A maneira mais eficiente
de se estudar um signo (rashi) é utilizando-o como Lagna e identificando a
posição dos demais signos a partir daí. Parasara dá indicações acerca disso no
capítulo 34 sobre Yogakarakas, e assim, pode-se aprofundar um estudo dos
porquês envolvidos em cada menção sua. Para exemplificar, vou
analisar o Lagna que ascende exatamente agora: Gêmeos.
1. Benéficos e maléficos temporais
25-26. Grahas e o Lagna Mithuna (Gêmeos). Marte, Júpiter e Sol são maléficos, enquanto Vênus é o único Graha auspicioso. A união de Guru com Saturno é similar ao do Lagna Áries (A mera conjunção de Saturno com Guru não irá produzir efeitos auspiciosos). Lua é o Maraka (assassino) principal, mas depende de suas associações. (Ch. 34 - Yogakarakas - BPHS)
A mecânica envolvida
neste dito é a da natureza das casas, e para definir qual Graha é benéfico ou
maléfico, basta analisar as regências e somá-las, tópico que não abordarei
nesse artigo e portanto, recomendo que a principio sigam o que Parasara indica.
Para análise, vou
utilizar um maléfico e um benéfico funcional. A começar por Marte,
que como rege a seis (maléfica) e a onze (maléfica) que
são casas de crescimento material e portanto, que implicam em
egoísmo, o que faz o geminiano (me refiro ao Lagna) viver Marte como
um maléfico temporal. Porém, o que seria um maléfico temporal? Isso se refere a
um assunto que tende a ser desgastante para o nativo, o qual ele não se sente
confortável em lidar. No caso de Marte, ele indicará situações onde amigos (11)
se tornam inimigos (6) e vice-versa, também indicará uma natureza agressiva ou
demasiadamente defensiva (6) e apegada aquilo que concebe mentalmente como
correto e que fará uso para obter o que deseja (11), inclinando-o ao egoísmo
e a crueldade. Por Marte ser o significador (Karaka) da sexta, isso
reforça as oposições, inimizades na vida do geminiano, assim como denota
habilidades marciais, competitividade e impulsividade na defesa de seus
desejos. Porém, são assuntos estressantes e desgostosos devido a natureza de
Marte como um maléfico temporal, e que obviamente, podem levá-lo a sofrer e ter
problemas com seus assuntos, o que pode se estender a aflições mentais devido a
Lua se debilitar em Escorpião, a sexta casa de doenças.
No caso de Vênus, que é
o único planeta que pode ser considerado um benéfico temporal para o Lagna
Gêmeos, denotará felicidade e prazer em seus assuntos, assim como beneficios.
Vênus rege a quinta (benéfica) e a décima-segunda casa (maléfica), o que
faz do nativo de Gêmeos inclinado a atividade artística, devocional (5), assim
como desapegado e capaz de se render (12), isso também indica a inclinação ao
desfrute, sem levar em conta os gastos e perdas envolvidas e que pode ser
confirmado pelo fato do regente da segunda casa, a Lua, que representaria os
recursos se exaltar na doze dos gastos e perdas. Como Libra é a Moolatrikona de
Vênus, os efeitos da 5 predominam para o nativo de Gêmeos que pode usar a arte
e a devoção como meios de libertação, assim como de aperfeiçoamento pessoal.
Isso também os inclina a serem capazes de desapegarem-se facilmente de
suas paixões, o que é perceptível nestes, que tendem a ter muitas relações ao
longo da vida.
A origem de seus gastos
e perdas também podem estar intimamente ligados aos assuntos de casa
cinco, ou seja: filhos, estudos, arte e paixões. A regência simultânea de
Vênus sobre a casa cinco e doze pode indicar demasiados gastos com filhos,
assim como uma inclinação a perdas relativas a estes ou até mesmo uma
preferência por uma vida de prazeres e consumo, visto que Vênus não é uma
facilitadora de filhos, o que explica Gêmeos ser chamado Mithuna (Cópula), e ser o
terceiro signo/casa (sexo) no zodíaco natural.
2. As dignidades
Outro meio inteligente
de se compreender um signo é utilizando dignidades, especialmente ligadas ao
regente do Lagna, mas que pode ser estendido ao longo de todas as casas. No
caso de Gêmeos, Mercúrio é o regente do Lagna e tem sua exaltação na quarta
casa dos estudos e emoções e sua debilitação na casa dez da carreira. Isso
explica a natureza aplicada aos estudos do geminiano, sua compreensão
psicológica (Mercúrio rege o Lagna e a quarta casa simultaneamente),
proximidade e amizade com a mãe, assim como sua dificuldade de seguir ou
escolher uma via profissional, sempre dual e um assunto confuso para o
mesmo que está mais inclinado a uma profissão mais artística, visto que Vênus
se exalta em Peixes, na décima. No Light on Life de Hart de Fouw e Robert
Svoboda é assinalado que ainda que inclinado a profissões artísticas, o
geminiano tende a ter dificuldades com estas visto que Vênus rege a doze de
gastos e perdas. Um caso interessante que corresponde com o que é dito pelo
mesmo é o de Van Gogh que possuía Lagna Gêmeos e não teve sucesso artístico
enquanto estava vivo.
3. Zodíaco natural
O Zodíaco natural é
utilizado dentro da Jyotisha, e se refere a ordem natural dos signos aplicada
as casas para extrair algumas informações valiosas. No caso de Gêmeos, este é o
terceiro signo do Zodíaco natural e portanto, a terceira casa a partir do Lagna
indicará talentos, assuntos naturais para o mesmo. Contando a partir de Gêmeos,
Leão é o terceiro signo/casa e portanto, indica as habilidades criativas do
geminiano, e sua identificação com as habilidades que possui e pelas quais se
expressa e se afirma.
4. Relações naturais entre os Grahas
As relações naturais são
importantíssimas. Elas se referem a como um Graha interage com outro, em
amizade, neutralidade ou inimizade. Há meios de se calcular isso, porém, não me
deterei nisso. Para conferir a tabela de relações naturais basta clicar aqui. Nesta tabela vemos que Mercúrio, o regente de Gêmeos tem Sol e Vênus como
amigos, Marte, Júpiter e Saturno como neutros e a Lua como inimiga. Analisando
Vênus, vemos que ela rege as casas cinco e doze, ou seja, uma benéfica e outra
maléfica, porém, ela é definida por Parasara como o único Graha auspicioso.
Isso se explica pelo fato da Moolatrikona de Vênus ser Libra, a quinta casa,
fazendo predominar seus assuntos, assim como pela amizade natural de Vênus e
Mercúrio. Isso também explica o fato de Saturno não ter sido definido como um
Graha auspicioso para o Lagna Gêmeos, visto que apesar de reger uma Dushtana
(8) e uma Kona (9) - com a Kona prevalecendo por ser sua Moolatrikona (Aquário)
- este não é um amigo natural de Mercúrio. Obviamente, ainda que não seja um
amigo natural, Saturno está mais inclinado a resultados positivos, que se explicam
pela tendência do geminiano buscar na religiosidade (9) um meio de elevação em
meio a crises (8), ainda que de uma forma mais intelectual e científica
(Aquário).
Um outro exemplo de
relações naturais é a de Mercúrio com Marte, Mercúrio não possui Marte como
inimigo, mas sim como neutro, porém, Marte o tem como inimigo. Isso
apontaria uma natureza mais neutra por parte do geminiano em relação a seus
inimigos e amigos (Marte rege a 6 e 11), porém, estes estão inclinados a o
terem como inimigo e de causarem-lhe problemas de uma maneira marciana: brigas,
agressão física. Isto pode ser contemplado no mapa de Bhaktisiddhanta Saraswati
Thakur que apesar de ser um Vaishnava pacífico (é dito que um Vaishnava não
possui inimigos), sofreu inúmeras investidas por parte de seus opositores que
até mesmo encomendaram sua morte, a qual felizmente não veio a ocorrer.
Bhaktisiddhanta possui Lagna Gêmeos e Marte na décima casa indicando obstruções
criadas por inimigos (6) na realização de seus objetivos (11).
São inúmeras as técnicas
a serem aplicadas para se compreender um signo e este é o processo mais
adequado para compreendê-los. Uma das perguntas que mais ouço em relação a
Jyotisha é se os signos são distintos em relação a astrologia ocidental, e em
realidade, não o são, exceto pelo fato de que as ferramentas para compreender
um signo são em alguns pontos distintas e devem ser dominadas para se poder
compreendê-los a maneira que indicam os Shastras. Alguns exemplos disso são o
uso das Gunas, castas e os diferentes nomes e representações que os
signos recebem.
Radhe Syam
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