Dos temas que podem ser
estudados em um horóscopo, nenhum é tão difícil de precisar quanto o tema longevidade. Mesmo
os melhores astrólogos podem falhar ou se mostrar apreensivos em relação ao
estudo dessa área da vida. No entanto, os astrólogos do passado deixaram
bastante claro que antes de analisar qualquer coisa em um mapa, o astrólogo
deve determinar a longevidade do indivíduo, pois afinal, de que adiantam rāja yogas para alguém que está
destinado a morrer antes de desfrutar dos resultados desses?
Para resolver esse
problema, os astrólogos do passado desenvolveram dezenas de métodos visando determinar a
longevidade de um indivíduo. No caso, a esses métodos é dado o nome de nitya āyurdāya quando envolvem cálculos
matemáticos - como é o caso do piṇḍa,
aṁśa e nisarga āyurdāya - ou anitya ayurdāya,
quando envolvem a observação de três pares de fatores - como é o caso do método
de Jaimini e o de Mantreśvara. Nenhum desses sistemas é 100% funcional, pois
inclusive alguns deles possuem inúmeras variações possíveis em seus cálculos,
fruto tanto de discordância quanto também de dúvida entre os astrólogos
clássicos e contemporâneos.
Em vista disso, muitos se
sentem desencorajados a tentar determinar a longevidade. Porém, há um terceiro
método de avaliar a longevidade: yogaja,
o qual é muito mais flexível e, por sinal, pode-se dizer que é 100% preciso se
utilizado da maneira correta. Nesse método, o que importa é observar a
distribuição dos grahas no mapa, suas
forças, os yogas que formam e consequentemente,
a maneira como afetam a longevidade.
Um indivíduo que nasce
com Chandra na oito, minguante, conjunto a Rāhu e sob olhar de Śani, sem
qualquer intervenção de um saumya graha
(benéfico), por exemplo, é um caso de alpayu,
vida curta, senão de balāriṣṭa, morte
infantil. Já alguém que nasce com Śani exaltado na onze e o regente da oito
digno na cinco, enquanto o senhor do lagna
ocupa um kendra sob olhar de Guru, é um caso de pūrṇāyu
(vida longa).
Praticamente todos os
textos clássicos de jyotiṣa contém
pelo menos um capítulo inteiro dedicado ao tema longevidade e, quando não, possuem
pelo menos alguns versos dedicados ao assunto, incluindo sempre versos que se
referem a yogaja. Inclusive, em seu “How
to judge a horoscope”, B. V. Raman chegou a listar uma série de yogas para vida curta, média e longa,
extraídos de versos clássicos. Dessa forma, é possível sim prever a longevidade
de um indivíduo, especialmente por meio de yogaja,
porém, isso não necessariamente é algo fácil de se fazer, pois como disse mais
acima, nada é mais difícil no jyotiṣa
do que determinar a longevidade de um indivíduo.
Mas então podemos nos perguntar: "Só observar yogaja é suficiente para determinar a longevidade?", a resposta é: "Sim e não", pois yogaja já nos dá a longevidade do indivíduo, mas para que haja uma confirmação segura, é importante conjugar a análise de yogaja com a observação das daśās,
pois afinal, para um indivíduo encerrar sua vida ele precisa passar pela daśā de um māraka[1].
Claro que também podemos incluir o uso de nitya
e anitya āyurdāya em nossas análises, mas apenas como
uma referência secundária, uma vez que yogaja
e daśā são muito mais importantes e
precisos.
Outra coisa que ajuda imensamente na determinação da longevidade é cruzar os dados do indivíduo com os de pessoas próximas a ele. Por exemplo, podemos inferir a longevidade de alguém com mais segurança se observamos o mapa de seus filhos, esposa, esposo, pai, mãe, etc., afinal, os mapas desses também irão refletir o evento de sua morte, por meio das daśās. Inclusive, com as daśās conjugadas em um ou mais mapas podemos tanto inferir um período mais estreito quanto também mais amplo em que a vida do indivíduo se encerraria, o que pode ser determinado de acordo com a preferência do mesmo ou a capacidade do astrólogo em si. Por exemplo, pode-se dizer: “você provavelmente viverá algo entre 60-77 anos de idade,
pois esse período corresponde a mahādaśā
de Budha, um māraka em potencial no
seu mapa” ou “provavelmente, a sua vida se encerrará entre 71-80 anos de idade,
período que corresponde a sua sthira daśā
de áries, um māraka rāśi em potencial”,
etc. Isso já dá uma boa noção do quanto o indivíduo viverá ou do quanto ele no
mínimo viverá, além de dar uma sensação maior de liberdade, afinal, não se trata do ano exato da morte, mas de anos prováveis.
Devo mencionar também que um astrólogo só pode revelar a longevidade de uma pessoa que
deseje saber sobre o assunto, do contrário, mencionar a longevidade sem que haja por parte do indivíduo o desejo de saber a respeito disso passa a ser um ato de violência. Não só, ninguém deve jamais se aventurar a tentar determinar a longevidade de alguém sem antes ter estudado a fundo o tema e desenvolvido alguma experiência astrológica substancial. Ainda mais porque muitos casos levarão mesmo um astrólogo experiente a ter dúvidas sobre a capacidade de uma daśā de
encerrar a vida, o que dizer então de um leigo ou um estudante inexperiente e cujo conhecimento é limitado? Em situações como essa, onde mesmo um astrólogo experiente não tem certeza quanto a capacidade de uma daśā de pôr fim a vida, o mais prudente é sempre recomendar que o indivíduo cuide de
sua saúde, reveja seus hábitos se necessário e que intensifique ou comece uma prática
espiritual. Por sinal, o upāya
que Parāśara geralmente recomenda, no caso das māraka daśās, é a recitação regular do mahāmṛtyunjāya
mantra, o que pode tanto ajudar o indivíduo a superar os riscos que
vier a encontrar quanto também o preparar para a sua derradeira passagem,
afinal, não é novidade que nada perdura neste efêmero mundo material.
oṁ
tat sat
[1] Por māraka não me refiro apenas aos ocupantes ou senhores de dois e
sete, uma vez que māraka nesse caso
se refere a grahas que podem tirar a
vida, mas que não necessariamente são regentes ou ocupantes de dois e sete.
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