domingo, 31 de dezembro de 2017

Compreendendo a natureza e os efeitos de Ketu

Dentre os grahas, os mais difíceis de compreender e interpretar são, sem dúvida alguma, os chāyā-grahas: Rāhu e Ketu, afinal, são sombras (chāyā), desprovidos de tangibilidade. Nos clássicos, inclusive, é dito que os nodos são nebulosos e de uma compleição escura, o que nos remete ao mistério, a coisas veladas e de difícil percepção.

Visando esclarecer um pouco mais sobre os nodos, falarei nesse artigo especialmente sobre a natureza de Ketu, pontuando também certas regras para a sua interpretação, uma vez que a algum tempo atrás já escrevi sobre Rāhu.


Segue o que entendo de Ketu:

(1) Diferente de Rāhu que é caótico, ativo e extravagante, Ketu é o seu extremo oposto (literalmente), pois sendo introvertido, busca um autocontrole obsessivo, premeditado e que pode chegar ao ponto da implosão. Sua natureza é passivo-agressiva, pois não age, apenas testemunha, demonstrando um contínuo mas resignado descontentamento onde se situa. Uma vez que não tem iniciativa, seus efeitos também acabam sendo negativos e consequenciais.

P. e., se Ketu ocupa a segunda casa o indivíduo pode vir a conter as suas palavras ao ponto de viver verdadeiras implosões internas, evitando de pôr para fora aquilo que gostaria de dizer ou pensa. No entanto, sua expressão facial ou silêncio muitas vezes deixará claro que está descontente com algo, embora persista em não verbalizar o que se passa. Tal comportamento pode gerar, p. e., problemas de garganta, quando no ápice da implosão.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Esclarecimentos sobre graha marana sthana

Na Phaladipika e também no Jataka parijata é apresentando um conceito chamado marana sthana ou graha marana sthana. Ele envolve certos trânsitos fatais, que são basicamente: Guru na três, Chandra na oito, Mangala na sete, Shukra na seis, Rahu na nove e Shani no lagna, ao passo que em relação aos trânsitos de Surya e Budhaenquanto Mantreshvara sustenta que Surya na cinco e Budha na quatro teria o efeito de marana, Vaidyanatha opina que Surya na doze e Budha na sete é que caracterizaria um trânsito fatal. 

Porém, recentemente encontrei uma opinião que favorece Mantreshvara em praticamente todos os marana sthana, trata-se da opinião do sábio Pulippani em seu Pulippani jotidham. O único ponto que Pulippani discorda é quanto a Rahu, o qual para ele tem seu marana sthana na dois, algo que não encontramos em nenhum outro texto popular.  

Independentemente da visão adotada, o que é importante esclarecer é que os marana sthanas dos grahas são utilizados para determinar trânsitos que põem em risco a vida do indivíduo, sendo eles cumulativos e dependentes de uma confluência negativa por parte da dasha que o indivíduo experimenta em tal período. No que tange o horóscopo natal, ter um graha em seu marana sthana é preocupante especialmente quando tal graha sofre aflições, está mal colocado por signo e é regente ou se relaciona com um regente de dusthana (6, 8 e 12) ou maraka (2 e 7). Nesse caso, tal graha pode vir a atuar como um maraka (assassino) em sua dasha, tirando a vida do indivíduo.  

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Kāraka bhāva nāśaya

No Bhavārtha ratnakara de Ramanuja há um verso que menciona a destruição da casa que é ocupada pelo seu kāraka (significador). P. e., Chandra na quatro, Guru na cinco, Śukra na sete, Śani na oito, Sūrya na nove, etc. Isso tem rendido muitas discussões entre os astrólogos, que dizem que o indivíduo representado pela casa ocupada por seu kāraka seria destruído ou afastado da vida da pessoa. No entanto, isso não é verdade, pois já vi dezenas de mapas onde a regra não funciona, ou seja, pessoas com Śukra na sete que tiveram um único e duradouro casamento, Guru na cinco indicando muitos filhos, etc.

Então, porque Ramanuja teria pontuado essa regra? Acredito, sinceramente, que ele se enganou ou simplesmente generalizou. Porém, há algo relevante a se considerar: quando o kāraka ocupa a casa que lhe foi designada, ao invés de termos três elementos (casa, senhor da casa e kāraka) para observar, teremos apenas dois (a casa que já está ocupada pelo kāraka e senhor da casa), no que tange aquele tema específico. Isso torna o tema em questão muito mais sensível a qualquer tipo de influência, seja ela positiva ou não.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Sthira e utpāta karma

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No Horā ratna de Balabhadra, logo no primeiro capítulo, há uma explicação acerca de como o karma se efetiva através do daiva (destino). Balabhadra explica (30-31) que as inclinações (mati) de um indivíduo dependem do seu intelecto (buddhi) e que, portanto, todas as manifestações do seu karma se darão a partir disso. Em outras palavras, o daiva se efetiva a partir de nossa percepção/compreensão condicionada da realidade. No entanto, embora o destino seja real, Balabhadra prossegue explicando que a existência do destino não nos isenta da necessidade de agir, pois os śrutis e smṛtis prescrevem uma série de atividades e proibições que visam educar e elevar o jīva (ser vivo). Além disso, todos precisam se ocupar em algum tipo de trabalho (karma) para se manter e até mesmo para obter os frutos de seu karma prévio.
Para provar a existência de um destino imutável ou sthira (fixo) e outro maleável (utpāta - súbito) ou dependente de nossas ações, Balabhadra cita um verso de Vṛddha Yavana e explica que as configurações do mapa revelam o sthira karma ao passo que os trânsitos dos grahas determinam utpāta, resultados súbitos ou inesperados.
Varahāmihira, Kalyana, Parāśara, etc., indiretamente concordam com esse princípio, uma vez que recomendam, p. e., o estudo do daśā praveśa chakra ou o mapa dos trânsitos que ocorrem no início de uma daśā. Sem o daśā praveśa ou um estudo regular dos trânsitos, não é possível determinar com tanta segurança o que ocorrerá em uma determinada daśā, pois os trânsitos tem o potencial de fortalecer ou enfraquecer certas promessas. Nesse caso, sthira e utpāta são considerados conjuntamente na análise.
P. e., se o indivíduo vive a mahādaśā de Guru e esse está bem colocado no mapa isso não quer dizer que apenas bons resultados se darão, uma vez que a partir de trânsitos maléficos sobre Guru, trânsitos do próprio Guru e também outros trânsitos negativos sobre o mapa natal  farão o indivíduo sofrer. Esse é um exemplo claro de como utpāta se manifesta.
O que me atraiu na explicação apresentada por Balabhadra é, sem dúvida, o fato dele não ter definido utpāta como um karma completamente aleatório e livre, como muitas pessoas acreditam que seja. Sua ideia é precisa e está de acordo com os jyotiṣa śāstras, śrutis e smṛtis, uma vez que mantém a noção de um determinismo moderado ou compatibilismo, onde as ações livres não são absolutamente livres, mas sim condicionadas por fatores como circunstância, impressões passadas, etc., ou seja, são livres no sentido de partirem de um querer, embora este querer seja a expressão de uma vontade que está condicionada, enquanto a própria substância interior e basilar de um indivíduo.

Om tat sat

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Estudando a pureza através do quarto bhāva

O quarto bhāva, de acordo com Parāśara, descreve kanyā, a pureza de um indivíduo. Podemos identificar se alguém é dotado de bons e nobres sentimentos ou se é malicioso e enganador por meio desse bhāva, o qual representa, a um nível físico, o coração e, naturalmente, as nossas emoções e grandeza de espírito.

Krūra grahas (maléficos) influenciando a quatro, enquanto o seu senhor está mal colocado geram infelicidade, inveja, uma natureza enganadora, mesquinha, insensível e maliciosa. Influências de śubha grahas (benéficos) na quatro, por outro lado, fazem o indivíduo sincero, jubiloso, inocente, puro, tranqüilo e benevolente, desde que o seu senhor também detenha força e ocupe rāśis (signos) e aṁśas (divisões) de śubha grahas. Os seguintes ślokas do Jātaka pārījāta provam o que digo:

"Se o senhor da oito estiver conjunto a um krūra graha e a quatro estiver ocupada por um krūra graha, o indivíduo será dado a enganar; mas se o senhor da oito estiver em uccha, sva ou mitra rāśi/aṁśa, enquanto a quatro recebe o olhar de um śubha graha, o indivíduo será sincero.

O indivíduo terá uma mente pura e calma caso o senhor da quatro estiver forte, em gopura ou outro vaiśeṣikāṁśa, ou mesmo em mṛdu e outros ṣaṣṭyāṁśas benevolentes. - 12.94-95"

Outra interessante informação sobre a quatro é dada na Phaladīpikā, onde Mantreśvara diz (11.01) que a castidade também depende da boa condição da quatro e de seu senhor. No entanto, é óbvio que essa informação deve ser considerada conjuntamente com os outros elementos do mapa e não isoladamente.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

A relevância do bhāveśa


O śloka acima diz o seguinte:

"Grahas ocupando um bhāva não podem progredir quando o seu senhor ocupa um dusthāna, está asta (combusto), em nīcha (debilitado) ou śatru rāśi (signo inimigo). - Jātaka pārījāta, 11.8"

Encontrei hoje esse śloka e ele apresenta um princípio muito relevante, pois por vezes notamos que há um graha bem colocado em um bhāva, mas o bhāveśa (senhor do bhāva) está mal colocado. Em tais situações as coisas podem até começar bem, mas não progridem e seus efeitos declinam algum tempo depois.

P. e., se um śubha graha (benéfico) ocupa a nove, mas o seu senhor está fraco em um dusthāna, o indivíduo pode iniciar um vrata (voto religioso) com entusiasmo e êxito, mas ao final não é capaz de cumpri-lo.

Outro exemplo seria uma mulher que conta com um śubha graha na cinco, mas o seu senhor está mal colocado. Em tal situação a gravidez pode até ocorrer, mas na seqüência a pessoa vive um aborto.

Em casos onde o bhāva está aflito, mas seu senhor bem colocado, os temas começam mal, mas apresentam algum progresso, ou seja, o contrário se dá, embora os resultados nesse caso não sejam plenos, pois isso exigiria a boa condição do bhāva e de seu senhor, isso para não mencionar também o kāraka (significador) do assunto em questão.

Om tat sat

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Dhana vichara: investigando a riqueza em um mapa

Resultado de imagem para lakshmiEm dezembro darei um curso sobre como identificar em um mapa a situação econômica de um indivíduo, conforme oque é instruído na tradição. Os temas abordados no curso serão:

1. Artha, o desenvolvimento econômico dentro da perspectiva védica; Aṣṭa Lakṣmī, as oito formas da Deusa da fortuna.

2. As casas relacionadas a riqueza e a penúrias no Jyotiṣa; dhana yogas, configurações de riqueza e como identificar fontes de recurso material; vāhana yoga, configurações para aquisição de veículos; gṛha yoga, configurações para aquisição de propriedades e terras; daridra yoga, configurações de penúria e perdas.

3. Prevendo os momentos de lucro e perda através da viṁśottarī daśā e dos trânsitos.

4. Mantras, vratas (votos) e pūjas (adorações) recomendados nos śāstras para aquisição de fortuna.

Interessados no curso devem me contatar via email (jyotishabr@gmail.com). O prazo limite para inscrição no curso é dia 5 de dezembro. Serão dadas duas aulas de 1hr30min a no máximo 2hrs cada, via Gotomeeting (plataforma de vídeo conferência), incluindo gravação em áudio das aulas, PDF e 50 mapas para estudo e pesquisa. O valor do curso é de R$ 380,00.


Om tat sat

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Curso sobre a sétima casa - relacionamentos e sexualidade


Em novembro darei início a um curso de duas aulas sobre a sétima casa (yuvatī bhāva), com enfoque especial nos relacionamentos/casamento e sexualidade. Esse curso é fruto de extensas pesquisas que fiz a respeito do tema. Nas aulas, abordaremos os seguintes pontos:

1. Considerações sobre deśa-kāla-pātra - local, tempo e indivíduo
2. Significadores
3. Sexualidade
4. Natureza da(o) esposa(o)
5. Viuvez
6. Múltiplos casamentos
7. Renúncia e celibato
8. Strī jātaka (horóscopo feminino)

8. Prevendo o casamento
9. Upāyas (remédios)

Inúmeros exemplos serão dados, incluindo as referências clássicas de livros como Phaladīpikā, Sārāvalī, Sarvārtha chintamaṇi, Jātaka pārījāta, Bṛhat Parāśara horā śāstra, etc. Além disso, tratarei do tema casamento e sexualidade a partir da perspectiva védica, incluindo alguns pontos do āyurveda, especialmente no que tange a sexualidade.

Os interessados no curso devem me comunicar por email (jyotishabr@gmail.com). O prazo limite para inscrição é o dia 5 de novembro, sendo que os depósitos devem ter sido realizados até esse prazo. O valor do curso é de R$ 380,00 e as aulas serão dadas através da plataforma de vídeo conferência GoToMeeting, incluindo PDFs e 50 mapas para estudo. Cada aula durará de 1hr30min a até 2hrs. As datas e hora das aulas serão definidas conforme a disponibilidade dos alunos no mês de novembro.

Om tat sat

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Desmistificando o Maṅgala doṣa

Resultado de imagem para indian weddingMaṅgala doṣa, também chamado de Kuja doṣa foi uma das primeiras coisas que li a respeito quando conheci o jyotiṣa. É dito que aqueles que possuem Maṅgala (Marte) em um, dois, quatro, sete, oito ou doze a partir do lagna viverão um matrimônio infeliz, se divorciarão ou ficarão viúvos.

É fácil de entender o porquê dessa afirmação, afinal, Maṅgala é um graha ígneo e dos maléficos, o mais cruel. Além disso, é dominador, individualista e naturalmente inclinado a agressividade e a arrogância. Em relacionamento algum essas características são apreciáveis, pois vão completamente de encontro com as características de Śukra (Vênus), o kāraka do matrimônio, que é diplomático, pacífico e agradável.

Resta, no entanto, saber qual seria a referência clássica para o Maṅgala doṣa, pois muitos acreditam que se trata de uma invenção moderna, o que não é verdade - exceto pelo fato de que a designação desse yoga enquanto um doṣa (uma desarmonia, tal qual nascer no penúltimo ou no último dia lunar, em eclipses, etc.) é fruto da liberdade tomada pelos astrólogos contemporâneos. Quem menciona o Maṅgala doṣa é Parāśara, o qual diz o seguinte (80.47-49, BPHS):

"Uma mulher que nasce com Maṅgala em doze, quatro, sete ou oito a partir do lagna, sem a influência de um benéfico se tornará viúva.

Esse yoga se aplica também aos homens. No entanto, se ambos, marido e mulher possuem o mesmo yoga, seus efeitos cessarão".

Essa afirmação está no cp. de strī jātaka, horóscopo feminino, do horā śāstra, o qual é inteiro dedicado a determinar as características femininas, pois na tradição védica o casamento idealmente só deve ocorrer uma vez na vida e, portanto, o homem deve saber escolher corretamente a mulher com quem irá se casar e vice-versa.

domingo, 27 de agosto de 2017

Os fantasmas dentro da perspectiva do Jyotiṣa

Nṛsīmha, divindade que afasta fantasmas
Os espíritos/fantasmas são comuns em todas as culturas, inclusive na indiana. Nela, eles são chamados de bhūtas. Um bhūta é um ser que, após a morte, não conseguiu transmigrar para um plano superior ou inferior[1] e muito menos reencarnar ou alcançar mokṣa (a libertação).

As razões que levam um ser a assumir a forma de um bhūta são basicamente morte violenta e traumática, questões que ficaram mal resolvidas ao longo do período em que estava encarnado (e que o mantém apegado a esse mundo) ou a negligência de seus parentes em realizar as suas cerimônias de passagem, chamadas de śraddhā[2].

Uma vez que permanecem apegados a esse mundo, mas destituídos de uma forma física, os bhūtas acabam assombrando lugares e pessoas, geralmente porque querem se vingar de alguém, alcançar seus desejos mal resolvidos, satisfazer anseios sexuais, causar danos a outros, sugar aqueles que possuem uma vibração positiva mas que ainda são imaturos e desprotegidos, controlar e induzir pessoas que tem uma propensão maior a ira e outros sentimentos negativos ou aproximar-se de pessoas a quem mantém vínculos ou que possuem vibração semelhante, ou seja, que estão sob a influência de tamas[3] (a obscuridade), como alcoólatras, drogados, assíduos comedores de carne e pessoas inertes, de mentalidade torpe e obscura.

sábado, 26 de agosto de 2017

A relação do lagna com o corpo

lagna (ascendente) é relacionado ao corpo, no entanto, esse não é o entendimento mais apropriado a respeito, pois na verdade o lagna só se relaciona com o corpo porque ele representa o crânio e o cérebro, a sede da inteligência, sem a qual não podemos viver de forma saudável.

A totalidade do corpo é descrita ao longo de todas as casas e não apenas do lagna. Por exemplo, a face e o pescoço são estudados através da dois, os ombros, braços e mãos por meio da três, etc.

No āyurveda é dito que existem três formas pelas quais a saúde é afetada: kāla parinama (mudanças relativa aos ciclos naturaism, como o das estações, por exemplo), prajñāparadha (falhas de julgamento) e asatmyendriyartha (uso nocivo dos sentidos). 

lagna descreve especialmente prajñāparadha, ou seja, erros de julgamento que levam ao adoecimento, como ignorar os sinais que o próprio corpo dá, por exemplo, cultivando hábitos e um estilo de vida nocivo a saúde. É por conta disso que o lagna é relacionado a saúde e não porque ele representaria o corpo como um todo.

Um graha fraco e relacionado ao lagna indica prajñāparadha em relação aos seus temas (órgãos, doṣa, etc.), um lagneśa (senhor do lagna) fraco indicará o mesmo. Por exemplo, no mapa abaixo, Maṅgala (Marte) ocupa o lagna e aflige também o senhor do lagna, Śani (Saturno), por meio do seu olhar. Essa pessoa, portanto, está sujeita a pitta doṣa, desequilíbrios da sua função metabólica, o que também se refletiria em um humor irritadiço.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Guru (Júpiter)

Na Índia, Júpiter é chamado de Guru, que superficialmente significa "professor". O seu significado mais profundo, no entanto, é expresso na Advayatārakopaniṣad, que diz:

गुरुभक्तिसमायुक्तः पुरुष्ज्ञो विशेषतः।
gurubhaktisamāyuktaḥ puruṣjño viśeṣataḥ |

एवं लक्षणसंपन्नो गुरुरित्यभिधीयते॥ १५॥
evaṁ lakṣaṇasaṁpanno gururityabhidhīyate || 15||

A sílaba "gu" significa escuridão e "ru", aquele que dispersa. Portanto, quem tem tal poder de dispersar a escuridão da ignorância é um guru.

Logo, alguém capaz de guiar um indivíduo da treva de tamas (inércia, escuridão, ignorância) a luminosidade de sattva (bondade, equilíbrio, conhecimento) pode ser chamado de guru. No entanto, guru também pode se referir a alguém que remove nossas dúvidas quanto a um determinado ramo de conhecimento, não necessariamente espiritual.

Outra tradução da palavra guru é "pesado", referindo-se ao fato de um guru deter vasto conhecimento e estar firmemente alicerçado na verdade absoluta, ou seja, ele é um tattva-darśī (um vidente da verdade). De um ponto de vista mundano, qualquer pessoa que tenha vasta experiência e conhecimento em um determinado tema também pode ser considerado um guru, ou seja, um mestre.

Astrologicamente, Júpiter é quem personifica todas essas características. Inclusive, ele é o único graha exclusivamente kapha, ou seja, que partilha das características desse doṣa como ser pesado, macio, untuoso, doce e estático, o que favorece a sua natureza benevolente, tolerante e pacífica, uma vez que kapha é um doṣa mais associado as características femininas, pois combina dois elementos femininos em si: a água e a terra.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Māhamṛtyunjāya mantra

No seu horā śāstra, Parāśara diz que quando o indivíduo vive a daśā de um graha que ocupa ou rege a dois ou a sete, ou mesmo se relaciona com os regentes dessas duas casas, o indivíduo correrá riscos de vida ou experimentará sofrimentos e agonias semelhantes aos da morte. Isso se deve ao fato das casas dois e sete serem a doze da três e da oito, respectivamente, casas que falam sobre āyur, a longevidade. Portanto, dois e sete tratam da perda da longevidade e são denominadas mārakas (assassinas) nos textos clássicos.

Na minha prática atestei que, de fato, um indivíduo morrerá ou passará por dificuldades de saúde e temores durante as daśās acima mencionadas. Aqueles que tem indicações de vida curta (alpāyu) costumam abandonar o corpo na terceira daśā (vipat-tāra), os que tem vida média (madhyāyu), na quinta daśā (pratyak-tāra) e os de vida longa (pūrṇāyu) na oitava daśā (naidhana-tāra). Isso, obviamente, quando tais daśās estão de acordo com os princípios acima mencionados e há também uma confluência de fatores negativos, como trânsitos e indicações por parte de outras daśās tais como a śūla daśā.

No entanto, tendo em vista que determinar a extensão da longevidade (āyu-kandha) não é uma tarefa fácil, é recomendável que o indivíduo sempre tome um cuidado especial com a sua saúde na daśā de grahas que adquirem o potencial de mārakeśas (assassinos). Parāśara recomenda, inclusive, que certas práticas sejam realizadas durante tais períodos. Dentre elas, destaca-se a prática do māhamṛtyunjāya mantra, o grande mantra que venceu a morte e que é dedicado a Tryambakaṃ, aquele que possui três olhos: Śiva.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Curso sobre ārūḍhas no mês de agosto de 2017

Em agosto darei início a um curso breve, de dois dias, sobre os ārūḍhas/padas, conforme o que foi exposto sobre a técnica em textos como Upadeśa sūtra, Bṛhat Parāśara horā śāstra, Uttara kalāmṛta, Deva keralam e Jyotiṣa phala ratna mala. 

Para quem não sabe nada a respeito, os padas são reflexos das casas, sendo que dentre eles dois padas são especialmente importantes: o ārūḍha lagna, também chamado pada lagna e o upapada/gauna pada, reflexos das casas um e doze, respectivamente.


O ārūḍha lagna ajuda a determinar os resultados gerais da vida do indivíduo, sendo que os autores clássicos focaram-no especialmente na interpretação do sucesso do indivíduo (rāja yoga) e de suas condições financeiras (dhana yoga). Já o upapada lagna descreve o casamento, filhos e a longevidade da esposa.

Os demais padas, tais como putra, śatru, dāra, bhāgya, etc., são usados para determinar os temas correspondentes as casas das quais se originam.

Para os interessados, o conteúdo do curso será o seguinte:

1. Ārūḍha: definição e cálculo
2. Interpretação
            2.1. Ārūḍha lagna
            2.2. Upapada lagna
            2.3. Putra pada
            2.4. Dāra pada
            2.5. Bhāgya pada
            2.6. Outros padas
            2.7. Relacionando padas
3. Considerações adicionais
4. Exemplos práticos

As aulas serão ministradas via GoToMeeting, gravadas em áudio (ou seja, quem não puder comparecer poderá ouvir as gravações posteriormente) e incluirão PDFs para acompanhamento e estudo posterior. Os interessados devem me contatar via email (jyotishabr@gmail.com) e reservar suas vagas até no máximo o dia 10 de agosto, depositando o valor correspondente ao curso que é de R$ 350,00.

A data das aulas ainda será definida, pois espero poder arranjar dois dias que sejam possíveis a todos, ainda no mês de agosto.


Om tat sat