quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Compreendendo a natureza e os efeitos de Rāhu

Além dos sete grahas visíveis, Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno, o jyotiṣa também leva em conta nas análises os nodos lunares, Rāhu e Ketu. Nesse artigo vou explicar como interpretar Rāhu, especificamente:

(1) Parāśara diz que a aparência de Rāhu é enfumaçada, horripilante e sua compleição é azulada, o que nos remete a um ser espectral e fantasmagórico. Essas características contribuem com a inconsistência dos resultados de Rāhu, o qual cria expectativas que se desvanecem no ar, trazendo desilusões, experiências amargas e choques onde está situado e em relação aos grahas que afeta no mapa. Nota-se distorção, irregularidade e até mesmo perversão naquilo que ele influencia. No entanto, superficialmente, Rāhu pode aparentar uma pura e nobre intenção, assim como vemos entre homens que se dizem santos, mas na sua intimidade agem de forma completamente contrária a isso.

(2) O ahaṃkāra, isso é, a noção errônea sobre quem sou, está relacionado a Rāhu, o qual eclipsa a percepção do verdadeiro eu (Sol). A orientação de Rāhu é suspeita, pois sempre busca atalhos para conseguir o que quer, além de enxergar as coisas sobre um prisma competitivo e egoísta. Onde está posicionado no mapa, é onde estamos mais sujeitos as armadilhas do egoísmo, a sede por prestígio e por privilégios mais amplos do que realmente merecemos. Rāhu é faminto, insatisfeito, inconseqüente e capaz de distorcer as coisas simplesmente para alimentar as suas próprias ilusões sobre como as coisas devem ser. Definitivamente, Rāhu não se interessa pela realidade, pois ela implica em sacrifícios os quais ele não está disposto a realizar, tal como é representado em seu mito. Isso faz com que as conquistas de Rāhu sejam súbitas, aceleradas, mas também efêmeras e com grande tendência ao desastre, ao menos na maior parte das vezes. Devido a isso, é dito que durante a sua mahādaśā (período maior), todos os bons efeitos conquistados tendem a se esvair na última parte do seu período.

domingo, 13 de novembro de 2016

Prāṇapada lagna e a retificação do horário de nascimento

Uma das melhores formas de retificar o horário de nascimento é através do prāṇapada, um dos lagnas especiais (viśeṣa lagna) que Parāśara ensina a respeito no viśeṣa-lagna-adhyāya do seu horā śāstra.

O prāṇapada é um lagna muito sensível ao horário de nascimento, pois ele muda de signo a cada seis minutos, ou seja, em uma hora e doze minutos ele percorre todo o zodíaco, sendo que ao longo de um dia ele realiza vinte desses ciclos. Devido a isso, esse é o lagna mais sensível dentre os que foram ensinados por Parāśara.

Para entendermos melhor o prāṇapada, é importante compreendermos o que significa prāṇa. Prāṇa é o ar vital, o qual absorvemos por meio da respiração e que é distribuído pelo corpo por meio dos batimentos cardíacos. Ele também pode ser considerado como sendo a força que move todos os nossos pensamentos.

O prāṇapada, portanto, é um lagna que revela onde o indivíduo está focando o seu prāṇa. Parāśara descreve os resultados do prāṇapada em cada uma das doze casas da seguinte forma:

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Combustão (astangata)

Quando um graha encontra-se muito próximo a Sūrya (Sol), ele é determinado combusto (asta), ou seja, não pode ser visto a partir da Terra, pois se encontra ofuscado pelos raios solares. Abaixo eu ofereço algumas explicações a respeito dessa condição:

(1) Assim como a debilitação (nīcha) e a ocupação de um signo inimigo (śatru rāśi), a combustão é vista como uma aflição. Inclusive, os grahas combustos são denominados kopa, isso é, "irados". Percebe-se no indivíduo uma irritação quanto aos temas do graha combusto, o que pode se agravar ou não a depender da força de tal graha e dos olhares que recebe. Kalyana diz (05.12, Sārāvalī) que um graha combusto está mutilado (vīkala) e os seus resultados serão a perda de posição, um coração imundo, pobreza, uma natureza errante e temor em relação a inimigos. É claro que isso depende de muitos outros fatores. Além disso, os maus efeitos da combustão são sentidos especialmente na daśā (período) de tal graha.

Um ponto interessante, citado na tradição helenística é de que quando um graha se encontra combusto, mas domiciliado (ou mesmo exaltado), ele estaria “em sua carruagem”, ou seja, protegido de efeitos mais adversos, assim como alguém é protegido da influências dos raios solares quando viaja durante o dia dentro de uma carruagem.

(2)  As orbes de combustão variam de um graha para o outro. O Sūrya siddhānta indica as seguintes orbes: 17º, 14º, 11º, 8º e 15º para Marte, Mercúrio (12º quando retrógrado), Júpiter, Vênus e Saturno, respectivamente. No entanto, na tradição do Hart de Fouw aprendi algo muito interessante e válido: a combustão é significativa a partir de 10º, severa a partir de 6º e muito severa a partir de 3º.

(3)  Geralmente a combustão afeta mais os temas de que o graha é kāraka, assim como a casa que o mesmo ocupa. A menos que o graha esteja muito aflito, ele não irá negar os temas das casas que rege no mapa[1].

(4)  Sendo o Sol um graha quente, seco e de uma luminosidade ofuscante, a sua influência tem a capacidade de inflamar e separar tudo o que toca. É comum vermos pessoas com Vênus combusta viverem divórcios ou sofrerem com a separação geográfica de quem amam. Quando Júpiter está combusto, isso pode negar filhos ou afastar os mesmos, etc. Geralmente o distanciamento que o Sol causa se dá devido ao egoísmo ou, sob sua melhor expressão, em função de uma necessidade de individuação, de se ver livre de dependências e referências externas que venham a obstruir o desenvolvimento pessoal.

(5)  Um graha que se encontre combusto, sob a influência de maléficos e de um graha inimigo é denominado kṣobhitā - agitado. Parāśara diz (45.24-29, BPHS) que os resultados que tal graha confere são aguda penúria, uma disposição cruel, misérias, fiascos financeiros, aflições aos pés e obstruções financeiras causadas pela ira do governo. Obviamente, a influência de um graha benéfico minimizará a severidade dos sofrimentos, os quais serão especialmente experimentados na daśā (período) do graha em kṣobhitā-avasthā.

terça-feira, 8 de março de 2016

Quando os grahas debilitados surpreendem...

Grahas debilitados (nīcha) são aqueles que se situam no signo oposto a sua exaltação (uccha), como o Sol em libra, Marte em câncer, Vênus em virgem, Saturno em áries, etc. Essa é considerada a pior dentre todas as dignidades, onde o planeta age de uma forma completamente contrária a sua natureza. Podemos definir o comportamento do debilitado como excêntrico e, visto ser uma dignidade oposta a exaltação, seu efeito também é diametralmente oposto.
         
O graha exaltado traz um efeito de dignidade, reconhecimento, valor e virtude, assim como de pompa e exagero. O debilitado age de forma indigna, é reconhecido apenas por sua excentricidade e atitudes problemáticas, distantes daquilo que seria considerado aceitável ou comum. Porém, a debilitação também pode gerar humildade e desapego em certas circunstâncias, além disso, como são grahas muito fracos podem representar um começo simplório seguido de uma grande ascensão a depender dos grahas com quem se relacionam ou de seu posicionamento no mapa. Por exemplo, nos textos clássicos é dito que os debilitados conferirão rāja yoga nas seguintes circunstâncias:

(1)  Quando ocupam as casas três, seis, oito ou onze, enquanto o lagneśa (senhor do ascendente) detém força.
(2)  Quando são regentes de três, seis ou oito enquanto o lagneśa detém força.
(3)  Quando olham o ascendente, enquanto o seu senhor detém força.
(4)  Quando sofrem nīchabhanga rāja yoga.
(5)  Quando retrógrados, embora não gerem rāja yoga, tornam-se poderosos devido ao aumento de sua luminosidade. Portanto, caso configurem-se em um dos yogas acima mencionados isso será favorável.

            Todas essas condições favorecem a obtenção de poder e êxito social. Vejamos alguns exemplos logo abaixo: