Certa vez vi um astrólogo
dizendo que não era possível determinar homossexualidade em um horóscopo, mas
isso definitivamente não é verdade. Há indicações de homossexualidade sim. No
caso, em termos de gênero, Sūrya, Maṅgala e Guru são definidos como grahas masculinos, Śukra e Chandra como femininos,
enquanto Budha e Śani são definidos como eunucos (kliba). A designação usada nesse caso, de “eunuco”, sem dúvida pode
soar pejorativa, porém a ideia é de que o indivíduo seria indiferente ou
impotente em relação ao sexo oposto, ou seja, teria inclinação a
homossexualidade.
Com isso em mente, fiz um
estudo com dezenas de mapas de homossexuais e repetidamente notei o seguinte:
(1) A sete (do lagna e/ou
de Chandra), seu senhor e/ou Śukra aparecem sob influência dos kliba-grahas: Śani e/ou Budha, assim
como também podem estar ocupando os rāśis ou navāṁśas regidos por esses.
(2) Significadores
pessoais, isso é, o lagna, lagneśa, Chandra e/ou Sūrya aparecem
frequentemente ou sob influência de Śani e/ou Budha ou ocupando os rāśis ou navāṁśas regidos por esses. Por vezes ambas as coisas ocorrem.
Há algumas outras
configurações menos comuns que também observei, porém essas são as mais frequentes.
Na verdade, mais do que isso, elas estão sempre presentes.
Uma pesquisa como essa é
interessante porque deixa bastante claro que a homossexualidade, condenada em
tradições abraâmicas como o cristianismo, é na verdade parte da natureza e não
uma anomalia. Inclusive, na cultura védica/hindu, considera-se que a
homossexualidade seja o terceiro sexo (tṛtīya-prakṛti).
Por sinal, nem mesmo a medicina aceita que a homossexualidade seja uma doença
ou algo que se adquire, pois ela é inata, algo que o āyurveda já dizia a milênios atrás.
Até na natureza já está
mais do que provado que praticamente não existem espécies que não apresentem comportamento
homossexual. Todos os seres, quer sejam humanos ou animais, apresentam
comportamentos homossexuais. Porém, com isso não venho aqui exaltar nenhum
gênero ou abraçar a causa LGBT, longe disso, minha intenção é apenas mostrar
como até mesmo pelo jyotiṣa é
possível entender que a homossexualidade é apenas uma outra variação da
sexualidade, que como é mencionado na tradição, trata-se de tṛtīya-prakṛti, o terceiro gênero.
Uma das minhas
motivações, inclusive, de escrever este artigo é rebater um pensamento
retrógrado que sempre ouvi da parte até mesmo de parentes, todos eles “cristãos”
(definitivamente não sou contra o cristianismo em si), de que a
homossexualidade era uma anomalia e algo condenado por Deus. Embora seja
hetero, nunca vi sentido nessas alegações, pois o que aprendemos na tradição
hindu é de que a luxúria é que é, de fato, o verdadeiro problema. Pouco importa
o gênero, o problema está na luxúria e na identificação com o corpo em si. Mas,
veja bem, se tomamos isso como referência, então podemos dizer que praticamente
todos estão condenados, pois afinal, quem é que não sofre com as perturbações
da luxúria (especialmente na juventude)? Quem é que não se identifica com o
corpo e está livre da absorção na dualidade?
Mesmo um heterossexual
que vive uma relação monogâmica, caso não consiga dominar o impulso sexual, ele
já está, do ponto de vista do yoga
amarrado à mahāmāyā (a grande ilusão)
e, portanto, não está apto a atingir a perfeição espiritual, enquanto não se
libertar de sua absorção nas amarras do corpo - das quais a luxúria é a principal.
Definitivamente, ninguém pode atingir a perfeição espiritual sem sublimar a
sexualidade ou usá-la no máximo para o seu propósito natural: a procriação. Isso
porque a sublimação sexual é justamente essencial para atingir o despertar espiritual.
Todos os grandes acharyas e gurus do passado e do presente seguiram e seguem estritamente o
celibato. Mesmo os que foram ou são chefes de família, valeram-se ou valem-se da
sexualidade apenas para ter filhos. Isso sim está de acordo com o dharma e, ainda que não consigamos viver
dessa forma, por ainda desejarmos satisfazer nossos próprios sentidos, de forma alguma devemos tentar mudar os ensinamentos para que
esses convenham à nossa própria satisfação pessoal. Logo, a menos que o
indivíduo tenha completo controle sobre o seu próprio desejo sexual, quer ele seja
hetero ou homossexual, definitivamente as portas do paraíso ainda estão fechadas para ele. Ninguém
pisa em solo espiritual sem antes ter superado as tentações da carne, mesmo que
essas sejam em relação ao sexo oposto. Logo, ser hetero ou homossexual nada tem
a ver com a elegibilidade necessária para se atingir a libertação espiritual. O
necessário é superar a identificação com o corpo, inclusive com o gênero em si. Até lá, temos de lutar contra os sentidos... daí da necessidade de se executar sādhana (disciplina espiritual).
A evidência para tudo o que disse acima são os
seguintes ślokas da Bhagavad gītā (03.36-43):
Arjuna disse: Ó descendente de Vṛṣṇi, o
que impele alguém a atos pecaminosos, mesmo contra a sua vontade, como se ele
agisse à força?
Bhagavān Śri Kṛṣṇa disse: É somente a
luxúria (kāma), Arjuna, que nasce do
contato com a qualidade material da paixão (rajas)
e mais tarde se transforma em ira (krodha),
que é o inimigo pecaminoso que a tudo devora neste mundo.
Assim como a fumaça cobre o fogo, o pó
cobre um espelho ou o ventre cobre um embrião, diferentes graus de luxúria
cobrem o ser vivo.
Assim, a consciência pura do sábio ser
vivo é coberta por seu eterno inimigo sob a forma da luxúria, que nunca é
satisfeita e queima como o fogo.
Os sentidos, a mente e a inteligência
são os lugares de assento para esta luxúria. Através deles, a luxúria confunde
o ser vivo e obscurece o verdadeiro conhecimento que ele possui.
Portanto, ó Arjuna, ó melhor dos
Bharatas, desde o início, refreie este grande símbolo de pecado [a luxúria],
regulando os sentidos, e aniquile este destruidor do conhecimento e da auto
realização.
Os sentidos funcionais são superiores à
matéria bruta; a mente é superior aos sentidos; por sua vez, a inteligência é
mais elevada do que a mente; e ela [a alma] é superior à inteligência.
Assim, sabendo que é transcendental aos
sentidos, à mente e à inteligência materiais, ó Arjuna de braços poderosos, a
pessoa deve equilibrar a mente por meio de deliberada inteligência espiritual e,
assim — pela força espiritual — vencer este inimigo insaciável conhecido como
luxúria.
oṁ tat sat
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