terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Trânsitos de março de 2019

Neste mês de março, os trânsitos que chamam a atenção são os seguintes:

05.03 Budha retrograda à partir de 5º de peixes o que cessa apenas no dia 28.03 à 21º de aquário.
06.03 Rāhu ingressa gêmeos e Ketu ingressa sagitário.
14.03 mīna saṁkrānti (ingresso de Sūrya em peixes).
20.03 tem início chaitra śukla prātipada, o ano novo; começa o outono.
21.03 Śukra ingressa aquário.
22.03 Maṅgala ingressa touro.
29.03 Guru ingressa sagitário.

O que se pode dizer sobre isso é:

(1) Com a mudança dos nodos do eixo câncer-capricórnio para o eixo gêmeos-sagitário, teremos uma conjunção entre Ketu e Śani (Sat) que se acentuará nos meses seguintes. Inclusive, no mês de junho essa conjunção tem seus efeitos maléficos potencializados, em virtude da oposição de Sūrya  (Sol) e Maṅgala (Mar) no signo de gêmeos. Atenção àquilo que tais trânsitos afetaram em seu mapa, sejam casas ou grahas. Não é bom planejar atividades auspiciosas para o mês em questão, o que falarei em mais detalhe quando ele já estiver mais próximo.

(2) Com a mudança para a estação do outono, de acordo com o āyurveda, faz-se necessário a adoção de medidas anti-vāta, especialmente para aqueles cuja prakṛti é vāta. Toda mudança de estação fragiliza o corpo, portanto, certos cuidados especiais são necessárias algum tempo antes, durante e depois de tais mudanças.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

A importância das escrituras

O jyotiṣa, sendo uma astrologia de origem indiana, naturalmente se apoia nos Vedas, Purāṇas, Itihasas e nas Upaniṣads, tanto para sustentar-se filosoficamente quanto também para recomendar upayas (medidas pacificadoras). Logo, sem entender o que a literatura clássica tem a dizer sobre coisas como a natureza do tempo, deste mundo, do karma, etc., não há como praticar o jyotiṣa em bases substanciais. É essencial entender a referência maior do jyotiṣa, é a literatura clássica. Logo, qualquer argumentação deve se dar tomando-a por base.

Nesse contexto, em relação a natureza do tempo, por exemplo, vemos que há diferentes opiniões entre os astrólogos. Alguns aceitam o determinismo radical, outros o determinismo moderado e há aqueles que acreditam que os astros apenas inclinam e não determinam nada.

Como solucionar um problema como esse? O primeiro passo é consultar o śabda, ou seja, Vedas, Purāṇas, Itihasas e Upaniṣads. Dentre essas referências, prasthāna-traya, isso é, a Bhagavad gītā, certas Upaniṣads e o Vedānta sūtra são literatura padrão para todas as tradições de vedānta. Dessas referências, a Bhagavad gītā é a mais excelente, pois além de ser compacta, é aceita por todas as tradições de Vedānta como o estudo crítico de toda a literatura clássica. Outra excelente referência é o Bhāgavata purāṇa, que de acordo com certos Purāṇas - em especial o Garuḍa purāṇa -, é o rei de todos os Purāṇas e o comentário natural ao gāyatrī, Vedānta sūtra e ao Mahābharata.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O que é necessário para uma consulta ser bem sucedida?

Para uma consulta ser bem sucedida, não basta o astrólogo ter muito conhecimento. Nīlakanta, por exemplo, em seu Praśna tantra menciona que quando indivíduos grosseiros, desprovidos de fé e que zombam dos śāstras (escrituras), fazem perguntas a um astrólogo, mesmo que o próprio Śiva responda suas perguntas, nada do que vier a ser dito se cumprirá. Apenas alguém dotado de fé em Deus, mas que se sente infeliz e desafortunado é uma pessoa apropriada para receber ajuda e predições precisas de um astrólogo. Inclusive, se alguém vai até um astrólogo de mãos abanando, mesmo que esse seja muito erudito, nada do que vier a prever se cumprirá.

Atitude cética, de desafio, exploração ou curiosidade casual são todas condenadas nos jyotiṣa-śāstras. Uma pessoa só deve se aproximar de um astrólogo para saber sobre o seu futuro se as suas questões forem sinceras e, especialmente, se for a respeito de algo que está lhe causando ansiedade. Além disso, ela deve oferecer algo ao astrólogo em troca de seus serviços. Nos clássicos se diz que frutas, flores, dinheiro e roupas são alguns dos itens que podem ser oferecidos a um astrólogo e eles devem ser feitos de acordo com a situação material da pessoa em questão, sempre com uma intenção apropriada. Ou seja, mesmo que uma pessoa seja muito abastada e dê grandes quantias a um astrólogo, se a sua intenção não for sincera, nada do que for dito se cumprirá, ao passo que uma pessoa humilde que oferece uma pequena quantia, mas com a intenção apropriada receberá predições assertivas.

Um tratado chamado Pañchatantra, inclusive, diz (5.96) que o sucesso de alguém com um mantra, local sagrado, com um brāhmaṇa, uma divindade, doutor, guru e, inclusive com um astrólogo, depende da fé depositada nesses. Isso, obviamente, não é desculpa para os astrólogos não estudarem nem reverem seus métodos quando falham em uma interpretação - pois inclusive é a sua dedicação que infunde fé nas pessoas -, mas mostra como o sucesso das predições é fruto de uma interação muito mais ampla.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Śani (Saturno) nas doze casas

Śani (Saturno) é o mais cruel dos grahas, de acordo com uma escola de pensamento, pois há quem considere também que Maṅgala ou mesmo Rāhu seria o mais cruel. 

Onde quer que Śani esteja no jātaka (horóscopo), ele traz a sensação de falta, assim como também evoca medos, inseguranças, sofrimentos e perdas. Em boas condições, Śani conduz ao crescimento gradual, à responsabilidade, determinação e ao desprendimento. Isso se dá especialmente quando:

(1.1) Śani ocupa libra, capricórnio, aquário ou os signos de Guru (Júpiter) no rāśi, drekkāṇa, navāṁśa, saptāṁśa, dvādaśāṁśa ou triṁśāṁśa. Quanto maior o número de divisões ideais ocupadas, melhor.

(1.2) Quando está cercado ou sob o olhar de saumya grahas, ou seja, Guru, Śukra (Vênus), Budha (Mercúrio) e Chandra (Lua).

(1.3) Quando o senhor do signo ocupado por Śani, principalmente no rāśi e navāṁśa, está forte.

(1.4) Em uma situação onde o seu ṣaḍ-bala é superior a 5.27 rūpas.

No caso, geralmente é nas casas três, seis, dez e onze que Śani outorga os melhores resultados, enquanto nas demais seus resultados costumam ser negativos. No grupo que mantenho, "Jyotiṣa (ज्योतिष): Astrologia Hindu", abordei cada um de seus posicionamentos por casa.

Abaixo estão todos os links para quem quiser estudar esses resultados:

oṁ tat sat

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Guru Chāṇḍāla yoga e seus bhangas (nulificações)

Há um yoga que é muito comentado nos dias atuais, o chamado Guru Chāṇḍāla yoga, que a partir dos princípios clássicos envolve basicamente dois padrões:

(1.1) Guru conjunto a Rāhu sob a influência de um maléfico (idealmente tamasika).
(1.2) Guru conjunto a Ketu sob a influência de um maléfico (idealmente tamasika).

Os resultados desse yoga envolvem, basicamente, ingratidão, traição aos mentores, inclinações pecaminosas e vis, mau caráter e a realização de atividades anti-sociais. Além disso, pode denotar um nāstika (ateísta), alguém de conduta heterodoxa e até mesmo um assassino.

Algumas pessoas consideram que Guru conjunto a Śani ou Gulika também gera Guru Chāṇḍāla yoga, o que é parcialmente correto, pois ambos predispõem a uma atitude blasfema. Inclusive, no Jātaka pārījāta é dito que a conjunção de Guru e Gulika indica um herege. Porém, essas configurações, incluindo as clássicas, para serem confirmadas precisam ser comparadas com outros aspectos do jātaka (horóscopo). K. N. Rao mesmo considera[1] que aflições a nove ou relações da nove com a seis também gerariam Guru Chāṇḍāla ou reforçariam os resultados negativos do yoga, caso presente. Porém, até para o Guru Chāṇḍāla yogabhangas (nulificações). Ademais, quando esses se encontram presentes, o Guru Chāṇḍāla yoga pode denotar moral e espiritualidade genuína, mas marcada por algum tipo de irreverência ou atitude reformadora e visionária para a época em questão, o que se aplica às configurações padrões mencionadas nos clássicos.

Esses bhangas, mencionados em um artigo excelente de K. Guru Rajesh[2] a respeito do assunto e confirmados pelas minhas observações pessoais, se dão nas seguintes circunstâncias: