terça-feira, 30 de outubro de 2018

Encontros mensais de jyotiṣa

A partir do mês de novembro, começarei a realizar um encontro online mensal para discutir um tema avulso de jyotiṣa - o que inclusive pode ser sugerido pelos participantes. Nesses encontros não teremos PDFs, mas todas as aulas serão gravadas, também teremos exemplos e referências bibliográficas para que o tema seja bem assimilado.

Interessados em participar devem me comunicar via email (jyotishabr@gmail.com) ou whatsapp (12996242742) até o dia 9 de novembro de 2018, pois o primeiro encontro se dará no dia 12 de novembro. Aqueles que não puderem comparecer, receberão a gravação em áudio e poderão esclarecer dúvidas posteriormente.

O tema desse encontro será como avaliar um yoga em um horóscopo, uma vez que para um mesmo yoga podem haver incontáveis variações. Por exemplo, Chandra Maṅgala yoga pode se dar de duas maneiras, por conjunção e oposição entre a Lua e Marte nos doze signos, o que gera vinte e quatro tipos de Chandra Maṅgala yoga, isso quando ignoramos os tantos outros elementos que podem incidir sobre um yoga.

Nesse encontro, portanto, aprenderemos a considerar as variáveis de um yoga, para que análises mais precisas possam ser realizadas. Isso incluirá, naturalmente, considerar fatores que geram bhanga, isso é, a anulação de um determinado yoga.

O valor desse encontro, assim como dos demais, será de apenas R$ 150,00. O tempo de duração de cada encontro é de aproximadamente 90 minutos. Seguirei mantendo publicações mensais que comunicam quando cada encontro se dará e de que tema irá tratar.

oṁ tat sat

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Um pouco da história dos zodíacos tropical e sideral

Resultado de imagem para babylonian astrologerEm seu 'Primer of Sideral Astrology', Cyril Fagan menciona que o zodíaco tropical, ao que tudo indica, foi teorizado por Posidonius de Apameia, um discípulo de Hipparchus que parece ter vivido de 130 a 51 a.C., sendo que posteriormente Ptolomeu, de acordo com os defensores do zodíaco tropical, teria aderido a essa visão. O argumento de Cyril Fagan, no entanto, é de que esse é um engano e Ptolomeu, na verdade, seria um sideralista, pois além dele usar das referências visuais das constelações em seu Tetrabiblos (algo inaplicável com o zodíaco tropical), à sua época o ponto vernal estava praticamente alinhado a 00º00' de áries, daí de muitos terem assumido que Ptolomeu seria um adepto do zodíaco tropical.

Fagan ainda cita que dos 180 horóscopos gregos que restaram até os dias atuais, mais de dois terços desses é anterior a Ptolomeu, enquanto o terço restante é posterior a ele, porém, desses horóscopos todos, pouquíssimos foram calculados usando o zodíaco de Ptolomeu. Eles ou tomavam por referência o sistema A ou o sistema B, dois zodíacos denominados tropicais, mas que originalmente eram zodíacos siderais. Porque? No sistema A o ponto vernal está fixado em 10º de áries, enquanto no sistema B em 8º de áries, ambas coordenadas encontradas em tábuas astronômicas que adentraram a Grécia entre 331-327 a.C., através de Callisthenes e que foram compostas por dois dos maiores astrônomos da Babilônia: Naburianos (Naburiannu) em 508 a.C. e por Cidenas (Kidinnu) em 373 a.C., respectivamente.

sábado, 6 de outubro de 2018

O mapa revela vidas passadas e futuras?

Me lembro que no começo dos meus estudos de astrologia, uma das coisas que me intrigou no jyotiṣa, causando curiosidade, foram os boatos de que por meio dele seria possível ter informações detalhadas sobre a vida passada e futura. Porém, conforme fui estudando, pude perceber que esse era em grande parte um mito.

Varāhamihira, em seu Bṛhat-jātaka (século VI), por exemplo, apresenta um método [ao que tudo indica assimilado de astrólogos anteriores] pelo qual se poderia decifrar tanto o nascimento passado quanto futuro[1], no entanto, trata-se de uma abordagem especulativa e limitada. O nascimento passado seria determinado pelo senhor do drekkāṇa de Sūrya ou Chandra, qual detivesse mais força, enquanto o nascimento futuro se determinaria por meio do graha mais forte a ocupar a seis ou a oito e, caso nenhum graha ocupe tais casas, então o mais forte entre os senhores do drekkāṇa da seis e da oito é que determinaria o nascimento futuro.

Sūrya e Maṅgala indicariam que o indivíduo estaria destinado a renascer na Terra; Chandra e Śukra, o destinariam à pitṛ-loka (o plano onde residem os ancestrais); Guru à deva-loka, enquanto Budha e Śani, à naraka (planos infernais). No caso, esses mesmos locais relacionados a cada graha são usados como referência para determinar o nascimento passado.

Essa técnica, posteriormente foi mencionada também no pūrvakhaṇḍa do BPH (século VI-VII), em um cp. dedicado a determinação do māraka (o graha responsável pela morte), mas dessa vez apresentando uma variação: o nascimento futuro também poderia ser determinado por grahas que ocupassem as casas sete e doze, ao invés de se considerar apenas as casas seis e oito. No entanto, da Sārāvalī (séc. VIII) de Kalyāṇa Varman em diante, essa técnica não foi mais mencionada. Inclusive, Kalyāna, embora tenha se referido ao Bṛhat jātaka como uma referência importante, não apresenta em seu livro qualquer técnica que vise determinar o nascimento passado ou futuro, o que pode revelar uma certa desconfiança de sua parte em relação a técnica de Varāhamihira.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Avaliando as condições de um graha

No Jātaka pārījāta, śloka 34 do segundo adhyāya, afirma-se o seguinte:

"Grahas desprovidos de olhares ou conjunções dos benéficos não se mostrarão auspiciosos se estiverem debilitados, conjuntos ou sob o olhar de maléficos ou grahas inimigos, nos vargas de maléficos, nos sandhis (junções entre um signo e outro), detendo poucos pontos no aṣṭakāvarga, ocupando as porções negativas de um signo, combustos ou subjugados em um graha-yuddha (guerra planetária)."

COMENTÁRIO

A influência de um graha benéfico, como indicada nesse śloka, é capaz de converter um graha em condição indesejável em um graha auspicioso. No entanto, para que isso se dê, tal benéfico deve deter força superior. A isso dá-se o nome de ariṣṭa-bhanga, a nulificação de um infortúnio.

São grahas em condições como essa, ou seja, aflitos mas sob intervenção de um benéfico que podem demonstrar melhoras significativas pela utilização de um upāya (medida remediadora), o que geralmente se dará durante a sua daśā ou durante a daśā do graha benéfico a ele relacionado, assim como quando em certos trânsitos, especialmente de Guru no trikoṇa (1, 5 e 9) do graha aflito.

Uma situação contrária a essa, tal como descrita no śloka, impede o graha de manifestar bons frutos, não importando o esforço empreendido para rebater tais influências. O máximo que pode ocorrer é que ele manifeste alguns bons resultados durante trânsitos benéficos que venham a influenciá-lo, assim como se detiver alguma força ou elemento de auspiciosidade.

Para um graha manifestar resultados completamente negativos, ele deve sofrer com aflições diversas simultaneamente: combustão, debilitação, ocupação de vargas maléficos (ar, le, es, cp e aq), ṣaṣṭāṁśa, nīdhanāṁśa ou vyayāṁśa, influência de maléficos, posicionamento em um gaṇḍānta, em vipat, pratyak, naidhana ou vaināśika-tārā, baixa pontuação no aṣṭakāvarga, pāpa-kartari, graha-yuddha, a fraqueza de seus dispositores, a ocupação de um dusthāna, influência dos senhores de dusthāna ou de grahas inimigos, ocupação de sarpa ou nigala-drekkāṇa, krūra-ṣaṣṭyāṁśa, etc.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Uma breve história da astrologia natal indiana (jātaka)

"Um astrólogo", Tanjore, 1805
A história do jātaka, ramo do jyotiṣa que lida com a genetialogia, ou seja, o estudo de uma natividade/horóscopo, ao invés de ter se iniciado a milhares de anos atrás no período védico, teve início no século II d.C., com um tratado de características predominantemente helenísticas chamado Yavana jātaka, que ingressou na Índia e foi traduzido à época de Kṣatrapa Rudradāman pelo líder da comunidade grega, Yavaneśvara, em Ujjayinī. Posteriormente, esse mesmo texto foi versificado por Sphujidhvaja, em 269/270 d.C., durante o reinado de Kṣatrapa Rudrasena II.

No século seguinte, entre 300-325 d.C., à época de Rudrasiṃha II ou Yaśodāman II, o astrólogo Yavanādhirāja Mīnarāja compôs o Vṛddha yavana jātaka, baseando-se no Yavana jātaka de Yavaneśvara e no tratado perdido de Satyācharya, um astrólogo que só podemos conhecer parcamente através de alguns poucos ensinamentos seus preservados nos clássicos, mas que foi muitas vezes citado.

Já no século VI, Varāhamihira é o astrólogo que se destaca e, entre ele e Mīnarāja, ao que tudo indica, existiram também outros astrólogos como Maya, Maṇittha, Śaktipūrva (Parāśara, mas que não parece ser o mesmo do BPH), Devasvāmin, Viṣṇugupta, Siddhasena, Jīvaśarman, Bādarāyaṇa e Māṇḍavya, pois esses nomes são mencionados por Varāhamihira em seus tratados, Bṛhat saṃhitā e Bṛhat jātaka. Inclusive, pode-se dizer que o grande marco do jyotiṣa foi Varāhamihira, em especial, devido ao seu Bṛhat jātaka, no qual praticamente todos os astrólogos do período medieval se basearam para escrever os seus tratados.