sábado, 7 de novembro de 2015

Sobre o movimento retrógrado dos planetas

Marte em seu movimento retrógrado.
         Quando um planeta se aproxima da Terra, sua luminosidade aumenta e ele começa a recuar do ponto de vista terrestre, o que se dá devido a própria velocidade da Terra em relação ao planeta em questão. Esse fenômeno é chamado de retrogradação e em sânscrito de vakra-gati. Dentre os nove grahas utilizados no Jyotiṣa, o Sol e a Lua jamais ficam retrógrados, apenas Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno adquirem esse tipo de movimento temporário, enquanto os nodos lunares, Rāhu e Ketu, estão sempre retrógrados, exceto por alguns dias em que ficam em movimento direto - o que alguns astrólogos ignoram.

         Em seu BPHS, Parāśara trata a retrogradação como um fator de força para os planetas, o que é expresso no seguinte śloka:

...planetas que ocupam a sétima casa a partir do Sol são plenamente efetivos. – 7.28, BPHS

Entre a quinta e a nona casa a partir do Sol, os planetas ficam retrógrados, sendo que alcançam o ápice de força quanto se opõem ao Sol. Esse é o significado do śloka acima, mencionado por Parāśara. Mantreśvara, outro importante autor que data do século 13, também sustenta a visão de Parāśara, pois em seu Phaladīpikā ele diz:

Mesmo que um planeta ocupe o seu signo ou navāṁśa de debilitação, sua força será plena se ele estiver retrógrado e radiante. – 4.4. Phaladīpikā

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O ciclo de Vênus

          Vênus é um planeta interior, assim como Mercúrio, pois ambos estão entre o Sol e a Terra. Devido a isso, esses dois planetas jamais ficam muito distantes do Sol do ponto de vista terrestre. Vênus por exemplo não dista mais do que 47º30’ do luminar, o que faz com que o planeta seja visível no céu antes do nascer do Sol (estrela d’Alva) ou depois do mesmo se pôr (Vésper). Devido ao seu brilho, que do ponto de vista terrestre só é inferior ao do Sol e da Lua, muitos povos antigos se atentaram ao planeta, fascinados por sua beleza. Os sumérios por exemplo chamavam Vênus de Inanna e registraram seu ciclo através de um elaborado mito. Os antigos egípcios a chamavam por dois nomes, Tioumoutiri e Ouaiti, sendo cada um desses relacionado ao seu papel enquanto estrela da manhã e do anoitecer, o que fez com que os egípcios pensassem se tratar de dois corpos diferentes. Os gregos antigos também se confundiram a esse respeito, tratando Vênus como dois planetas, Phosphoros (o que traz a luz) durante a manhã e Hésperos (estrela da noite) durante a noite. Porém, posteriormente compreenderam que Phosphoros e Hésperos se tratavam do mesmo planeta, a quem passaram a chamar então de Afrodite.

            Na América Latina os Maias tomaram nota minuciosa do ciclo venusiano integrando-o ao seu calendário religioso. Eles relacionavam Vênus enquanto estrela da manhã ao deus Quetzalcoatl e como estrela da noite a Xolotl. Similarmente, no folclore lituano Vênus era chamada de Ausrine (estrela da manhã) e Akarine (estrela da noite) em suas duas fases onde Ausrine era encarregada de trazer água, fogo e sopa para satisfazer o Sol e a Lua, enquanto que Akarine preparava a cama para que pudessem se deitar. Dessa forma, sob muitos nomes e mitos Vênus encontra-se presente em diferentes culturas ao redor do mundo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Novo site e página do facebook

         Criei recentemente um site e uma página no facebook exclusivamente dedicada a postagens de Jyotiṣa.

Site:

Página do facebook:

         Atualizações recentes na página do facebook incluem:

1.      O Jyotiṣa, a ciência da luz

2.      Kṛṣṇa janmāṣṭamī – o dia do aparecimento de Śrī Kṛṣṇa

3.      O trânsito de Júpiter por leão e a superstição dos casamentos

4.      Rāja lakśaṇa yoga, a conjunção entre o Sol e Júpiter

          Curtam a página para poderem receber todas atualizações.

Hari Om Tat Sat

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Nīchabhanga rāja yoga, anulação de debilidade

      Quando o Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus ou Saturno ocupam respectivamente os signos de libra, escorpião, câncer, peixes, capricórnio, virgem ou áries, eles ficam nīcha, ou debilitados. A palavra nīcha quer dizer rebaixado, insignificante ou inferior. Quando um planeta ocupa seu signo de debilitação ele confere péssimos resultados. No Phaladīpikā é dito o seguinte quanto aos resultados de um planeta em nīcha:

Se um planeta ocupa sua debilitação (nīcha) em uma natividade, a pessoa em questão irá durante a daśā de tal planeta ser rebaixada de sua posição, sofrerá com as ações de outros, se tornará endividada e dependerá do suporte de pessoas vis. Viverá em condições insalubres, realizará atividades vulgares e de um subalterno, caminhará por longas distâncias a pé e realizará atos desastrosos. – 9.18

No BPHS de Parāśara é dito (3.59-60) que um planeta em nīcha confere 0% de resultados benéficos e 100% de resultados maléficos. Logo, fica mais do que claro nos śāstras que essa é a pior de todas as dignidades que um planeta pode obter. Porém, há uma série de fatores que anulam (bhanga) a debilitação (nīcha), eles são chamados de nīchabhanga e não só removem a debilitação como também conduzem a ascensão. Devido a isso, tal yoga é chamado de nīchabhanga rāja yoga, pois conduz o indivíduo de uma situação humilde e difícil a elevação e ao êxito.

Todos os fatores que causam nīchabhanga estão listados logo abaixo:

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Prevendo através dos trânsitos

Anticítera, instrumento utilizado no passado
para cálculos astronômicos.
          Para determinar quando um evento vai se dar, nos valemos dos daśās no jyotiṣa, que são os sistemas de predição baseados em divisões do tempo governados por cada um dos planetas. Porém, além dos daśās, os trânsitos, denominados goccharas, também são fundamentais, pois sem os trânsitos fica muito difícil precisar quando um evento irá se dar.

            Dentre as várias técnicas de análise de trânsitos, como as propostas em clássicos como Phaladīpikā, ou nos Nāḍi Granthas, há uma em especial que é muito eficiente, mencionada por K.N. Rao em seus livros. Essa regra diz que para que algo se manifeste o consentimento de Júpiter e Saturno se faz necessário, ou seja, ambos precisam influenciar por aspecto, ou conjunção, durante os seus trânsitos, as casas, ou os senhores das casas que governam um determinado assunto para que o evento se manifeste. Para exemplificar como isso funciona, um exemplo é dado logo abaixo.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Compreendendo Saturno

          Quando se fala de Saturno, aqueles que compreendem um pouco que seja da astrologia logo pensam na palavra karma. Alguns até dizem que Saturno é quem indica o nosso karma, num sentido pejorativo, o que não é muito apropriado de se dizer, pois o mapa todo compõe o nosso karma. Além do que, karma não é algo necessariamente ruim, pois trata-se de uma lei neutra que pode gerar tanto bons quanto maus frutos. Karma se traduz como atividade e não como fardo, embora seja natural que venha a se tornar um fardo pelo fato de que todos acabam se tornando cativos de seu próprio ciclo de atividades fruitivas, seja um milionário, um miserável, ou o que quer que seja. Portanto, para esclarecer o papel de Saturno e sua relação com o karma, estou escrevendo esse artigo. E para começar, considero que uma das melhores formas de entender Saturno é analisar as casas as quais ele é kāraka (significador), a 8 e a 12, pois isso nos ajudará a ir fundo em seu papel em uma carta natal.

As casas 8 e 12 tratam respectivamente da morte e das perdas, sendo definidas como dusthānas – locais de sofrimento, mas sofrimento com um propósito! Se analisarmos detidamente veremos que as casas 8 e 12 são parte do chamado mokṣa-trikoṇa, casas que, somadas a 4 compõem o triângulo de mokṣa, ou seja, que tratam da libertação do ciclo de nascimentos e mortes. No caso da 8, é a casa do conhecimento esotérico que é a raiz da libertação, e no caso da 12, a casa de śaraṇāgati, rendição, sacrifício completo que frutifica na libertação do saṃsāra. Portanto, isso qualifica essas casas como casas tanto de sofrimento, quanto de libertação, e Saturno é muito importante nesse processo todo.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sūrya yogas: que impacto você tem sobre o mundo?

De acordo com os textos clássicos há três tipos de Sūrya yogas, ou seja, yogas solares: veśi, vośi e ubhayachara yoga. Esses yogas são muito importantes e a prova disso é de que no BPHS eles são um dos primeiros yogas a serem tratados nos capítulos que se destinam a isso. Os Sūrya yogas ajudam a definir a extensão de suporte que uma pessoa receberá do mundo, assim como o impacto que ela terá sobre o mesmo. Por conta disso, esses yogas são muito importantes para determinar status, sucesso, e também o caráter do indivíduo. 

A formação desses três yogas é muito simples, ela se dá da seguinte forma:

   (1)  Veśi yoga: se um planeta ocupa a dois do Sol, veśi yoga se forma.

   (2)  Vośi yoga: se um planeta ocupa a doze do Sol, vośi yoga se forma.

(3)  Ubhayachara yoga: se a dois e doze do Sol estão ocupadas por planetas, ubhayachara yoga se forma.

O significado desses yogas, de acordo com o clássico Sārāvalī, do rei Kalyana, são:

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Os conhecimentos através das casas dois e cinco

        Para definir os conhecimentos de uma pessoa duas casas são muito importantes: a dois e a cinco, pois embora possamos expandir essa questão para muito além dessas duas casas, vamos deter nosso estudo a elas apenas, pois elas provam-se centrais em diversos textos. Phaladīpikā, Jātaka Pārijāta e Sarvārtha Cintāmani determinam os conhecimentos que o indivíduo possui com base na dois, enquanto que a cinco é utilizada para determinar a inteligência, discernimento e memória, ou seja a qualidade do intelecto. Porém, Jaiminī indica a quinta casa como uma casa muito importante também para a determinação de habilidades, pois essa é a casa das paixões, daquilo a que nos devotamos de coração. Na prática podemos comprovar a eficácia de tal princípio exposto por Jaimi. Por exemplo, Herman Hesse possuía Mercúrio e Sol na quinta em gêmeos recebendo o olhar de Júpiter, e o mesmo tinha paixão pela escrita e a filosofia. Outro exemplo é Amedeo Modigliani que possuía Vênus, Mercúrio e Sol na onze em gêmeos a lançarem seus olhares a quinta, o que tornou o mesmo um apaixonado pintor. Portanto, com base nas influências que a quinta casa recebe, podemos determinar quais são as paixões do indivíduo, o que lhe interessa intelectualmente, representando-lhe uma fonte de expressão pessoal e criativa.