Na astrologia helenística e medieval considera-se que um graha oriental
em relação a Sūrya (Sol) é mais forte do que um ocidental em relação ao mesmo.
Um graha oriental seria aquele que ascende no céu antes de
Sūrya, ou seja, está em grau ou signo anterior. Já o ocidental é o contrário,
ele ascende depois de Sūrya, i. e., está em grau ou signo posterior.
A ideia é de que um graha oriental,
justamente por ascender antes de Sūrya, seria mais vigoroso e jovial, ao passo
que o graha ocidental, por ascender mais tarde, seria mais
fraco. No jyotiṣa, no entanto, a impressão que se tem inicialmente
é de que esse conceito não foi levado em conta, já que ninguém fala a respeito
disso, seja na modernidade ou na literatura clássica.
Porém, esse é um ledo engano, pois na
verdade há sim citações clássicas a respeito do conceito. Certa vez, quando
estava revisando todo o conteúdo do Jātaka pārījāta para criar um resumo geral,
eu encontrei um verso que falava exatamente sobre esse assunto da
orientação dos grahas em relação a Sūrya. Vaidyanātha diz
(2.70) que os grahas que antecedem Sūrya longitudinalmente
estão com a face para cima (supino) e são capazes de produzir felicidade e
riqueza, enquanto aqueles que estão em graus posteriores ao dele, estão com a
face para baixo (de bruços) e seriam menos produtivos e eficazes. Em outras
palavras, Vaidyanātha está falando sobre grahas orientais (com
a face para o alto) e ocidentais (com a face para baixo) em relação a Sūrya,
exatamente o mesmo conceito usado na tradição helenística e medieval de
astrologia.
Mas não foi só essa referência que me fez perceber a presença desse conceito na tradição indiana. Um estudo da Sārāvalī, particularmente dos versos que falam sobre os Sūrya yogas, veśi e vośi, deixaram claro para mim que havia na tradição consciência a respeito desse elemento de delineação.
Kalyāna, autor da Sārāvalī, diz o seguinte em relação ao veśi yoga (14.3-5) formado por Śukra (Vênus) e Budha (Mercúrio):
Se Śukra ocupa a dois de Sūrya, isso torna o indivíduo tímido,
impõem obstáculos ao longo de seu caminho, o faz derrotado e dado a se mover de
uma forma agradável; Budha o faz um servo, sujeito a penúrias, modesto, tímido
e de uma fala mansa.
Em relação ao
vośi yoga, Kalyāna diz (14.7-9):
Śukra na doze de Sūrya torna o indivíduo corajoso, famoso,
virtuoso e detentor de uma boa reputação; Budha o faz se expressar de uma forma
doce, o torna belo e obediente.
Note que as descrições de Budha e Śukra na dois de
Sūrya são predominantamente negativas, ao passo que as descrições desses na doze de
Sūrya são positivas. No caso, os grahas
na dois ficam ocidentais em relação a Sūrya, enquanto os na doze, orientais. Por isso Kalyāna pontua que Śukra e Budha na doze de Sūrya conferem melhores
resultados do que na dois.
Com essas referências, está mais do que claro que o
conceito da orientação dos grahas em
relação a Sūrya já era conhecido na tradição indiana. Mesmo Kalyāna não tendo
citado diretamente essa ideia, como fez Vaidyanātha, fica implícito nos seus versos
que ele tinha consciência desse elemento. Inclusive, é importante citar que Kalyāna é do século X, ou
seja, viveu cinco séculos antes de Vaidyanātha.
Dadas essas explicações, veja agora dois exemplos
notáveis de vośi yoga – graha oriental em relação a Sūrya:
O mapa acima pertence ao imperador Dom Pedro II. Note
que Śukra (Vênus) está na doze de Sūrya nesse mapa, dignificado e ocupando o lagna, enquanto lagneśa (senhor do ascendente). Ou seja, esse é um caso de vośi yoga, ou de Śukra oriental. Esse
posicionamento, obviamente somado a muitas outras configurações, contribuiu
para que Dom Pedro II viesse a ser o imperador do Brasil.
Agora veja um exemplo notável de veśi yoga - graha ocidental -, também envolvendo Śukra:
Conclusão
O conceito da orientação dos grahas em relação a Sūrya é útil, enquanto ferramenta complementar
de análise de força e eficiência. Se um graha
está oriental, inicialmente devemos considerá-lo mais eficaz e produtivo do
que um graha ocidental. Porém, esse
não é um conceito que encerra o julgamento da condição de um graha, senão que adiciona alguma
informação, a qual deve ser comparada com todas as outras informações que o
mapa ou um posicionamento isolado nos apresenta.
oṁ tat sat
Boa noite! Primeiro de tudo, gostaria de desejar felicitações ao blog pois estudo astrologia jyotish desde 2015 e com o pouco conteúdo em português pela internet, acabei descobrindo esse blog! Conteúdo incrível e estou lendo tudo! <3
ResponderExcluirPorém tem uma duvida a respeito de um post seu pois não entendi bem, (http://bhavakendra.blogspot.com/2012/09/ashtakavarga-como-usar-tecnica.html) nele a casa 11 tem que ter pontuação maior que a casa 10 e 12 para asegurar riqueza não é? E quando a casa 10 e 12 tem a mesma pontuação mas a 11 é maior? Exemplo:
casa 10: 28
casa 11: 40
casa 12: 28
Ainda existem chances de uma boa vida? Aguardo resposta pois não sei como interpretar.
Olá, essa postagem não é do meu blog, mas sim do blog do Tony. Minha experiência pessoal com o ashtakavarga me levou e desistir da técnica. Ela é coerente em alguns momentos e incoerente em muitos outros. Cheguei a conclusão de que toda técnica em jyotisha que se propõem matemática é no máximo uma aproximação imperfeita da realidade. Se tiver dúvidas, vide as técnicas que tentam decifrar a longevidade por cálculos, ou que visam definir a força dos grahas só com base em números.
ResponderExcluirA astrologia é essencialmente simbólica e tentar definir resultados só com base em numerações embora seja tentador, já que ofereceria uma resposta fácil aos problemas, na prática decepciona muito.
Att,
Goura Hari dasa