sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sūrya yogas: que impacto você tem sobre o mundo?

De acordo com os textos clássicos há três tipos de Sūrya yogas, ou seja, yogas solares: veśi, vośi e ubhayachara yoga. Esses yogas são muito importantes e a prova disso é de que no BPHS eles são um dos primeiros yogas a serem tratados nos capítulos que se destinam a isso. Os Sūrya yogas ajudam a definir a extensão de suporte que uma pessoa receberá do mundo, assim como o impacto que ela terá sobre o mesmo. Por conta disso, esses yogas são muito importantes para determinar status, sucesso, e também o caráter do indivíduo. 

A formação desses três yogas é muito simples, ela se dá da seguinte forma:

   (1)  Veśi yoga: se um planeta ocupa a dois do Sol, veśi yoga se forma.

   (2)  Vośi yoga: se um planeta ocupa a doze do Sol, vośi yoga se forma.

(3)  Ubhayachara yoga: se a dois e doze do Sol estão ocupadas por planetas, ubhayachara yoga se forma.

O significado desses yogas, de acordo com o clássico Sārāvalī, do rei Kalyana, são:


         (1)  Veśi yoga: aquele nascido sob veśi yoga terá problemas de vista, será firme em sua palavra, trabalhador e seu corpo será curvado. Assim dizem os yavanas. – 2.14.

         (2)  Vośi yoga: aquele nascido sob vośi yoga possuirá um excelente discurso/voz, terá boa memória, ocupará um cargo, possuirá um corpo forte acima da cintura, será igual a um rei e uma pessoa genuína. – 6.14.

         (3)  Ubhayachara yoga: aquele nascido sob ubhayachara yoga será paciente, muito afortunado, de um corpo bem proporcionado, firme, profundamente forte, não muito alto, pleno de tudo, instruído, feliz, terá muitos servos, protegerá seus parentes, será igual a um rei, sempre entusiasmado e desfrutará de prazeres – 11.14.

Além dessas definições clássicas, podemos entender que os Sūrya yogas ajudarão a delinear a extensão de recursos e facilidades que uma pessoa receberá do mundo, pois de acordo com Parāśara, o Sol indica Sarvātmā – a alma total (Paramātmā), ou seja ele descreve no mapa como enxergamos o mundo e de que forma o mundo nos afeta, ou mesmo como nós o afetamos. Quando o Sol está cercado de benéficos, isso indica que o mundo oferecerá muitos recursos ao nativo, pois é da natureza do Sol distribuir, ele é o provedor, tal qual o pai que nos sustém até alcançarmos a maioridade. Já quando cercado de maléficos, isso trará má fama, escândalos públicos e humilhação.

O Sol é também o significador do caráter, fama, personalidade e força espiritual. Portanto, se os Sūrya yogas se formam no mapa, isso indica que a pessoa desfrutará de boas indicações quanto a esses assuntos, a menos que os planetas envolvidos sejam maléficos, formem maus yogas, ou estejam fracos. Nos meus estudos, percebi que a dois do Sol pode ser muito útil para definir a fonte de renda de um indivíduo, pois indica aquilo que o mundo nos provê como recurso. Resta analisar em que casa tais planetas que ocupam a dois do Sol caem em relação ao lagna e também em relação a Lua, pois assim entenderemos de que forma tais recursos serão obtidos. Já a doze do Sol determina aquilo que sacrificamos, oferecemos ao mundo. Por exemplo, Albert Einstein possuía Júpiter na doze do Sol a ocupar a nona em aquário. O mesmo ofereceu ao mundo o seu conhecimento, doando-se através do papel de um professor (Júpiter ainda rege a décima e forma um excelente rājā yoga com Saturno).

Também devemos levar em conta que os planetas que cercam o Sol estão a receber um destaque especial no mapa, pois afinal, eles estão logo ao lado do rei, tais como ministros. Os yogas que tais planetas formam ficam mais evidenciados, e um brilho especial os toma, pois indicarão qualidades e características que logo saltarão aos olhos de quem entrar em contato com o indivíduo, pois afinal, estão dando suporte ao Sol, o significador da personalidade do indivíduo e daquilo que o faz ser reconhecido como único.

Vejamos um exemplo:

Allan Kardec


Allan Kardec conta com um ubhayachara yoga formado por Vênus na doze do Sol e Júpiter na dois do mesmo. Um pravrajyā yoga (yoga de renúncia, dedicação a uma causa espiritual) se forma na sexta – quatro ou mais planetas no mesmo signo gera pravrājya – com o Sol envolvido, sendo que apenas benéficos o cercam, o que fez de Kardec uma pessoa muito digna, servil, generosa, instruída e que se dedicaria a uma causa espiritual. Júpiter na dois do Sol favorece ganhos através do ensino, como um professor, o que é reforçado por Júpiter ocupar a sétima (dez da dez) e olhar também a décima do Sol e da Lua, além da onze do lagna que se refere aos ganhos. Júpiter é regente de nove, e por olhar o lagna confirma sua atuação como um professor, pedagogo e também como um religioso. De acordo com Kalyana, Júpiter formando veśi yoga indica que o nativo acumulará dinheiro, será instruído e terá um bom coração[1].

Agora vejamos Vênus, ela ocupa a quinta do ascendente, doze do Sol (e também da Lua). Kalyana atribui valor, fama, virtude e reputação aqueles que possuem vośi yoga formado por Vênus[2]. No caso de Kardec, Vênus é regente das casas dois e sete, o que indica que ele sacrificaria suas finanças (2) e prazeres (7) para dedicar-se mais ao mundo, além de não ter tido filhos (5), mesmo sendo casado. No wikipedia encontramos a seguinte citação ao seu respeito:

“Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Nesse período, preocupado com a didática, elaborou um manual de aritmética, que foi adotado por décadas nas escolas francesas, e um quadro mnemônico da História da França, que visou facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país.”

Como se pode ver, Kardec dedicou-se muito aos seus alunos (5), além de ter se preocupado com a democratização do ensino (5) público, o que fica evidente pela influência de Vênus e também de Júpiter no signo de libra, ambos a cercar o Sol e a formar rājā yogas, o que o enobreceu ainda mais perante o mundo. Kardec também publicou um livro em 1857 no daśā de Saturno-Vênus, sendo a quinta casa muito importante para autores, e Vênus ali a receber o olhar de Júpiter por rāśi dṛṣṭi confirma que ele deixaria ao mundo algumas contribuições literárias.

Por fim, partindo desse exemplo podemos compreender que as casas dois e doze do Sol, quando ativadas indicarão uma presença mais marcante do indivíduo em relação ao mundo. Os planetas envolvidos também terão forte influência em sua natureza, como aqui podemos ver no mapa de Kardec pela influência de Júpiter e Vênus sobre o Sol, sendo ambos brāhmaṇas, o que conferiu a ele uma natureza intelectual, sábia e benevolente.

Hari Om Tat Sat



[1] 3.14. Sārāvalī
[2] 8.14. Sārāvalī

Um comentário:

  1. Haribol, olá Goura... tenho ubhayachara yoga. Meu sol na 4ª junto com mercurio em aquário, venus na 3ª, e jupiter e lua na 5ª.... logo entra meu maha dasha de vênus, que está em utarashada, nakshatra regida pelo sol. É possível que essa yoga seja ativada, visto que as yogas também tem q ser ativadas pelo dasha de algum planeta em questão?! Qual sua analise ?? Hare Krishna, prabhuji, aliás foi um grande prazer conversar contigo pessoalmente no domingo, não é sempre que encontramos jyotishs por aqui... vancha kalpa !!!

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