quinta-feira, 29 de março de 2018

K. N. Rao sobre "o que é graha śantīḥ ou pacificação dos planetas?"

Abaixo, apresento uma tradução das pgs. 147-148 do livro "Astrology, destiny and the wheel of time" escrito pelo K. N. Rao. Trata-se de um trecho do cp. 5 do livro, entitulado "A importância da pacificação dos planetas". Nele, K. N. Rao expõem em sete considerações o que a sua vasta experiência o levou a concluir a respeito dessa questão:

1.      Cada astrólogo tem a sua própria resposta a respeito do que é, realmente, graha-śantīḥ.

2.      Eu tenho uma resposta dupla para essa questão. Astrologicamente é possível ver se uma medida remediadora funcionará em um determinado caso ou não[1]. Em casos onde tais medidas não funcionarão, é dever moral de um astrólogo ajudar aquele que o consulta a re-obter a auto-confiança perdida. Isso pode ser feito não por meio de blefes, mas por preparar o consulente para que ele aceite os golpes do destino como a mais essencial disciplina da vida. Isso soará como pregação, mas em certos casos deve-se evitar a pregação e convencer o consulente por outros meios a respeito do porque ele deve aceitar o destino como inevitável em determinadas situações. Por seguir essa linha de pensamento, eu já criei controvérsias e inimigos.

3.      Se o consulente é um devoto genuíno, como no caso de Y. S. (uma pessoa que o K. N. Rao atendeu), o melhor remédio é pedir a ele que pratique sua adoração com mais intensidade. Afinal, se Deus não pode salvar, quem mais poderá ou irá?

4.      Aqueles que prescrevem jóias não sabem como e quando elas funcionam. Eles mantém conexões com alguns joalheiros os quais os oferecem comissões pelas vendas que realizam por meio da astrologia. Isso não é astrologia, mas uma raquete de negócios bem conhecida.

5.    Yantras podem funcionar, desde que sejam feitos por um adorador puro que os realize em dias astrológicos auspiciosos, conforme prescritos nas escrituras. Algumas das pessoas capazes de produzir yantras apropriados são raríssimos mahātmas. Astrólogos nem sequer sabem os segredos acerca de como produzir um yantra, mas para qualquer coisa que manufaturem eles já possuem um mercado pronto!

6.      Mahāṛṣi Parāśara (todos praticamos a astrologia de Parāśara, mas não recomendamos remédios de acordo com o que Parāśara prescreve) menciona apenas a recitação de mantras e dāna (caridades). Mas para os astrólogos mercenários, prescrever apenas o que Parāśara diz não é suficiente, visto que não seria rentável, comercialmente falando.

7.      O aconselhamento feito por bons psicólogos em alguns casos funciona bem, desde que isso não se torne também outro meio profissional mercenário. Um astrólogo com um bom conhecimento de psicologia pode fazer um uso muito efetivo desse conhecimento, dando os melhores aconselhamentos do mundo [devido a boa combinação que a psicologia pode formar com a astrologia, embora isso também possa destruir toda a objetividade característica de um astrólogo, sem a qual é impossível prever ou julgar um tema apropriadamente].




[1] K. N. Rao aponta algo importantíssimo nessa passagem. No entanto, vemos hoje um monte de astrólogos dizendo que qualquer configuração do mapa pode ser remediada e que é possível remover debilitações, combustões e tantas outras debilidades do mapa, incluindo até mesmo mudar a posição de um planeta! Isso é uma grande farsa. Os inocentes, aflitos e ignorantes caem nessa ladainha e ao invés de receberem previsões dos astrólogos (esse é o dever de um astrólogo e só dessa forma é que ele poderá recomendar remédios da forma apropriada), acabam recebendo um monte de "remédios", afinal, é mais fácil deixar o destino na mão do consulente e não lhe dar resposta alguma sobre o que irá, de fato, acontecer.

sábado, 24 de março de 2018

Os trânsitos difíceis de Śani: sade sati, ardhāṣṭama e aṣṭama

Uma deidade de Śani deva
Sūrya (Sol) possui dois filhos que são encarregados de punir a todos os seres que infringem as leis do dharma: Yāma e Śani. Yāma castiga após a morte os seres que se dedicaram a atividades ímpias, enquanto Śani trata de castigá-los ainda em vida. Não a toa, as pessoas em geral temem os trânsitos de Śani, assim como temem a sua mahādaśā de 19 anos, o que é até certo ponto justificável.

Se consultamos os textos em sânscrito de jyotiṣa vemos que todos os autores em uníssono declaram que os trânsitos de Śani só são auspiciosos quando se dão nas casas três, seis e onze a partir de Chandra, ou seja, apenas uma faixa de sete anos e meio, dentro do ciclo (paryāya) de Śani de vinte e nove anos e meio, ainda sim, com intervalos amplos entre um trânsito e outro. Porém, não podemos generalizar tais efeitos, uma vez que há muitas variações possíveis em termos de resultados e não necessariamente todos os trânsitos definidos como negativos ou positivos para Śani serão de fato fieis a isso. Afinal, temos as daśās (períodos da vida) e as próprias promessas do mapa natal para comparar com os trânsitos, o que já aumenta muito o número de variáveis possíveis, isso sem falar do aṣṭākavarga, um sistema de análise dos trânsitos que atribui pontuações variáveis para cada trânsito, quebrando assim com o esquema quadrado de que apenas os trânsitos de Śani por três, seis e onze são auspiciosos.

Mas, ainda sim, é verdade que certos trânsitos de Śani podem ser bastante difíceis, cruéis e até mesmo fatais. Geralmente, isso se dá quando há uma confluência negativa por parte do trânsito, da daśā regente e também das próprias promessas natais. P. e., quando Śani transita a um, dois, quatro, oito ou doze a partir de Chandra, o indivíduo tende a vivenciar as fases mais difíceis de sua vida, especialmente se a daśā vigente for de um māraka (assassino) ou de um chidra graha[1], ou seja, a daśā do senhor da oito, de um graha na oito, do senhor do 22º drekkāṇa ou do 64º navāṁśa, do dispositor de Gulika ou de um graha relacionado ao mesmo.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Āyurjyotiṣa: os tipos e desequilíbrios de kapha

Kapha, doṣa em que predominam a água e a terra, de acordo com Parāśara e outros autores está relacionado a três grahas: Chandra, Guru e Śukra. Desses o único graha puramente kapha é Guru, enquanto Chandra e Śukra são parcialmente vāta, uma vez que manifestam certo grau de volubilidade. Guru, por outro lado, não é nada volúvel. A própria palavra "guru" significa "pesado", sendo esse justamente um dos atributos (guṇas) principais de kapha - outros são a umidade, o frio e a lentidão, p. e. Logo, é coerente que Guru, o jīva kāraka (significador da vida), seja o principal graha a representar kapha, pois é inclusive a própria antítese de Śani, o qual representa o vāta negativo, ou seja, o princípio da morte (mṛtyu kāraka).

Um indivíduo de constituição (prakṛti) kapha, em seu jātaka, terá configurações específicas envolvendo Chandra, Guru e Śukra, assim como os rāśis desses: touro, câncer, libra, sagitário e peixes. Predominância de significadores pessoais (lagna, lagneśa, Chandra ou Sūrya) ocupando esses rāśis ou mesmo a força destacada de Chandra, Śukra ou Guru, especialmente quando esses ocupam os kendras (como no caso de malavya e haṁsa mahāpuruṣa yoga) ou influenciam os significadores pessoais são exemplos de configurações comuns entre aqueles cuja constituição é kapha.

Se Chandra, Guru ou Śukra se relacionam com dusthānas ou seus senhores isso é causa de doenças e desequilíbrios tipicamente kapha. Ou seja, o indivíduo pode ter problemas envolvendo muco, problemas pulmonares e respiratórios, excessos sexuais, indulgência em prazeres, obesidade, congestões, resfriados, retenção de líquidos, diabetes, tumores, letargia, etc. Tais desequilíbrios se manifestarão na mahā-antar-pratyantardaśā de Chandra, Guru, Śukra, de seus dispositores ou de grahas relacionados. Inclusive, é natural que durante as daśās de Chandra, Guru ou Śukra, assim como em certos trânsitos dos mesmos, o indivíduo desenvolva mais desequilíbrios e características kapha, mesmo que a sua prakṛti (constituição) seja outra.

domingo, 11 de março de 2018

Curso em abril sobre como interpretar Chandra (Lua) detalhadamente

Em abril darei um curso sobre Chandra (Lua), ensinando como interpretar sua posição em um horóscopo. 

Dentre os grahas, Chandra detém a maior relevância no que se refere a sustentação da vida e ao êxito social, uma vez que reflete as condições do ambiente em que um indivíduo se desenvolve e como isso o afeta. Inclusive, devido a isso Chandra é utilizado como um segundo ascendente (lagna) no jyotiṣa.

Esclarecimentos como esse serão dados no decorrer do curso, que contando com uma sólida base clássica, incluirá os seguintes tópicos:

      1.   Compreendendo a natureza de Chandra; relacionamentos e elementos de força.
      2.      Chandra nos 12 signos.
      3.      Chandra nas 12 casas.
      4.      Chandra em relação aos vargas.
      5.      Chandra conjunto aos outros 8 grahas.
      6.      Regras para avaliar a viṁśottarī mahādaśā (período) de Chandra.
      7.      Regras para avaliar os trânsitos de Chandra.
      8.      Upāyas (remédios) para Chandra.

Essa será a segunda de nove aulas que darei sobre a interpretação isolada de cada um dos grahas. Cada uma dessas aulas incluirá 50 mapas para estudo e exemplificação, PDF com mais de 25 páginas, acompanhamento durante a aula online na plataforma de vídeo conferência (GoToMeeting) e a gravação da aula. Inclusive, ao todo teremos cerca de 3 ou 4 aulas de no máx. 2hrs cada para abranger todos os tópicos acima listados.

Alunos também poderão esclarecer dúvidas posteriormente, inclusive sobre dúvidas acerca da posição de Chandra no próprio mapa. Interessados devem me comunicar via email (jyotishabr@gmail.com). O valor do investimento é de R$ 500,00, o qual também pode ser parcelado em até 12x via PagSeguro.

O prazo para inscrição e depósito vai até o dia 15 de abril, enquanto a data das aulas será marcada após o dia 15, conforme a disponibilidade dos alunos. Aproveite, pois posso garantir que dificilmente vai encontrar um conteúdo tão denso e rico acerca de Chandra quanto o que passarei nesse curso e que é fruto de extenso estudo e pesquisa.

Om tat sat