As vezes encontramos
mapas onde quatro ou mais grahas se
concentram em um mesmo signo, o que em geral não é um bom sinal. Os astrólogos
helenísticos chamaram essa configuração de stellium.
No jyotiṣa não há um termo equivalente a stellium,
mas apenas graha-yoga que quer dizer
'união de grahas' e, de acordo com o
número de grahas envolvidos, dá-se
uma definição numérica ao yoga.
P. e., se há três grahas envolvidos, o nome de tal graha yoga é tri-graha-yoga, se são quatro, chatur-graha-yoga,
se cinco, pancha-graha-yoga, seis, ṣaḍ-graha-yoga e se envolver todos os
sete (de Sūrya a Śani), sapta-graha-yoga.
Nesse caso, os nodos (Rāhu e Ketu) não são incluídos, pois pertencem ao grupo
de chāyā-grahas (grahas sombra, incorpóreos), os quais apenas acentuam efeitos,
tornando-os mais extremos.
Há vários textos de
jyotiṣa que trataram dos graha-yogas,
mas poucos delinearam os efeitos específicos de cada um dos yogas que envolvem quatro ou mais grahas. Um desses textos é a Sārāvalī de
Kalyāna Verma, o qual dedicou os capítulos 15-19 a descrever os efeitos de yogas envolvendo de dois a até no máximo
seis grahas. Sapta-graha-yoga foi ignorado, pois na verdade o seu nome é gola yoga, cujos efeitos são indigência, preguiça, ignorância, desonra, tristeza e impureza, de acordo com o cp. 21 da Sārāvalī.
O propósito desse artigo não é descrever cada graha-yoga, mas algumas dicas dadas por Kalyāna, p. e., são de que se há uma conjunção entre muitos benéficos, o indivíduo goza de riqueza, soberania e fama, ao passo que a conjunção entre os três maléficos (Sūrya, Śani e Maṅgala) costuma gera azar, indigência, feiúra, insolência e tristeza (16.37-38).
No que se refere a pancha e ṣaḍ-graha-yoga (conjunções de cinco ou seis grahas), Kalyāna diz que em geral essas configurações são causa de
pobreza, tristeza e estupidez (vide os horóscopos de Charles Baudelaire e
Johannes Morinus) e que mesmo quando não há conjunção, mas influência mútua
entre cinco ou seis grahas por
oposição, os efeitos são similares (19.08). Porém, no capítulo 20 da Sārāvalī,
intitulado pravrajya yoga ādhyaya,
Kalyāna trata de configurações que conduzem a vida renunciada, os chamados pravrajya yogas, sendo que a maior parte
desses yogas é formado pela conjunção
de quatro, cinco ou seis grahas. Isso nos
mostra que nem sempre a pobreza que muitos grahas
conjuntos tendem a causar, especialmente no caso dos pancha e ṣaḍ-graha-yogas, é simplesmente causa de infelicidade e miséria,
pois pode também representar o desligamento do indivíduo em relação a sociedade
e a vida materialista, por opção espiritual.
Todos os textos de
jyotiṣa que tratam dos pravrajya yogas
mencionam que quatro ou mais grahas
em um mesmo signo podem impelir o indivíduo a iniciar-se em uma tradição
espiritual, levando assim uma vida de sacrifício e contemplação. Mas, apesar de ser dito
que chatur, pancha ou ṣaḍ-graha-yoga seja causa de renúncia, nem sempre vemos isso
acontecer.
Já me deparei com casos onde o indivíduo levou uma vida de fama e poder
político, como é o caso de Rajiv Gandhi, R. H. Peter Kingsley, Bhumipol, Nat
King Cole, Friedrich Wilhelm IV, George VI, etc., e também com casos onde o
indivíduo viveu marginalizado, como é o caso de Charles Bukowski (álcoolatra e
escritor) e Charles Manson (um criminoso).
Logo, não basta um chatur, pancha ou ṣaḍ-graha-yoga para que o indivíduo se torne um renunciante, é
preciso uma confluência de elementos espiritualizantes no mapa. Ou seja,
devemos notar com cuidado os grahas
envolvidos e suas forças, a estreiteza de suas conjunções, as casas e vargas que ocupam, o lagna, etc.
Veja o mapa acima,
pertence a Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura, o jagad guru do vaiṣṇavismo
gaudiya. Em seu mapa há quatro grahas
em capricórnio, com Śani os dispondo na sete a formar um ṣaṣa mahāpuruṣa yoga, enquanto Sūrya, Śukra e Budha ocupam a oito
por bhāva chakra. Essa configuração
por si só já é sugestiva, no entanto, a confirmação de sua renúncia vem pela
conjunção de Chandra, o lagneśa, a
Guru, senhor de nove, a colocação de Ketu na cinco (b. chakra) e de Maṅgala, senhor de cinco e dez, na nove, em peixes.
Note agora o mapa
acima, de Charles Manson. Inicialmente vemos Sūrya junto apenas de grahas benéficos na sete, o que seria
bom, não fosse o fato de Sūrya estar debilitado, Maṅgala ocupar a cinco
(desequilibra o intelecto) e Chandra estar conjunto a Śani, Rāhu e Gulika no
taciturno capricórnio. Isso fez de Charles Manson não um renunciante, mas um
criminoso e um doente mental.
Rajiv Gandhi, filho de
Indira Gandhi foi o primeiro-ministro da Índia e líder do Partido do Congresso
Nacional Indiano. Morreu cedo, assassinado por extremistas tamils, mas teve a
sua parcela de colaboração política. Em seu mapa há cinco grahas em leão, os quatro benéficos e Sūrya, o que nas palavras de Kalyāna seria causa de soberania, riqueza e influência social. Todos os grahas,
exceto Chandra, senhor de doze, formam rāja
e dhana yogas no signo
relacionado a nobreza e a autoridade. Notem também que Śani e Rāhu ocupam a
onze (b. chakra), o que favoreceu o
seu trabalho coletivo e lhe deu a garra para perseguir objetivos mundanos,
especialmente. Logo, ao invés de renunciar ou se marginalizar, Rajiv mergulhou
no mundo da política.
Esses três exemplos, ainda que brevemente explicados, já nos
ajudam a compreender um pouco sobre como a diferenciação de efeitos pode ser
realizada quando encontramos graha-yogas envolvendo
muitos grahas.
Om
tat sat
[1] Yogas que envolvem a distribuição dos
sete grahas em um, dois, três,
quatro, cinco, seis ou sete signos.
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