sábado, 2 de fevereiro de 2019

Guru Chāṇḍāla yoga e seus bhangas (nulificações)

Há um yoga que é muito comentado nos dias atuais, o chamado Guru Chāṇḍāla yoga, que a partir dos princípios clássicos envolve basicamente dois padrões:

(1.1) Guru conjunto a Rāhu sob a influência de um maléfico (idealmente tamasika).
(1.2) Guru conjunto a Ketu sob a influência de um maléfico (idealmente tamasika).

Os resultados desse yoga envolvem, basicamente, ingratidão, traição aos mentores, inclinações pecaminosas e vis, mau caráter e a realização de atividades anti-sociais. Além disso, pode denotar um nāstika (ateísta), alguém de conduta heterodoxa e até mesmo um assassino.

Algumas pessoas consideram que Guru conjunto a Śani ou Gulika também gera Guru Chāṇḍāla yoga, o que é parcialmente correto, pois ambos predispõem a uma atitude blasfema. Inclusive, no Jātaka pārījāta é dito que a conjunção de Guru e Gulika indica um herege. Porém, essas configurações, incluindo as clássicas, para serem confirmadas precisam ser comparadas com outros aspectos do jātaka (horóscopo). K. N. Rao mesmo considera[1] que aflições a nove ou relações da nove com a seis também gerariam Guru Chāṇḍāla ou reforçariam os resultados negativos do yoga, caso presente. Porém, até para o Guru Chāṇḍāla yogabhangas (nulificações). Ademais, quando esses se encontram presentes, o Guru Chāṇḍāla yoga pode denotar moral e espiritualidade genuína, mas marcada por algum tipo de irreverência ou atitude reformadora e visionária para a época em questão, o que se aplica às configurações padrões mencionadas nos clássicos.

Esses bhangas, mencionados em um artigo excelente de K. Guru Rajesh[2] a respeito do assunto e confirmados pelas minhas observações pessoais, se dão nas seguintes circunstâncias:

(2.1) Quando Guru detém força, isso é, ocupa câncer, sagitário ou peixes.
(2.2) Quando, além de Guru estar forte, o mesmo ainda se mantém distante em termos de longitude dos grahas que gerariam o yoga.
(2.3) Quando Guru e o graha envolvido recebem os olhares de Śukra (Vên) e Budha (Merc).
(2.4) Quando a nove e seu senhor detém força.
(2.5) Quando há um poderoso dharma karmādhipati yoga no jātaka.
(2.7) Quando há influências benéficas sobre o lagna e a dez.

Alguns exemplos claros de bhanga são os de Balagangadhar Tilak e Śrīla Bhaktivedānta Vamana Gosvāmī Mahārāja. Por outro lado, exemplos claros de Guru Chāṇḍāla yoga são Adolf Hitler, Abdul Hamid II, Klemens Behler, Edoardo Agnelli, Príncipe Alfred, Jawaharlal Nehru, Marilyn Manson e Sylvie Andrieux.

Aqueles que possuem Guru Chāṇḍāla envolvendo Rāhu são os que estão mais predispostos a agir de forma traiçoeira e ingrata, pois Rāhu é o verdadeiro chāṇḍāla (pária), além de ser chamado também de Sarpa - serpente. Tais indivíduos podem ainda vir a proliferar filosofias perniciosas e heterodoxas, se envolver com corrupção e outras atividades sórdidas.

No caso do Guru Chāṇḍāla formado por Ketu, seus resultados incluem desleixo ou indiferença aos princípios tradicionais, apatia social, iconoclastia, etc. Por outro lado, Ketu tem mais chances de gerar bons resultados do que Rāhu, caso hajam os bhangas acima mencionados no jātaka, pois Ketu, o mokṣa kāraka (significador da libertação), é um transcendentalista por excelência, o que se afina bem com a natureza de Guru. No caso, o indivíduo com um bhanga ao GCY envolvendo Ketu pode se mostrar muito mais envolvido com o aspecto esotérico do que exotérico da religiosidade, o que não deixa de transmitir a icônica atitude não conformista dos nodos. Além disso, R. G. Rao, em seu "Essence of Nadi", menciona que em uma configuração envolvendo, por exemplo, Śani, Guru e Ketu, o indivíduo se tornará um astrólogo, filantropo, guru ou vaidya (médico) que se dedicará inclusive  a servir os sādhus, tornando-se ele mesmo um sādhu ao longo de sua vida. Ele ainda diz que tal pessoa viverá obstruções no seu desenvolvimento acadêmico e profissional, mas terá êxito no cultivo de conhecimento transcendental, se encarregando de ajudar a humanidade a se elevar e a se libertar do sofrimento. Já no que se refere a um Guru Chāṇḍāla envolvendo Guru, Śani e Rāhu, os resultados atribuídos por R. G. Rao são bastante negativos.

Minha conclusão pessoal a respeito do tema é de que, mesmo em um GCY envolvendo Rāhu, a depender da situação, bons resultados também podem se manifestar, pois os bhangas são igualmente aplicáveis a esse. Em suma, os nodos sempre exercem uma influência não conformista sobre o que tocam em um jātaka, o que pode ser prejudicial, pois levará a rebeldia e a ingratidão. Porém, há de se convir que boa parte dos grandes bem feitores da sociedade foram em maior ou menor grau não conformistas, os quais puderam trazer importantes e visionárias reformas para a sociedade por meio de suas atividades. Assim sendo, nem sempre a relação de Guru com os nodos será causa de resultados negativos, pois tais configurações podem vir a representar a destruição não do que é bom e traz ordem a sociedade, mas sim do que se tornou obsoleto, sectário ou mesmo secular. Algo no espírito exemplificado por Jesus em uma de suas famosas citações"Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, pois não vim para revogar, mas sim para cumprir".

oṁ tat sat



[1] Tried techniques of predictions & some memoirs of an astrologer - K. N. Rao
[2] Applied vedic astrology - K. Guru Rajesh

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