sábado, 22 de dezembro de 2018

Em março, curso online de fundamentos básicos do jyotiṣa

Entre os dias 11-15 de março abrirei uma turma para o curso online de fundamentos básicos do jyotiṣa, focando no método descrito por Varāhamihira em seu Bṛhat jātaka e que foi expandido na Sārāvalī, Phaladīpikā e Jātaka pārījāta, os quais integram os quatro principais textos de jyotiṣa. No entanto, complementaremos o estudo também com outras referências e textos que estejam de acordo com a tradição exposta nesses clássicos.

O curso terá extensão de cinco meses e abrangerá os seguintes tópicos:

1. Introdução ao jyotiṣa
2. Karma, reencarnação e destino (daiva)
3. Os doze signos (rāśis) e o āyanāṁśa (precessão dos equinócios)
4. Os nove planetas (grahas)
5. Olhares dos planetas (graha-dṛṣṭis)
6. Avaliando a força dos planetas (graha-bala)
7. As divisões de um signo (vargas)
8. As doze casas (bhāvas)
9. Kendras (1, 4, 7 e 10) & koṇas (5 e 9)
10. Upachayas (3, 6, 10 e 11), dusthānas (6, 8 e 12) & mārakas (2 e 7)
11. Natureza funcional dos planetas para cada ascendente
12. O processo de interpretação
13-19. Aulas práticas
20. Pacificação dos planetas (graha-śāntiḥ)

Com esse curso, o aluno poderá compreender como o cálculo e a delineação de um mapa são feitos, tornando-se assim apto a interpretar um horóscopo. No entanto, o aspecto preditivo, isso é, determinar quando um evento identificado na delineação se manifestará, não será abordado nesse curso, mas sim em um curso futuro, extensão desse.

Interessados no curso devem me comunicar via email (jyotishabr@gmail.com) até no máximo os últimos dias de fevereiro. O valor do curso é de R$ 1600,00 à vista ou 5x de R$ 350,00. As aulas são semanais, dadas via plataforma de vídeo conferência (gobrunch.com), serão todas gravadas em áudio e enviadas por email. Além disso, o curso inclui PDFs e mapas para exemplificação.

A data de início do curso ficará entre os dias 11-15, justamente porque iremos escolher um dia e horário que seja compatível para todos, no entanto, quem não puder comparecer as aulas online, como foi dito acima, receberá as gravações, logo, não é estritamente necessário comparecer as aulas.

Serão incluídas também no curso referências bibliográficas, artigos diversos, outros tipos de materiais complementares ao ensino, grupo no face e um chat para esclarecimentos de dúvidas. Além disso, enviarei a todos um arquivo contendo os principais textos clássicos em PDF para consultas ao longo do curso.

oṁ tat sat

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O impacto das quinzenas do mês lunar sobre um horóscopo

Na Mānsagarī são descritos (cp. 1) os resultados de nascimentos ocorrendo nos dois pakṣas ou quinzenas do mês lunar, śukla kṛṣṇa:

"Aquele que nasce em śukla-pakṣa (quinzena brilhante, da fase nova à cheia) será brilhante como Chandra, rico, industrioso, versado em muitos śāstras, eficiente e educado.

Quem nasce em kṛṣṇa-pakṣa (quinzena escura, da fase cheia à nova) será cruel, mal-humorado, hostil às mulheres, obtuso, dependerá da misericórdia de outros e terá uma grande família."

O Yavana jātaka, por sua vez, diz o seguinte:

"O indivíduo que nasce em śukla-pakṣa deterá longevidade e terá muitos filhos. Será atencioso para com as necessidades e interesses de seu povo, benevolente, afável, uma pessoa respeitável, mas que viverá sobre o controle de sua esposa.

Aquele que nasce durante kṛṣṇa-pakṣa será habitualmente indolente, desleixado, buscará falhas nos outros e se valerá de uma linguagem áspera e impura."

Por fim, outro clássico que descreve os resultados dos pakṣas é o Jātaka pārījāta, que diz:

"O nascido durante śukla-pakṣa será muito eminente, rico, virtuoso e misericordioso.

Quem nasce em kṛṣṇa-pakṣa perseguirá os seus próprios interesses, será devotado a sua mãe, mas não demonstrará afeto pelos demais parentes."

Basicamente, todos os autores concordam quanto ao fato de que śukla-pakṣa outorga bons resultados, enquanto kṛṣṇa-pakṣa é fonte de maus resultados. No entanto, Chandra é especialmente fraco durante o quarto minguante, que vai de kṛṣṇa aṣṭāmi (oitavo dia lunar da quinzena escura) à śukla pratipad (primeiro dia da quinzena brilhante), sendo que em kṛṣṇa-chaturdaśī (décimo quarto dia da quinzena escura) e em āmāvāsya, Chandra outorga os piores resultados, pois essas duas tithīs (dias lunares) são classificadas nos clássicos como doṣas (defeitos ou desarmonias que afetam o jātaka de maneira integral).

domingo, 16 de dezembro de 2018

Do vedāṅga ao vedānta

As experiências que vivenciamos neste mundo são todas orquestradas pelos três guṇas (qualidades da natureza), a saber, rajas (paixão), sattva (bondade) e tamas (obscuridade). Inclusive, os três invólucros da ātmā (alma), o corpo grosseiro (sthula-śarīra), sutil (sukṣma-śarīra) e causal (karaṇa-śarīra), os quais podem ser experimentados nos estados de vigília, sonho e sono profundo, são todos parte da prakṛti (a natureza material), ou seja, estão sob o jugo de sattva, rajas e tamas.

O seguinte śloka da Bhagavad gītā (13.20) evidencia isso, pois diz:

prakṛtiṁ puruṣaṁ caiva viddhy anādī ubhāv api |
vikārāṁś ca guṇāṁś caiva viddhi prakṛti-sambhavān ||

"Saiba que ambos, prakṛti e jīva [o ser vivo], não possuem origem [são eternos]. Saiba também que o corpo, os sentidos, a felicidade e o sofrimento, manifestam-se todos a partir da prakṛti, não do jīva."

Já o śloka (7.4) abaixo, também da BG, esclarece do que prakṛti se constitui, incluindo não só a matéria grosseira como também sútil:

bhūmir āpo 'nalo vāyuḥ
khaṁ mano buddhir eva ca
ahaṅkāra itīyaṁ me
bhinnā prakṛtir aṣṭadhā

"Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e o falso ego, juntos constituem as oito divisões da Minha prakṛti [energia material]."

Ou seja, os três corpos, os sentidos e as experiências alegres e tristes são todas produzidas pela prakṛti, cuja natureza em nada difere dos três guṇas e dos oito tattvas (elementos) acima mencionados. O jīva em si não é a causa desses eventos. Inclusive, o elemento que desencadeia todas essas experiências latentes na prakṛti é o kāla (o tempo), outro elemento eterno, o qual também pode ser reconhecido como daiva (o destino) ou Paramātmān (a Superalma onipresente ou o Deus imanente), que na Bhagavad gītā (18.14), Śrī Kṛṣna se refere como sendo o quinto fator causal por detrás de todas as ações.

domingo, 2 de dezembro de 2018

A casa dos filhos em horóscopos femininos é a cinco ou a nove?

Recentemente uma pessoa veio desafiar uma análise que fiz sobre o tema filhos a partir de um horóscopo feminino, dizendo que é a partir da nove e não da cinco que se vê os filhos em um horóscopo feminino. De fato, podemos encontrar essa afirmação em três textos clássicos: Horā sāra, Jātaka pārījāta e Phaladīpikā, enquanto que no Bṛhat jātaka, Sārāvalī e no BPHS o contrário é indicado, ou seja, que a casa dos filhos é a cinco para ambos os gêneros.

Inclusive, embora no Jātaka pārījāta seja mencionada a nove como sendo a casa dos filhos em horóscopos femininos, Vaidyanātha afirma educadamente que há outros astrólogos que optam por usar a cinco. Ou seja, há uma divisão de visões entre os astrólogos e eu sempre estive bem ciente disso. Optei por usar a cinco para filhos nos mapas femininos não por ignorância, mas pelos seguintes fatores:

(1) A cinco representa o ventre, enquanto a nove representa as coxas. Gestações se dão no ventre e não nas coxas, obviamente. Também não faria sentido dizer que o ventre em mapas femininos é indicado pela nove, pois isso quebraria com a ordem natural das casas e das partes do corpo por elas representadas.

(2) Se a nove é a casa dos filhos em mapas femininos, será também a casa do alunos/discípulos. Nesse caso, onde ficaria o guru/professor, tema natural da nove? Na cinco? Ou teríamos filhos, discípulos e o guru todos na mesma casa? Isso também não faz sentido algum.

(3) A nove é a cinco da cinco, ou seja, ela tem impacto sobre os temas de cinco, assim como a três tem sobre os da oito (sendo a oito da oito), a nove nos temas de onze (sendo a onze da onze), etc. Dessa forma, tanto em horóscopos masculinos quanto femininos a nove pode ser usada para analisar filhos, mas apenas como uma indicação secundária e nunca como uma indicação primária, uma vez que a nove, sendo a cinco da cinco, é em primeiro lugar a casa dos netos e não dos filhos. Na minha opinião, a confusão a respeito do tema se deve exatamente a essa derivação.

Além desses fatores, tem outro muito mais significante: os exemplos práticos em si. Estudei dezenas de casos somente para escrever esse artigo, considerando também a minha experiência prévia, portanto apresento aqui alguns desses casos que deixam mais do que claro que é a cinco que trata de filhos tanto em horóscopos masculinos quanto femininos, algo que B. V. Raman e K. N. Rao, os dois maiores nomes do jyotiṣa contemporâneo também concordam e exemplificam abundantemente em seus livros.