maléficos, ainda que tais ações não venham carregadas da crueldade gratuita ou meramente vingativa dos outros maléficos. Essa distinção se deve em partes ao fato do termo maléfico, na verdade, ser uma tradução simplista dessa categoria de grahas. A palavra originalmente utilizada para designar os maléficos é krūra, que pode significar cruel, mas também desagradável, duro, áspero, doloroso e até mesmo forte. Logo, o graha ser krūra não implica necessariamente em maldade/vilania, mas no mínimo em aspereza. Dessa forma, Sūrya é áspero, mas por natureza, ele não é injusto ou vil.
terça-feira, 25 de julho de 2023
A razão de Sūrya (Sol) ser considerado um maléfico pelos indianos
domingo, 23 de julho de 2023
Sim, Śani (Saturno) é mais maléfico do que Maṅgala (Marte)
Vāta governa a terceira e última fase da vida, assim como o fim de todos os processos: o fim do dia e da noite, o processo final da digestão (que ocorre no intestino grosso) etc. Com Śani não é diferente, pois ele governa a terceira idade, a morte, o intestino grosso e todo o mais conectado aos fins. Logo, é apropriado considerar Śani maléfico e, mais do que isso, ele é o principal maléfico, pois as suas qualidades se afinam mais com a morte e com a decadência do que as de Maṅgala (Marte), por exemplo, que por governar pitta, ainda tem uma certa relação com a vida, pois pitta é quente, e a vida é justamente sobre isso: calor. Maṅgala é maléfico porque peca pelo seu excesso, assim como um jovem que, devido a sua confiança cega em sua própria força física e habilidade acaba acidentado ou mesmo morto em uma briga. Por sinal, indivíduos com uma constituição pitta por vezes acabam morrendo por conta de sua imprudência e por seus excessos (como no caso de uma overdose), não exatamente por conta de doenças, visto que possuem um metabolismo forte – daí também de Maṅgala ser o kāraka (significador) da seis (parte digestiva).
segunda-feira, 26 de junho de 2023
Como eu devo analisar os trânsitos dos grahas?
Quando o astrólogo
analisa um mapa, nele ele vê múltiplas promessas, mas dentro de um formato
atemporal, ou seja, você sabe que a pessoa vai se casar, divorciar e casar de
novo, mas essas coisas não vão acontecer ao mesmo tempo, afinal, isso nem
sentido faz. Aí é que entram as técnicas de tempo simbólico, que no jyotiṣa nós
chamamos de daśās. As daśās funcionam como gatilhos que ativam
eventos dentro de uma faixa X de tempo. Logo, há daśās que favorecem
casamentos, outras que favorecem divórcios, e o astrólogo deve ser capaz de
diferenciar uma coisa da outra para poder prever eventos distintos, mas
prometidos no mapa.
Uma vez que o astrólogo sabe usar das daśās para prever eventos, ele deve confirmar esses eventos por meio dos trânsitos. Tanto as daśās quanto os trânsitos são técnicas de predição, mas de naturezas distintas, pois a daśā lida com um tempo simbólico – p. ex.: “fulano vive a daśā de Júpiter, que dura 16 anos, depois entra na daśā de Saturno, que dura 19 anos” –, ao passo que o trânsito lida com um tempo real – p. ex.: “Saturno vai estar passando por aquário até 2025, logo, ele vai afetar X casa do seu mapa até lá”. Essas duas técnicas de predição são interdependentes, pois se ignoramos uma delas, automaticamente diminuímos muito a nossa precisão preditiva.
terça-feira, 23 de maio de 2023
A diferença entre doṣa e ariṣṭa
O BPHS cita uma
série de doṣas nos seus capítulos finais, e o Horā ratnam também
trata desse assunto em vários capítulos. Ambos os textos partem das mesmas
definições do que é um doṣa. Mas, ainda assim, hoje, mesmo conjunções de
Saturno com um nodo, ou Marte na 1-2-4-7-8-12 são tratados como doṣas, o
que não é apropriado. Ter Saturno conjunto a um nodo configura um ariṣṭa (infortúnio),
mas não um doṣa. O mesmo se aplica a ter Marte na 1-2-4-7-8-12, um ariṣṭa
para questões afetivas, mas que é muito comum (afinal, abrange metade das
posições possíveis a Marte), sendo presente nos mapas de muitas pessoas bem
casadas, inclusive.
A diferença fundamental entre um ariṣṭa e um doṣa consiste no fato de que o ariṣṭa tem um impacto específico, mais isolado, ao passo que o doṣa tem um impacto mais abrangente. Por exemplo, no Horā sāra é dito que se todos os grahas estiverem fortes, exceto o Sol e a Lua, eles não darão bons resultados em suas daśās, ao passo que se todos os grahas estiverem fracos, mas o Sol e a Lua fortes, então o indivíduo colherá bons resultados mesmo nas daśās desses grahas fracos. Isso mostra a importância dos luminares em um mapa. Todos os doṣas clássicos envolvem os luminares ou o ascendente. Logo, estender a ideia de doṣa para outros grahas é extrapolar o significado desse conceito. Sem dúvida uma conjunção de dois maléficos não é boa (a princípio), mas ela não configura um doṣa, mas sim um ariṣṭa.
quarta-feira, 10 de maio de 2023
Cursos online de astrologia indiana para o segundo semestre de 2023 - inscrições vão até 7 de julho
A data máxima para inscrição vai até o dia 7 de julho, portanto, os interessados devem se inscrever neste link de pré-inscrição, caso o interesse seja no curso de nível I, ou me contatar via e-mail (jyotishabr@gmail.com) ou whatsapp (12997494931 ou neste link). As datas de início das turmas, a princípio seriam as seguintes – o que pode ser modificado conforme a necessidade e disponibilidade dos alunos:
11.07 às 19h – Fundamentos básicos
12.07 às 19h – Yogas
13.07 às 19h – Técnicas preditivas
14.07 às 19h - Jaimini
Abaixo dou maiores informações sobre
cada um dos cursos separadamente, o que inclui valores:
NÍVEL I - FUNDAMENTOS BÁSICOS DO
JYOTIṢA
Esse curso é focado no método descrito
por Varāhamihira em seu Bṛhat jātaka e que foi expandido na
Sārāvalī, Phaladīpikā e Jātaka pārījāta, os quais integram os quatro principais
textos de jyotiṣa. No entanto, também complementaremos o nosso estudo
com outras referências clássicas, tais como o Bṛhat Parāśara horā śāstra e o
Sarvārtha chintāmaṇi.
O curso tem extensão de cinco meses e
abrange os seguintes tópicos:
1. Introdução ao jyotiṣa
2. Karma, reencarnação e destino
(daiva)
3. Os doze signos (rāśis) e o āyanāṁśa
(precessão dos equinócios)
4. Os nove planetas (grahas)
5. Olhares dos planetas (graha-dṛṣṭis)
6. Avaliando a força dos planetas
(graha-bala)
7. As divisões de um signo (vargas)
8. As doze casas (bhāvas)
9. Kendras (1, 4, 7 e 10) & koṇas
(5 e 9)
10. Upachayas (3, 6, 10 e 11),
dusthānas (6, 8 e 12) & mārakas (2 e 7)
11. Natureza funcional dos planetas
para cada ascendente
12. O processo de delineação
13-19. Aulas práticas
20. Pacificação dos planetas
(graha-śāntiḥ)
O valor do curso é de
R$ 2200,00 à vista ou parcelado via Mercado Pago em até 12x. As aulas são
semanais, dadas via Google Meet (vídeo-conferência) e serão todas
gravadas em vídeo e áudio para que os alunos possam estuda-las posteriormente,
o que é especialmente útil para aqueles que não podem comparecer com
regularidade as aulas online. Além disso, o curso inclui PDFs riquíssimos e
muitos mapas para exemplificação.
Serão incluídas também no curso
referências bibliográficas, artigos diversos, outros tipos de materiais
complementares ao ensino, grupo no Whatsapp para esclarecimentos de dúvidas.
Além disso, enviarei a todos um arquivo contendo os principais textos clássicos
em PDF para consultas ao longo do curso.
Para inscrição é necessário fazer a pré-inscrição neste link.
sábado, 29 de abril de 2023
Análise afetiva - exemplo de como o estudo de um tema é conduzido
Partindo de parāśari, nós devemos estudar os seguintes elementos:
1. A sete e seu regente – a partir do lagna, de Lua e Vênus.
2.
O navāṁśa situado na
cúspide (bhāva-madhya) da sete e o regente desse navāṁśa.
3.
Vênus, os seus dispositores
(rāśi e navāṁśa) e os grahas situados em 2-4-5-7-9-10-12 dele.
4.
O lagna, por ele ser
a sete da sete.
Jaimini já acrescenta a
análise dos seguintes pontos:
1.
A sete a partir de lagnas
como svāṁśa-lagna e yogada-lagna.
2.
Darākāraka.
3.
Upapāda-lagna.
Agora, vou exemplificar esse tipo de análise combinada no mapa da Elizabeth Taylor, a qual viveu oito casamentos ao longo de sua vida, fora romances passageiros.
segunda-feira, 17 de abril de 2023
A vida espiritual existe à parte do mapa astrológico?
Em relação ao primeiro passo
da nossa investigação, é notável que o kāla/daiva (tempo/destino) é
referido no Bhagavata-purāṇa[1],
o comentário natural ao Vedānta-sūtra, como imutável. Isso é
consubstanciado por várias passagens do Rāmāyaṇa, Mahābhārata, Bhagavad-gītā
e das Upaniṣads. Na Gītā, por exemplo, os versos 5.8-9, 5.14,
13.20, 13.30, 13.32 etc., são alguns exemplos onde se esclarece que todas as
ações realizadas dentro da realidade material são produto de prakṛti/traiguṇya
(a natureza fenomênica/os três guṇas), e não do ser vivo (jīva).
Há também versos como 2.14 que esclarecem como a experiência da dualidade dentro
dessa realidade é inevitável e deve ser tolerada, ou seja, não há como
controlarmos o destino ao nosso bel-prazer. Ao invés de estimular o controle sobre a
natureza, o vedānta nos ensina a importância de se cultivar o desprendimento
e a equanimidade (frutos naturais do sacrifício espiritual) como um meio de não
se deixar afetar pelas dualidades (alegrias e tristezas, honra e desonra etc.)
do mundo, visto que essas não têm relação alguma com a alma nem a afetam. Ou seja, a mensagem do vedānta é sobre curvar-se perante a
realidade, ao invés de chocar-se com ela. Dada a natureza transcendental da alma, não há porque se
deixar abalar pelas experiências transitórias e naturais deste mundo.
Em vista dessas
afirmações todas dos śāstras, fica evidente que qualquer movimento
realizado dentro do mundo material é oriundo da ação dos guṇas, logo,
ele precisa se expressar dentro de suas leis. Por exemplo, se eu me
dedico a realizar uma peregrinação, um ato espiritual, para isso eu preciso
usar o meu corpo, a minha mente etc., logo, essas ações todas também precisam
estar representadas nos símbolos astrológicos, os quais abordam justamente os guṇas/prakṛti
que envolvem tanto os aspectos materiais densos (o corpo) quanto sutis (a
mente, o intelecto e o falso-ego/ahaṅkāra). Essa mesma lógica se aplica
a qualquer outro tipo de ação voltada para o âmbito espiritual.