sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Āyurjyotiṣa: os tipos e desequilíbrios de vāta

O doṣa vāta (predominado pelo "vento") pode ser relacionado a dois grahas: Śani e Budha (tridoṣa, no entanto, um pouco mais vāta), onde Śani representa o aspecto vāta mais negativo e doente, enquanto Budha, o aspecto positivo e saudável. Além disso, os dois nodos, Rāhu e Ketu, são definidos por Parāśara como vāta, embora Ketu também tenha algo de pitta, no entanto, para manter a concisão do artigo, não entrarei em detalhes a respeito desses dois grahas.

Um indivíduo terá uma constituição vāta quando os grahas acima mencionados forem encontrados influenciando o lagna, lagneśa, Sūrya, Chandra ou estiverem fortes a ocupar os ângulos do mapa. Esses mesmos grahas em dusthānas ou relacionados aos seus senhores também podem gerar desequilíbrios característicos desse doṣa. Além disso, os signos de Budha (gêmeos e virgem) e Śani (capricórnio e aquário) no lagna ou proeminentes de alguma forma naturalmente predispõem a uma natureza vāta.

A descrição que é dada das qualidades de vāta nos clássicos de āyurveda envolvem frio, secura, leveza e mobilidade, principalmente. No corpo, ele preside o sistema nervoso, o processo de excreção e todas as outras formas de movimento, estando principalmente situado no intestino grosso e se dividindo ao longo do corpo em cinco vātas ou vāyus: udāna vāyu, prāṇa vāyu, samāna vāyu, apana vāyu e vyāna vāyu, que cuidam de diferentes processos envolvendo sempre mobilidade física ou psicológica.

Um indivíduo vāta é caracterizado fisicamente pela irregularidade, ou seja, são muito altos ou muito baixos, os dentes podem ser mal formados, tortos e espaçados entre si, a feição pode ser assimétrica, etc. Além disso, são ossudos e magros, com juntas e veias geralmente aparentes, digestão e apetite irregular, pele seca, rachada ou áspera, olhos pequenos, cabelo ondulado ou crespo e outras características provenientes das qualidades próprias de vāta como secura, mobilidade e irregularidade.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Āyurjyotiṣa: os tipos e desequilíbrios de pitta

Pitta doṣa, os desequilíbrios de pitta (fogo, em palavras simples), são comuns em indivíduos que possuem Sūrya ou Maṅgala (os dois pitta grahas) muito proeminentes no mapa, ou seja, fortes, influenciando Chandra, o lagna ou seu senhor, nas casas angulares (1, 4, 7 e 10, especialmente se estiverem dignos), nos dusthānas (6, 8 e 12) ou junto de seus senhores. 

Os lagnas áries, leão e escorpião, sendo de natureza pitta, também inclinam indivíduos que nasceram com esses lagnas ou com significadores pessoais/muitos grahas nesses signos a desequilíbrios de pitta. Fora isso, durante os períodos (mahā-antar-pratyantar-daśā) de tais grahas ou durante certos trânsitos dos mesmos há também uma tendência muito maior a problemas desse tipo, mesmo para aqueles que não possuem uma constituição ou desequilíbrios característicos de pitta.

No caso, um indivíduo pitta é caracterizado por um porte e peso mediano, musculatura bem desenvolvida, bom apetite e sede, pele avermelhada e propensa a acne e irritações, olhos geralmente claros e sensíveis a luz, cabelo fino, claro (loiro, ruivo ou castanho claro), com tendência a se tornar calvo ou grisalho prematuramente, temperamento forte e dominador, capacidade de liderança, percepção afiada, natureza argumentativa, discurso preciso, tendências agressivas, competitividade, impulsividade, inteligência aguda, imprudência e dinamismo.

Os desequilíbrios físicos de pitta envolvem calor, oleosidade e acidez desmedida no corpo, o que gera problemas como inflamações, complicações cardíacas, irritações na pele, ulceras, toxicidade sanguínea, problemas de visão, febres, excessos, etc., além de estarem mais propensos a acidentes - mais até do que a problemas de saúde, pois geralmente gozam de boa saúde -, uma vez que são impulsivos e por vezes imprudentes. Os desequilíbrios psicológicos envolvem ira, natureza crítica e controladora, fanatismo, brutalidade, insensibilidade, autoritarismo, incapacidade de se colocar no lugar dos demais ou de enxergar pontos de vista diferentes, impulsividade, arrogância, luxúria e dinamismo excessivo.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Curso em fevereiro sobre como interpretar Sūrya (Sol) detalhadamente

Em fevereiro darei um curso sobre Sūrya (Sol), ensinando como interpretar sua posição em um horóscopo. 

Sendo o maior de todos os grahas e aquele que oferta luz e vida a todo o sistema, Sūrya tem importância central em um horóscopo, pois representa todo tipo de princípio no qual as coisas se desenvolvem ou estão apoiadas.

P. e., uma sociedade não pode se desenvolver sem um governante ou um sistema. Da mesma forma, o corpo não pode se manter sem a presença do ātma (alma). Sūrya é justamente quem rege tais elementos.

Esclarecimentos como esse serão dados no decorrer do curso, que contando com uma sólida base clássica, incluirá os seguintes tópicos:

1.      Compreendendo a natureza de Sūrya; relacionamentos e elementos de força.
2.      Sūrya nos 12 signos.
3.      Sūrya nas 12 casas.
4.      Sūrya em relação aos vargas.
5.      Sūrya conjunto aos outros 8 grahas.
6.      Regras para avaliar a viṁśottarī mahādaśā (período) de Sūrya.
7.      Regras para avaliar os trânsitos de Sūrya.
8.      Upāyas (remédios) para Sūrya.

Essa será a primeira de nove aulas que darei sobre a interpretação isolada de cada um dos grahas. Cada uma dessas aulas incluirá 50 mapas para estudo e exemplificação, PDF com mais de 20 páginas, acompanhamento durante a aula online na plataforma de vídeo conferência (GoToMeeting) e a gravação da aula.

Alunos também poderão esclarecer dúvidas posteriormente, inclusive sobre dúvidas acerca da posição de Sūrya no próprio mapa. Interessados devem me comunicar via email (jyotishabr@gmail.com). O valor do investimento é de R$ 500,00, o qual também pode ser parcelado em até 12x via PagSeguro.

O prazo para inscrição e depósito vai até o dia 15 de fevereiro, enquanto a data das aulas será marcada após o dia 15, conforme a disponibilidade dos alunos. Aproveite, pois posso garantir que dificilmente vai encontrar um conteúdo tão denso e rico acerca de Sūrya quanto o que passarei nesse curso e que é fruto de extenso estudo e pesquisa.

Om tat sat

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Viṣa yoga, a conjunção de Śani e Rāhu

Śani e Rāhu se encontram a cada 11 anos, em média. Essa é a segunda conjunção mais rara, a primeira é entre Guru e Śani, que ocorre apenas a cada 20 anos, aproximadamente. Por conta disso, tal conjunção é relevante no âmbito da astrologia mundial, embora também não deixe de ser em jātaka (astrologia natal), onde é chamada hoje em dia de viṣa yoga (yoga venenoso) ou śrapita doṣa (maldição).

As seis últimas vezes que Śani e Rāhu se encontraram em conjunções exatas foi em setembro de 2013, junho de 2002, janeiro de 1991, julho de 1979, abril de 1968 e em outubro de 1956, enquanto a próxima só ocorrerá em abril de 2025. 

Estudando os períodos passados notei que são comuns eventos como guerras, intervenções em países estrangeiros, desastres naturais, progressos tecnológicos, queda ou morte de reis e governantes, reformas políticas ou a queda de sistemas, acidentes violentos, morte ou risco para as pessoas mais velhas, rebeliões e crimes hediondos, o que torna essa uma conjunção temível.

Mas não é apenas no âmbito mundial que essa configuração é temida, em jātaka ocorre o mesmo. Parāśara, p. e., diz que quando Śani e Rāhu ocupam a três (oito da oito) isso pode gerar uma morte cruel (por envenenamento, acidentes, etc.); se estiverem conjuntos, enquanto a seis e seu senhor se encontram aflitos por outros maléficos, então o indivíduo sofrerá com doenças por toda a sua vida; se ocuparem a dois, junto de Sūrya, Budha e Śukra, o pai do indivíduo morrerá antes do seu nascimento, enquanto sua mãe morrerá algum tempo depois; conjuntos a Sūrya e Maṅgala na doze conduzem o indivíduo a nāraka (inferno), etc.

Jaimini também fala algo a respeito dessa conjunção. Se ela ocorre na três, destrói os irmãos; na nove, o indivíduo trairá seus preceptores e se mostrará avesso as tradições; sobre o upapāda, denota viuvez ou divórcio causado por algum escândalo e se o signo ocupado for aquário ou peixes, a esposa será manca e sofrerá com desequilíbrios de vata (artrite, paralisia, depressão, ansiedade, medo, etc.); no hemisfério visível ou invisível, mostra que o indivíduo não realizará a cerimônia de śraddhā de seu pai ou mãe, respectivamente. Porém, Jaimini também diz que todas essas configurações não gerarão tais efeitos se um benéfico intervir.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Conjunções de quatro ou mais grahas

As vezes encontramos mapas onde quatro ou mais grahas se concentram em um mesmo signo, o que em geral não é um bom sinal. Os astrólogos helenísticos chamaram essa configuração de stellium. No jyotiṣa não há um termo equivalente a stellium, mas apenas graha-yoga que quer dizer 'união de grahas' e, de acordo com o número de grahas envolvidos, dá-se uma definição numérica ao yoga.

P. e., se há três grahas envolvidos, o nome de tal graha yoga é tri-graha-yoga, se são quatro, chatur-graha-yoga, se cinco, pancha-graha-yoga, seis, ṣaḍ-graha-yoga e se envolver todos os sete (de Sūrya a Śani), sapta-graha-yoga. Nesse caso, os nodos (Rāhu e Ketu) não são incluídos, pois pertencem ao grupo de chāyā-grahas (grahas sombra, incorpóreos), os quais apenas acentuam efeitos, tornando-os mais extremos.

Há vários textos de jyotiṣa que trataram dos graha-yogas, mas poucos delinearam os efeitos específicos de cada um dos yogas que envolvem quatro ou mais grahas. Um desses textos é a Sārāvalī de Kalyāna Verma, o qual dedicou os capítulos 15-19 a descrever os efeitos de yogas envolvendo de dois a até no máximo seis grahas. Sapta-graha-yoga foi ignorado, pois na verdade o seu nome é gola yoga, cujos efeitos são indigência, preguiça, ignorância, desonra, tristeza e impureza, de acordo com o cp. 21 da Sārāvalī.