O melhor comentário ao JUS, por Sri Irangati. |
Esse sistema,
extremamente mal compreendido e enigmático, baseia-se em rāśi dṛṣṭi (olhares por signos), invés de graha dṛṣṭi (olhares por planetas); em padas, argalas, yogadas, svāṁśa e lagnas
especiais (divya lagna, tāra lagna, savayāva horā lagna, etc.)[1], assim
como também em chara kārakas (significadores
variáveis). Para prever, são importantes principalmente as rāśi daśās (sistemas de predição baseados em signos), ainda que o
sistema de Jaimini também inclua certas rāśi
daśās que combinam elementos de graha
daśās, como é o caso das paryāya
daśās (chara paryāya, sthira paryāya, kāraka, upagraha, drekkāṇa
daśā, etc.) descritas em 2.4. dos Upadeśa sūtras de Jaimini.
Todos esses princípios
encantadores, no entanto, estão codificados por meio do sistema kaṭapayādi, em sūtras que são não só muito enigmáticos como também condensados, os
chamados Upadeśa sūtras de Jaimini, cuja data de composição permanece um
mistério, embora muito possivelmente seja posterior ou da mesma época de
Varāhamihira (séc. VI). Podemos inferir isso pelo fato do mais antigo registro
do sistema kaṭapayādi datar do século
VII, assim como também por estudos comparativos de outros clássicos, incluindo
textos que tratam de Jaimini jyotiṣa,
como o Jyotiṣa phalaratnamala, considerado por Śrī Irangati Rangācharya como
sendo o opus magnum da tradição.
Inclusive, é importante
mencionar que, assim como no vedānta
a compreensão dos Vedānta sūtras/Brahma sūtras depende do auxílio de comentários
tradicionais, os Upadeśa sūtras de Jaimini não são exceção. No entanto, nos
dias atuais a corrupção desse sistema chegou a um ponto tão grande que a
relativização dos sūtras atingiu um
nível caótico. Várias "traduções" dos Jaimini sūtras circulam por aí,
com especulações diversas e discordâncias incontáveis entre si. Ou seja, já não
bastasse a complexidade e as diferenças que existem mesmo dentro da tradição de
Jaimini jyotiṣa, hoje ainda temos
vários astrólogos intelectualmente desonestos (ou ingênuos) impondo suas
próprias ideias sobre as ideais de Jaimini e corrompendo cada vez mais esse
magnífico sistema, por orgulho e alguns também por ignorância em relação a
tradição de comentários e tratados de Jaimini jyotiṣa já existentes, dos quais os mais destacados advém do sul da
Índia.
Kṛṣṇa Miśra, Somanātha,
Raghavabhatta, assim como também Nṛsiṁha Suri, autor do Sūtrārtha prakaśika,
são algumas das principais autoridades antigas dessa tradição, enquanto os já
póstumos Madhura Kṛṣṇamurthy, o lendário Śrī Vemuri Ramāmurthy e o
recém-falecido Śrī Irangati Rangācharya, são exemplos de eruditos
contemporâneos em Jaimini jyotiṣa. Inclusive, é imperativo que eu cite o nome
de Shanmukha Teli, um dos discípulos de Śrī Irangati Rangācharya, com o qual
mantenho contato desde 2015 e que foi a pessoa que abriu meus olhos em relação
a tudo o que disse acima, mostrando o quão equivocado e distorcido era aquele
nada (definitivamente um nada) que eu julgava ser a verdadeira astrologia
Jaimini. Não fossem as várias trocas de mensagens com o Shanmukha, as quais
persistem até hoje, eu jamais teria entendido sequer o que não é Jaimini jyotiṣa,
o que dizer então de entender o que é o Jaimini jyotiṣa.
Desde a minha primeira
conversa com o Shanmukha já se passaram aproximadamente três anos e meio, nos
quais pude rever muito do que eu pensava, testar as técnicas e estudar as obras
disponíveis em inglês, por sinal poucas quando comparadas ao grande número de
materiais escritos principalmente em telugu e sânscrito. Com isso, embora hoje
eu ainda seja não mais que um neófito em Jaimini, sinto-me mais confiante e
esperançoso quanto a possibilidade de não só integrar as técnicas de delineação
como também as de predição ensinadas por Jaimini, sendo essas últimas as que
mais me causaram dores de cabeça nos últimos anos.
No caso, o sistema de daśās de Jaimini se divide em āyur daśās, com as quais se pode prever
o momento da morte, e phalita daśās,
usadas para prever eventos gerais. As āyur
daśās que pude aprender foram onze das treze que conheço, sem contar
algumas variações, enquanto as phalita
daśās que aprendi até então foram onze das dezenove que tive a oportunidade
de conhecer, também incluindo algumas variações. Dessas dezenas de rāśi daśās, muitas são condicionais,
aplicando-se apenas a certos horóscopos. Para um estudo, no entanto, é
necessário cruzar os dados de várias daśās
antes de chegar a uma conclusão. A dificuldade, no entanto, é usar de Jaimini
sem também flertar com Parāśara, ainda que como um sistema secundário. Ao que
parece, o único astrólogo mais recente que valia-se exclusivamente de Jaimini
para realizar suas predições (incrivelmente precisas) foi Śrī Vemuri
Ramamurthy, que K. N. Rao diz ter sido o maior astrólogo dos últimos seiscentos
anos. É dito que Śrī Vemuri Ramamurthy chegou a estudar trinta textos de
Jaimini jyotiṣa, o que é alarmente quando comparado aos atuais
"eruditos" e "tradutores" do Upadeśa sūtra, que ignoram os
textos tradicionais de Jaimini e tomam apenas da versão interpolada do Bṛhat
Parāśara horā śāstra como referência, a qual é muito distinta do BPHS original,
dos séculos VI-VIII[2].
Inclusive, tanto os (verdadeiros) eruditos contemporâneos quanto antigos de Jaimini jyotiṣa não tomaram do BPHS como
referência - tanto o antigo quanto o moderno interpolado -, mas sim do Vṛddha kārikā e outros textos que estivessem de acordo com
esse. Não a toa, entre os comentários e tratados do sul da Índia é onde
encontramos uma maior concordância entre os astrólogos a
respeito dos diferentes princípios da astrologia Jaimini, pois esses se basearam justamente em Vṛddha kārikā para entender o Upadeśa sūtra.
oṁ
tat sat
[1] Śrī Irangati Rangācharya, um dos
maiores eruditos em Jaimini jyotiṣa,
chegou a mencionar para um de seus discípulos, Shanmukha Teli, que há por volta
de dezoito lagnas especiais descritos
na tradição de Jaimini.
[2] Em seu "Jyotiḥśāstra - Astral and mathematical literature", David Pingree
lista todos os capítulos dessa versão mais antiga do BPHS. Basta compará-la a
atual para ver como o BPHS atual é corrompido.
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