De uns dias para cá muitas pessoas tem me solicitado uma explicação
astrológica sobre o que está ocorrendo no mundo, portanto, decidi escrever algo
do que percebo.
Em 26.12.2019 ocorreu um eclipse solar em sagitário, envolvendo também Júpiter
em uma orbe estreita com a dos luminares. Esse eclipse foi visível na Ásia e
também na Austrália. A princípio, por Júpiter participar da configuração e
Saturno estar distante longitudinalmente, embora também em sagitário, minha
ideia foi de que esse não seria um eclipse tão negativo assim, pois há
instruções nas escrituras de astrologia que dizem que quando um benéfico
predomina sobre um eclipse, seus efeitos serão positivos. Bem, ocorreu o
contrário, o efeito foi muito negativo, pois na Austrália ocorreram incêndios
gigantescos, enquanto que na Ásia surgiu o corona vírus, justamente no fim do
mês de dezembro.
Creio que a razão de Júpiter não ter amenizado os efeitos do eclipse se deve ao
fato dele ter ficado combusto no dia do eclipse. Sua orbe em relação aos
luminares era de apenas 2º, o que tornou essa uma combustão muito severa.
Quando há aflições significativas a Júpiter, isso afeta o ākāśa, o elemento éter, que é responsável por acomodar todas as coisas, mantendo-as unidas e em harmonia. Logo, com sua aflição, invés de harmonia, o que obtemos é exatamente o oposto: desarmonia, caos, conflitos, imoralidade e impiedade. Naturalmente, isso inclui também epidemias, pois aflições a Júpiter evocam a ira dos devas, que é uma das três fontes de sofrimento nesse mundo (as outras duas são os sofrimentos causados por nós mesmos e por outros seres). O termo sânscrito usado para se referir a isso é adhidaivika-kleśa, o que inclui todos os tipos de desequilíbrios da natureza, os quais refletem a ira dos devas (que personificam as forças da natureza) em relação a impiedade e o egoísmo humano.
Só para deixar bem claro como Júpiter está diretamente relacionado com
esses eventos catastróficos, sejam eles ligados a epidemias, ou não, cito
abaixo algumas datas importantes e as configurações em que Júpiter estava
envolvido:
1333: Júpiter estava em aquário, signo de Saturno, em um kendra a
partir dos nodos, enquanto Saturno ocupava a oito do mesmo. Esse foi o ano em
que a peste negra começou a se disseminar pela Europa.
1817: Júpiter se encontrou com Ketu no signo de escorpião, sob olhar de
Saturno. Foi esse o ano em que começou uma epidemia global de cólera.
1850: Júpiter estava em leão, um signo adjacente ao de Rāhu (a observação das
influências de signos adjacentes é especialmente considerada em nāḍī-jyotiṣa),
que ocupava câncer, enquanto Saturno estava na oito de Júpiter. Nessa época a
tuberculose começou a se disseminar com mais intensidade.
1896: Júpiter estava em câncer, um signo adjacente ao de Ketu, que ocupava
leão. Júpiter também estava recebendo um olhar de Saturno. Nesse período a
varíola é quem se tornou um grande problema mundial.
1914: Júpiter estava em capricórnio, sua debilitação, opondo o Sol e em um
signo adjacente ao ocupado por Rāhu, que residia em aquário. Saturno ocupava a
seis de Júpiter, enquanto Marte ocupava a oito. Essas foram as configurações
presentes no dia do início da primeira guerra mundial.
1918: Júpiter estava em gêmeos, cercado por Saturno e Ketu. Nesse período a
gripe espanhola e o tifo causaram danos significativos ao redor do mundo.
1939: Júpiter ocupava peixes, um signo adjacente a áries, onde estavam Ketu e
Saturno. Esse é o período em que a segunda guerra mundial teve início.
1960: Júpiter e Saturno se encontraram, formando uma grande conjunção em
sagitário. Nesse ano irrompe uma epidemia de febre amarela que atingiu
principalmente a Etiópia.
1981: Júpiter e Saturno se encontraram, formando uma grande conjunção em
virgem. Nesse ano a AIDS foi descoberta nos EUA.
Notem que em todos esses casos é clara a influência de Saturno, ou/e dos nodos
sobre Júpiter, seja por conjunção, olhar, ou por proximidade em termos de
signos. Ironicamente, no que se refere as pandemias, boa parte delas guarda
relação com doenças que foram transmitidas a partir de animais, ou seja,
consequências naturais da exploração da vida alheia. Agora, no momento
presente, é justamente isso que ocorre: uma pandemia que teve origem no consumo
de morcegos e serpentes, ao que tudo indica. Astrologicamente, a configuração
presente segue os mesmos padrões de configurações anteriores: temos Júpiter em
sagitário, conjunto a Ketu e muito próximo de Saturno. Inclusive, será em
21.12.2020 que Júpiter se encontrará realmente com Saturno. Isso se dará no
signo de capricórnio, onde Saturno tem força e Júpiter se debilita. Essa será a
próxima grande conjunção, que ocorre sempre com intervalos de cerca de 20 anos.
Mas então alguns podem se perguntar: porque os efeitos negativos da grande
conjunção estão se dando antes mesmo da conjunção de Saturno e Júpiter se
efetivar? A razão é: devemos levar em conta uma orbe de distância entre ambos,
que nesse exato momento é estreita, pois é de apenas sete graus, embora Júpiter
e Saturno estejam em signos distintos (Júpiter em sagitário e Saturno em
capricórnio), algo que não ocorreu quando o vírus foi descoberto, pois na época
Júpiter e Saturno estavam ambos em sagitário. Por sinal, o problema não se
resume apenas na influência de Saturno sobre Júpiter, pois agora Júpiter está
cercado pela influência de outros maléficos. Ele reside a 28º de sagitário,
enquanto Saturno está a 5º de capricórnio, Marte a 27º de sagitário e Ketu a
10º de sagitário. Daí do alerta em relação ao corona estar aumentando tanto nos
últimos tempos, pois, inclusive, sagitário é o signo onde se deu o eclipse
solar que anunciou o advento da doença.
Uma aflição severa como essa a Júpiter só poderia ter uma repercussão negativa,
pois ele é jīva-kāraka, um significador da vida e, especialmente do
reino humano, que agora sofre com as reações de suas próprias atividades
impiedosas.
Mesmo partindo de um estudo de nimittas (sinais), fica
evidente que o problema que estamos enfrentando é uma reação a forma como a
humanidade tem procedido em relação a natureza e ao trato com outros seres. Por
exemplo, a epidemia começou na China, em Wuhan, ao que tudo indica em um
mercado de frutos do mar, onde são servidas, inclusive, sopas de morcego e
outros pratos exóticos, incluindo até mesmo serpentes. Além disso, a China é o
maior exportador do mundo, de tudo que se possa imaginar, ou seja, é o país que
supre a maior parte da demanda mundial de consumo, um verdadeiro fenômeno da
exploração materialista. Logo, a doença ter se desencadeado justamente lá não é
uma coincidência.
No entanto, colocar a culpa sobre a China é uma grande hipocrisia. Pois ela só
serviu de gatilho para ativar uma conscientização massiva a respeito de como
estamos devorando o planeta, o que inclui a exploração animal, mas vai além
disso, pois envolve todo tipo de exploração abusiva dos recursos naturais e má
conduta humana. Logo, esse não é um problema da China, mas sim um problema
mundial. Em essência, o que a China faz não é tão diferente do que outros
países fazem. As formas mudam, mas a essência em si é a mesma: exploração
desmedida.
Outra coisa que me chamou a atenção é o fato do COVID 19 afetar justamente os
pulmões. O āyurveda e a medicina chinesa reconhecem que as
doenças pulmonares guardam relação com a tristeza. Isso está de acordo com
o jyotiṣa também, que relaciona os pulmões a Chandra (Lua), o
significador das emoções, que quando aflito gera justamente infelicidade e,
consequentemente, doenças respiratórias, etc. Portanto, não seria o COVID 19
uma reação da natureza baseada justamente na sua própria infelicidade? Afinal,
temos avisos constantes de organizações, incluindo a ONU, sobre a necessidade
urgencial de revermos nossa administração dos recursos naturais. Em 2012 foi
até mesmo recomendado pela ONU que a população mundial adote uma dieta
predominantemente, senão exclusivamente, vegana, pois não será possível manter
a pecuária por muito tempo, já que isso implica uma devastação massiva de fauna
e flora.
Fora isso, há também questões como o aquecimento global, causado pela emissão
massiva de CO2, as ameaças a Amazônia (o pulmão do mundo) que se devem em
grande parte a pecuária, a poluição dos oceanos, enfim, tantas questões sensíveis
e que, não tenho dúvidas, refletem a tristeza que permeia a natureza e o reino
humano, que segue vazio e materialista, talvez como nunca esteve em toda a
história da humanidade.
Em vista de tudo isso, o que é demandado em um momento como esse é uma grande
revisão de valores. Além disso, como astrologicamente esse momento está
representado na aflição severa a Júpiter, uma coisa que pode sim fazer uma
grande diferença é uma absorção coletiva em mantras/orações.
Júpiter representa, dentre os elementos, o mais sútil de todos: o éter, que é a
essência material mais básica, na qual a única coisa existente é a frequência,
ou seja, o som. Logo, usar dos sons divinos dos mantras e das
orações pode nos ajudar a se proteger da virulência que, antes de se materializar
na forma do vírus, existe em sua forma sútil, como uma vibração negativa e
triste no éter. Mantras e orações, por trabalharem justamente com vibrações
sonoras, são capazes de limpar o éter e restabelecer a harmonia tanto no espaço
interior quanto também exterior.
Na Índia, em 1898 houve uma epidemia avassaladora em Calcutá. Ela matou
milhares de pessoas e causou um grande alvoroço na região. Todos estavam
perdendo as esperanças, abandonando a cidade, etc. Mas então, um bābājī saiu
pelas ruas da cidade realizando nāma-saṅkīrtaṇa, o cantar
congregacional dos santos nomes de Kṛṣṇa. Inúmeras pessoas se uniram a ele,
incluindo pessoas que vinham de outras tradições religiosas. Depois desse
evento, a epidemia desapareceu, uma vez que a intensidade do saṅkīrtaṇa ajudou
a elevar a vibração e limpar o éter da virulência causada pela impiedade
humana. Isso prova que, antes das coisas existirem em suas formas densas, elas
existem nas suas formas sutis. Esse é um raciocínio simples, aplicado mesmo na
medicina chinesa e indiana, mas que, nos dias atuais, devido a essa era fria e
mecânica em que vivemos, a maior parte das pessoas já não se atenta mais, ou
tem parca consciência a respeito.
Vibrar pânico, se desesperar e agir de forma egoísta, do tipo “salve-se quem
puder”, definitivamente não é solução para o problema, senão que o alimenta,
como inclusive já tem alimentado. É justamente disso que esse vírus vive: de
tristeza e pânico. Sua origem não é outra senão essa, e não seria exagero dizer
que esse vírus é a própria tristeza assumindo uma forma. Portanto, o mais
inteligente nesse momento é, além de tomar os devidos cuidados em termos de
saúde, se absorver no cantar dos santos nomes, orar e vibrar esperança, invés
de medo. Aliás, não é só em momentos de dificuldade que deveríamos fazer isso,
mas a cada instante! A comunhão deve ser perene, do contrário, estamos apenas
barganhando com a Divindade, o que trará novas reações negativas sob formas
diversas.
Concluo esse escrito com uma citação de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī, um grande ācharya da minha tradição:
“Cante o mahāmantra Hare Kṛṣṇa[1] alto e com apego. Isso afastará a inercia, as pestes e todos os malefícios mundanos”.
oṁ tat sat
Ddvts Pranamas Prabhu 🙏
ResponderExcluirincrível estudo e mais incrível comentários...
Agradecemos a Sri Guru que te deu inteligência para nos ajudar mais um pouquinho a irmos saindo de nossa profunda escuridão
Só faltou lembrar que a doença se espalhou no mundo e afetou mais severamente os países com maior número de fumantes de tabaco, de narguilé e cigarros eletrônicos.
ResponderExcluirMaiores consumidores de tabaco:
1. China
2. Itália
3. Espanha
4. França
Maior consumidor de cigarros eletrônicos EUA
Maior consumidor de Narguilé: Irã
Hare krishna!!!
ResponderExcluirBom estudo e me identifiquei com vários pontos.(https://www.astrohoroscopo.net/)
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