Sobre o movimento retrógrado dos planetas

Marte em seu movimento retrógrado.

         Quando um planeta se aproxima da Terra, sua luminosidade aumenta e ele começa a recuar do ponto de vista terrestre, o que se dá devido a própria velocidade da Terra em relação ao planeta em questão. Esse fenômeno é chamado de retrogradação e em sânscrito de vakra-gati. Dentre os nove grahas utilizados no Jyotiṣa, o Sol e a Lua jamais ficam retrógrados, apenas Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno adquirem esse tipo de movimento temporário, enquanto os nodos lunares, Rāhu e Ketu, estão sempre retrógrados, exceto por alguns dias em que ficam em movimento direto - o que alguns astrólogos ignoram.

         Em seu BPHS, Parāśara trata a retrogradação como um fator de força para os planetas, o que é expresso no seguinte śloka:

...planetas que ocupam a sétima casa a partir do Sol são plenamente efetivos. – 7.28, BPHS

Entre a quinta e a nona casa a partir do Sol, os planetas ficam retrógrados, sendo que alcançam o ápice de força quanto se opõem ao Sol. Esse é o significado do śloka acima, mencionado por Parāśara. Mantreśvara, outro importante autor que data do século 13, também sustenta a visão de Parāśara, pois em seu Phaladīpikā ele diz:

Mesmo que um planeta ocupe o seu signo ou navāṁśa de debilitação, sua força será plena se ele estiver retrógrado e radiante. – 4.4. Phaladīpikā

Além de Parāśara e Mantreśvara, Vaidyanātha, autor do Jātaka Pārījāta, também é da opinião de que planetas retrógrados tornam-se mais poderosos. Isso pode ser estudado no segundo capítulo de seu livro, onde ele menciona as situações em que cada um dos planetas obtém força, incluindo a retrogradação entre elas. Portanto, há provas suficientes de que um planeta retrógrado é mais forte do que em seu movimento direto. No entanto, há algumas considerações importantes a serem feitas quanto a isso.

Nos cálculos do ṣaḍ-bala, as seis forças que um planeta pode obter, é dito que um planeta possui oito tipos de gatis[1], isso é, moções, que são: (1) sama – velocidade normal, (2) śighra – acelerado, (3) śighratāra – mais acelerado, (4) manda – lento, (5) mandatāra – mais lento, (6) kutila – estacionário, (7) vakra – retrógrado, (8) anuvakra – retrógrado, porém mais lento.

Cada uma dessas moções obtém 7.5, 45, 30, 30, 15, 15, 60 e 30 pontos de força (cheṣṭa bala), respectivamente. Dentre esses, percebam que o planeta retrógrado obtém o máximo de pontos: 60, porém, quando fica anuvakra, que é o momento em que ele está para recuar para o signo anterior ou quando já recuou, perde metade de sua força, ou seja, obtém apenas 30 pontos. Portanto, há uma diferença a ser considerada aqui entre vakra e anuvakra-gati [2], pois um é mais forte do que o outro.

Caso um graha esteja em vakra-gati, seus resultados se intensificarão, o que pode ser bom ou não, tudo depende da disposição do graha no mapa. Para determinar isso devemos considerar as regras básicas do Jyotiṣa, como regência e ocupação. Por exemplo, benéficos são favoráveis nas casas 1-2-4-5-7-9-10-11, enquanto maléficos geram melhores resultados quando ocupam 3-6-11.

Vejamos agora alguns exemplos:

 O mapa acima é da modelo Gisele Bündchen, a qual nasceu com Mercúrio em gêmeos na sétima casa, um bhadra mahāpurūṣa yoga[3]. Esse yoga por si só já faz o indivíduo famoso pelas características de Mercúrio, no entanto, a retrogradação do planeta intensificou ainda mais os resultados do mahāpurūṣa e fez com que Gisele Bündchen fosse reconhecida em 2007 como a modelo mais rica do mundo de acordo com o Guiness Book. Também já foi eleita em 2000 pela revista Rolling Stone como a modelo mais bonita do mundo. Além disso, depois da Princesa Diana, ela é a mulher que mais teve sua imagem exposta em capas de revistas, sendo a mídia relacionada a Mercúrio, justamente.

O príncipe Alfred nasceu com três grahas retrógrados: Saturno, Júpiter e Vênus. Desses, Vênus e Júpiter são benéficos sob o olhar de maléficos ocupando oito e doze, ou seja, dusthānas. Percebam que Saturno aqui está fortalecido ocupando seu próprio signo, retrógrado e influenciando tanto Júpiter quando Vênus (a qual já está aflita pelo Sol e Marte). Devido a isso, sua vida foi encurtada para apenas 55 anos, confirmando o que diz Parāśara a respeito de benéficos retrógrados em dusthānas sob aflições prejudicarem a longevidade.

O guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page, é um caso raro, pois em seu mapa de todos os cinco planetas que podem ficar retrógrados (Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno), quatro se encontram nessa condição. Em uma situação como essa apenas duas coisas são possíveis: um tremendo sucesso ou um completo desastre. No entanto, visto que os planetas estão bem colocados, Jimmy é um caso de tremendo sucesso, porém, não sem a rebeldia típica dos planetas retrógrados, os quais agem de uma forma mais individualizada. Por exemplo, sua oitava casa conta com Saturno e Marte retrógrados em um signo de Vênus, a qual está formando um parivartana yoga (troca de posições) com Marte e olhando ambos os planetas. Essa combinação indica o seu abuso das drogas, porém, visto que os maléficos são resilientes e o olhar de Vênus estende uma influência protetora sob a oitava casa, ele sobreviveu aos seus excessos. Notável também é a situação de Júpiter que, devido a estar retrógrado na décima primeira casa, a qual é também a terceira da Lua, forma um vasumati yoga (uma combinação de riqueza que envolve benéficos em 3-6-10-11 a partir do ascendente ou da Lua.), colaborando para o seu crescimento financeiro. Em 2012, de acordo com a Sunday Times Rich List, avaliou-se que Jimmy contava com uma fortuna de 75 milhões de euros. O Mercúrio retrógrado conjunto ao Sol sob o olhar de Júpiter também colaborou com a sua situação financeira, visto que está a formar um dhana yoga (regente de onze conjunto ao regente de nove é um yoga para riqueza) na terceira casa, a qual é relacionado a performance artística.

Hare Kṛṣṇa

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[1] Bṛhat Parāśara horā śāstra, 27.21-23

[2] Panchādhyāyi de Chandra Miśra ji, 2.37-40.

[3] Mercúrio angular (1, 4, 7 ou 10) em domicílio, mūlatrikoṇa ou exaltação forma bhadra mahāpurūṣa yoga – Bṛhat Parāśara horā śāstra, 77.1-2; Sārāvalī, 37.16-18.