Se há um yoga que gera confusões, esse yoga é
o parivartana, que na verdade consiste em um dentre os quatro tipos
de sambandhas, relacionamentos possíveis entre os grahas.
Os outros três seriam a conjunção (yuti), o olhar mútuo (paraspara-dṛṣṭi)
e a recepção (adhipati-dṛṣṭi).
A palavra parivartana significa
“troca”, referindo-se, nesse caso, ao fato de dois grahas ocuparem
um o signo do outro, como no exemplo onde Guru (Júp) ocupa libra e Śukra (Vên)
ocupa peixes. Na tradição helenística, medieval, etc., de astrologia, o nome
que foi dado a essa configuração é recepção mútua.
Os indianos classificaram o parivartana como pūrṇa-sambandha, ou seja, como um relacionamento pleno entre os grahas. Isso porque tais grahas vão dispor um ao outro, o que criaria entre eles uma forte relação de cooperação, a qual pode tanto gerar o bem quanto também o mal, a depender da configuração em questão.
Em relação a isso, o sábio Mantreśvara dividiu os parivartanas em três tipos: mahā, khala e dainya. Suas definições são as seguintes:
Mahā: envolve
os regentes dos bhāvas 1, 2, 4, 5, 7,
9, 10 e 11.
Khala: envolve
o regente do bhāva 3 com o regente de
qualquer bhāva.
Dainya: envolve
o regente dos dusthānas (6, 8 e 12)
com o regente de qualquer bhāva.
O mahā parivartana, naturalmente é benéfico, já que envolve regentes
de bhāvas positivos, enquanto o dainya é negativo e o khala intermediário.
Para exemplificar como os parivartanas funcionam e devem ser interpretados, vou usar o mapa da Indira Gandhi, que é o mais icônico dos mapas para se estudar essa configuração. No caso, vou focar especialmente nos resultados das daśās dos grahas envolvidos nos parivartanas, pois essa é a forma mais eficaz de compreender como os grahas e seus yogas funcionarão em um mapa.
Indira
Gandhi
Notem que a Indira Gandhi
possui um parivartana entre Śani
(Sat) e Chandra (Lua) no eixo 1-7, ou seja, um mahā parivartana. Além disso, ela ainda possui outro mahā parivartana envolvendo Sūrya (Sol)
e Maṅgala (Mar) nos bhāvas 5 e 2, e
um dainya parivartana envolvendo Śukra
e Guru em 6 e 11. Vou citar aqui os resultados das mahādaśās de Maṅgala, Guru e Śani, pois são daśās que ela viveu e que ativaram os três parivartanas do seu mapa.
Mahādaśā
de Maṅgala
Entre 1929 e 1936 (12-19
anos de idade) a Indira viveu a sua mahādaśā
de Maṅgala. O que chama atenção é que nessa época o pai dela estava muito
envolvido com questões políticas, tendo sido inclusive preso algumas vezes.
Isso limitou muito o contato dela com o pai, com o qual geralmente ela se
comunicava por meio de cartas. Ao mesmo tempo, sua mãe, que vivia doente,
acabou morrendo ao fim do período de Maṅgala. Ou seja, sua vida familiar (Maṅgala
na dois) foi muito conturbada durante a época, mas, por outro lado, ela
progrediu relativamente bem nos seus estudos (Maṅgala, enquanto regente de
cinco), embora tenha enfrentado alguns contratempos.
Notem que Maṅgala aqui é
o yogakākara, senhor de cinco e dez,
e está em parivartana com Sūrya, o
senhor de dois (outra casa relacionada a educação). Isso relaciona a família e,
particularmente o pai (Sūrya e a casa dez), a temas como poder, ainda mais
porque, partindo do Sūrya lagna, o parivartana envolve 1-10, com Maṅgala
sendo também senhor de seis (inimigos).
Como a cinco é também a
dois da quatro, ela funciona como māraka
para a mãe. Não só, partindo do Chandra lagna,
o parivartana se converte em um dainya parivartana, já que envolve 8-11,
com Maṅgala estando exatamente na oito de Chandra, logo, fica claro que a mãe
passaria por dificuldades de saúde e estaria propensa a morte. Digo propensa
porque precisamos ver uma série de coisas antes de determinar esse como um
período fatal, algo que nesse artigo não cabe expor.
Em suma, essa daśā trouxe conquistas políticas para o
seu pai, mas mistas a dificuldades, pois Maṅgala também rege a seis a partir de
Sūrya, além desse ser um parivartana entre
krūra-grahas, com Maṅgala ainda
olhando Sūrya por dṛṣṭi. Fora isso,
sua mãe sofreu muito ao longo do período e acabou morrendo, devido ao parivartana se converter em um dainya a partir de Chandra. Já para
Indira, além do impacto emocional que tais eventos ligados a família lhe
causaram (e que também guardam relação com a disposição do parivartana a partir de diferentes lagnas), houve um bom progresso nos estudos (tema de dois e cinco,
justamente), que é o que poderíamos esperar de um mahā parivartana abrangendo a fase dos 12 aos 19 anos dela.
Possivelmente houve também benefícios a nível financeiro para a sua família, já
que esse parivartana é também um dhana yoga.
Mahādaśā
de Guru
Entre 1954 e 1970, Indira
viveu a mahādaśā de Guru, o regente
de seis e nove a ocupar a onze, em dainya
parivartana com Śukra, regente de quatro e onze. Esse foi o período em que
ela ascendeu a cargos como os de presidenta do Congresso, ministra da
Informação & Radiodifusão e até mesmo primeira ministra. Ela saiu vitoriosa
em rixas políticas, mas também chegou a ser presa por um ano e teve de atuar
politicamente em meio à guerra sino-indiana. O interessante é que o fato dela
ser uma mulher teve uma repercussão muito importante na sua carreira política,
fator esse que foi, inclusive, usado para impulsioná-la, gerando assim
benefícios para a causa política em que ela estava inserida. Por sinal, ela
representou o feminismo para as indianas em muitos momentos ao longo dessa daśā. Isso tudo tem relação direta com o
parivartana de Guru com Śukra
(mulheres), justamente.
Nessa mesma daśā ela perdeu seu esposo, em 1960,
algo que está bem refletido no parivartana,
pois além das indicações visíveis a partir do lagna, temos Guru como kāraka
de esposo em parivartana com
Śukra na oito do mesmo, o que torna esse um parivartana
de 1-8, ou seja, um dainya. Mas
não foi apenas o seu esposo que morreu nesse período. O seu pai partiu em 1964,
exatamente durante o bhukti de Śukra,
que, nesse caso, é um māraka para
Sūrya, situado em um māraka-bhāva a
partir do mesmo. O interessante é que esse é um status de que Guru também
partilha, pois é o senhor de dois de Sūrya e está situado na sete do mesmo.
Isso é o que no Laghu Parāśarī se denomina como um daśā-bhukti de sadharmi-grahas,
grahas de natureza semelhante, o que
traz confluência para os efeitos em questão.
Ao fim dessa daśā, depois de 1964, a Indira Gandhi
enfrentou dificuldades na sua carreira política. Pois o país estava passando
por uma crise econômica, a alta do desemprego, problemas na área comercial e
também no setor de alimentação. Isso contribuiu para que o seu partido perdesse
popularidade.
Logo, embora Guru esteja
situado na onze, enquanto senhor de nove, śakta
(poderoso – retrógrado, mas na sete de Sūrya, o que fortalece ainda mais o graha) e vargottama, pelo fato dele estar envolvido em um dainya parivartana, o período trouxe
conquistas, mas também muitas provações e dificuldades com inimigos, crises e
perdas familiares. Inclusive, tais perdas têm mais relação com a disposição do parivartana a partir de diferentes
pontos do mapa do que com a situação do mesmo a partir do lagna.
Mahādaśā
de Śani
A mahādaśā de Śani começou em 1970 e foi a última que a Indira viveu,
pois sua morte se deu no final de 1984, no bhukti
de Rāhu. É notável, em relação a isso, que Śani é um māraka e o senhor da oito em um mahā
parivartana com Chandra, seu grande inimigo, que nesse caso se desloca para
a sete, um māraka-bhāva. Pior ainda,
Śani está cercado por krūra-grahas, o
que constitui um papa kartari yoga,
além dele também residir em um māraka-bhāva
a partir de Chandra.
Essa fase, especialmente
na década de setenta, levou Indira a ganhar bastante popularidade, pois suas
políticas internas e internacionais foram bem-sucedidas. Por exemplo, para citar
apenas alguns eventos, a Índia saiu triunfante sobre os problemas que vinha
vivenciando com o Paquistão e também conseguiu desenvolver armas nucleares, o
que elevou o status do país. Mesmo a relação da Índia com a África, que antes
se mostrava tumultuosa, apresentou melhoras significativas, reforçando assim
sua imagem anti-imperialista. Além disso, as relações comerciais da Índia com a
União Soviética também se mostraram produtivas durante a daśā de Śani.
Analisando eventos como
esses, fica evidente que tudo isso guarda uma relação direta com o mahā parivartana envolvendo os regentes
de um e sete, o que representaria as boas relações e, como Śani é também senhor
de oito, isso viria acompanhado de benefícios ligados aos recursos desses
parceiros de negócios e relações políticas. Isso ainda é reforçado pelo fato de
Śani ocupar seu navāṁśa e triṁśāṁśa próprio, além de estar bem
situado a partir do lagna, de Chandra
e mesmo de Sūrya. Em termos de yogas,
Śani participa de um kalpadruma, puśkala e também de um mahārāja yoga, todas configurações
relacionadas a aquisição de poder.
No final da década de
setenta, a Índia enfrentou uma inflação muito alta e uma taxa de desemprego
significativa, porém, quando a Indira reobteve o cargo de primeira ministra, no
começo da década de oitenta, as coisas melhoraram muito, e em um intervalo de
poucos anos. A inflação, por exemplo, caiu para o menor nível desde a década de
sessenta, que foi quando tais problemas começaram a despontar.
Em junho de 1980, no
entanto, a Indira vivenciou um evento trágico: perdeu seu filho em um acidente
de avião. Nessa época ela vivia o bhukti de
Śukra (que ativa o dainya parivartana).
No caso, Śukra está atuando como um māraka
para a cinco, além de ocupar a oito de Guru (filhos) e formar um parivartana com o mesmo. Porém, devemos
procurar entender também porque isso ocorreu na mahādaśā de Śani. No caso, Śani é o regente de oito (tragédias) em parivatana com Chandra (família), o que
soa um pouco mais indireto. Porém, como ele está na três (oito da oito) de Guru
e na oito do regente de cinco a partir de Chandra, ou seja, Śukra, isso
acometeria diretamente a um filho. A disposição de Śukra em relação a Śani é
hostil, já que ocupa um dusthāna do
mesmo, ou seja, essa seria uma daśā
tensa.
Por fim, no bhukti de Rāhu, que começou no final de
1984, a Indira foi assassinada por seus dois guarda-costas sikhs, os quais fizeram isso motivados por vingança, já que nesse
mesmo ano, Indira havia ordenado um ataque ao Templo Dourado dos sikhs, o que ficou conhecido como
Operação Estrela Azul. Como já expliquei anteriormente porque essa mahādaśā foi fatal para a Indira, acho
desnecessário dar mais detalhes.
Conclusão
A conclusão que podemos
extrair desse estudo é de que o parivartana
basicamente ativa os resultados do graha
que preside a mahādaśā, mas sempre
relacionando também os resultados do graha
que efetiva o parivartana com o
mesmo. Já vi astrólogos dizerem que devemos inverter os resultados das mahādaśās de grahas que formam parivartana,
ou seja, para a Indira, na daśā de
Guru ela viveria os resultados da daśā de
Śukra, enquanto que na de Maṅgala ela viveria os de Sūrya, e na de Śani, os de
Chandra. Isso, no entanto, não funciona na prática e nem sequer é lógico.
Qualquer um que leia com atenção o que escrevi acima verá que os resultados predominantes
da daśā são exatamente os do graha que preside a mahādaśā.
Outra coisa que é muito
propagada em relação aos parivartanas
é de que deveríamos considerar que os grahas
mudam de signo, ou seja, para a Indira, Śukra atuaria em touro, enquanto Guru
atuaria em sagitário. Mas acho que nem vale a pena discutir isso. Para mim soa
como falar que um graha retrógrado
atua no signo anterior ou obtém a dignidade do sétimo signo a partir dele. Nada
disso é verdade. O graha atua
exatamente onde ele está. Não é preciso realizar nenhum desses malabarismos envolvendo
posições virtuais. Parivartana é tão
somente uma configuração que gera um forte laço entre os temas que dois grahas presidem em um mapa. Logo, se há
um parivartana entre os regentes de
dois e onze, isso vai funcionar como um dhana
yoga, ao passo que um parivartana entre
regentes de seis e um funcionará como um ariṣṭa
yoga, etc. Isso, no entanto, não implica inverter posições, dignidades, o
que for.
A dificuldade na interpretação do parivartana se dá apenas por conta de um fator: a falta de senso comum. Inclusive, inicialmente eu também tive dificuldade de entender como essa configuração funcionava, mas isso só perdurou pelo tempo em que eu preferia estudar teorias onde houvesse o maior número de enfeites intelectuais do que mapas nos quais as configuração em questão se encontravam presentes. Tão logo comecei a observar casos, tudo ficou muito mais claro, pois em jyotiṣa não há nada mais eficaz para resolver dúvidas como essa do que ter uma base teórica clássica combinada com a observação de uma série de exemplos. Espero, portanto, que esse estudo de caso traga esclarecimento a respeito do assunto.
oṁ tat sat
Júpiter na casa badhaka influenciou nesse dainya parivartana com Vênus?
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