segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Viṣa yoga, a conjunção de Śani e Rāhu

Śani e Rāhu se encontram a cada 11 anos, em média. Essa é a segunda conjunção mais rara, a primeira é entre Guru e Śani, que ocorre apenas a cada 20 anos, aproximadamente. Por conta disso, tal conjunção é relevante no âmbito da astrologia mundial, embora também não deixe de ser em jātaka (astrologia natal), onde é chamada hoje em dia de viṣa yoga (yoga venenoso) ou śrapita doṣa (maldição).

As seis últimas vezes que Śani e Rāhu se encontraram em conjunções exatas foi em setembro de 2013, junho de 2002, janeiro de 1991, julho de 1979, abril de 1968 e em outubro de 1956, enquanto a próxima só ocorrerá em abril de 2025. 

Estudando os períodos passados notei que são comuns eventos como guerras, intervenções em países estrangeiros, desastres naturais, progressos tecnológicos, queda ou morte de reis e governantes, reformas políticas ou a queda de sistemas, acidentes violentos, morte ou risco para as pessoas mais velhas, rebeliões e crimes hediondos, o que torna essa uma conjunção temível.

Mas não é apenas no âmbito mundial que essa configuração é temida, em jātaka ocorre o mesmo. Parāśara, p. e., diz que quando Śani e Rāhu ocupam a três (oito da oito) isso pode gerar uma morte cruel (por envenenamento, acidentes, etc.); se estiverem conjuntos, enquanto a seis e seu senhor se encontram aflitos por outros maléficos, então o indivíduo sofrerá com doenças por toda a sua vida; se ocuparem a dois, junto de Sūrya, Budha e Śukra, o pai do indivíduo morrerá antes do seu nascimento, enquanto sua mãe morrerá algum tempo depois; conjuntos a Sūrya e Maṅgala na doze conduzem o indivíduo a nāraka (inferno), etc.

Jaimini também fala algo a respeito dessa conjunção. Se ela ocorre na três, destrói os irmãos; na nove, o indivíduo trairá seus preceptores e se mostrará avesso as tradições; sobre o upapāda, denota viuvez ou divórcio causado por algum escândalo e se o signo ocupado for aquário ou peixes, a esposa será manca e sofrerá com desequilíbrios de vata (artrite, paralisia, depressão, ansiedade, medo, etc.); no hemisfério visível ou invisível, mostra que o indivíduo não realizará a cerimônia de śraddhā de seu pai ou mãe, respectivamente. Porém, Jaimini também diz que todas essas configurações não gerarão tais efeitos se um benéfico intervir.

Algumas outras referências que encontrei dessa configuração estão no Sarvārtha chintāmaṇi e no Jātaka pārījāta. No Sarvārtha, Vyankateśa diz que Śani e Rāhu no lagna indicam perturbações causadas por fantasmas, enquanto no Jātaka pārījāta, Vaidyanātha diz que essa configuração envolvendo um lagneśa maléfico na seis ou Guru fará do indivíduo um chāṇḍāla (pária). Se Śani e Rāhu estiverem conjuntos também gerarão problemas envolvendo o escroto e se afetarem o senhor da seis, o indivíduo pode sofrer algum acidente envolvendo um quadrúpede. No caso de um pravrajya yoga (configuração para renúncia e adesão a uma sampradāya) onde Śani e Rāhu interferem, o indivíduo será condenado apostata.

Logo, podemos ver que em geral a conjunção de Śani e Rāhu é muito mal vista nos clássicos, que na verdade não vêem com bons olhos qualquer tipo de conjunção entre dois ou mais maléficos, pois são uma espécie de ariṣṭa yoga (configuração para desastre e infortúnio) e geralmente indicam algum tipo de mau karma realizado em vida passada. O único verso que atribui bons efeitos a essa conjunção esta presente no Jātaka pārījāta, em que é dito que se Guru estiver conjunto a Śani e Rāhu, mas sob o olhar de Budha e Śukra, o indivíduo, embora nascido śūdra (a mais inferior das castas) se tornará um dvija (brāhmaṇa, um duas vezes nascido) instruído em todos os tipos de ciências. Há também referências a dois ou mais maléficos na seis denotando grande força, mas também muitos inimigos.

Minha prática confirma praticamente todos esses princípios expostos nos śāstras, no entanto, é importante nos aprofundarmos mais nos efeitos desse yoga, para que não sejamos rígidos demais na sua interpretação, o que infelizmente é comum. Podemos encontrar pessoas declarando que a conjunção de Śani e Rāhu condena completamente a vida do indivíduo, o que não é verdade, trata-se de uma generalização tola e um incentivo a superstição, pois essa conjunção pode durar por volta de 1 ano (considerando apenas a conjunção mais estreita), o que implicaria em cerca de oitenta milhões de nascimentos condenados ao completo fracasso.

De fato, Śani e Rāhu conjuntos podem fortalecer muitos dos males de um horóscopo e enfraquecer os seus bons frutos, mas não dá para generalizar. P. e., Rāhu tem relação com estrangeiros, tecnologia, ambição, trapaça e extravagância, enquanto Śani é designado como conservador, tradicional, rígido, sistemático e um trabalhador paciente, ou seja, essa configuração fala sobre um constante conflito entre a rigorosa metodologia de Śani e a impaciência gananciosa e futurística de Rāhu. Um indivíduo com tal configuração poderá quebrar regras e trapacear para gozar de amplos privilégios em um âmbito hierárquico. P. e., ele pode vir a gozar de um elevado status social e financeiro, mas as custas de mentiras e dinheiro sujo, o que torna essa uma configuração interessante para políticos e criminosos.

No entanto, sob influência benéfica e apoiado em outros elementos positivos, tal configuração pode denotar ascensão de uma situação decadente ou inferior, como descrito no verso do Jātaka pārījāta acima mencionado. Também pode ser a causa de uma conversão para os valores de uma outra cultura/religião, assim como de inovações e reformas no âmbito afetado pela configuração, especialmente se o signo ocupado for um signo móvel (ar, cn, li ou cp).

Inclusive, em casos onde Śani e Rāhu tornam-se yogakārakas, isso pode denotar grandes conquistas no âmbito tecnológico, médico e terapêutico (especialmente se Sūrya estiver envolvido e sob olhar de um benéfico), em relações internacionais ou trabalhos que envolvam algum elemento estrangeiro ou inovador.


O mapa acima é um exemplo claro de como Rāhu e Śani podem trazer conquistas ligadas ao estrangeiro. Susanna Agnelli foi a primeira mulher a assumir o cargo de ministra de relações internacionais, o que se deu exatamente durante a mahādaśā de Śani na doze influenciando Chandra, o senhor da décima casa. Porém, essa mesma configuração indica também a morte precoce de seu pai (43 anos de idade) em um acidente de avião, quando Susanna tinha apenas 13 anos.


Vejam esse mapa, pertencente a Karl Abraham, o qual, de acordo com Sigmund Freud, era o seu melhor discípulo. Durante a mahādaśā de Śani, Karl conheceu Freud, se desenvolveu nos estudos e no campo profissional, enquanto psicanalista. Aqui é notável que Śani detém força e ocupa a segunda casa das responsabilidades, educação, desenvolvimento econômico e discurso. Sua conjunção a Rāhu, sendo Śani o karma kāraka, fez com que Karl se envolvesse com um trabalho inovador para a sua época e que dependia de explorar os segredos do inconsciente, rompendo também com tabus sociais.

Mas como nem tudo são rosas, Karl acabou morrendo cedo, aos 42 anos de idade, devido a problemas pulmonares (possivelmente um câncer), típico desequilíbrio de vata. Notem que Śani e os nodos influenciam o eixo 2-8 do mapa, determinado a fatalidade, enquanto o maléfico ocupando o lagna, os dois benéficos em dusthāna, os luminares debilitados no navāṁśa e Śukra, o único benéfico em kendra, mas combusto, só reiteram a promessa.



Carl Sagan, o famoso e inovador astrônomo, cosmologista, cientista, etc., conta com Śani e Rāhu na dez e nove, respectivamente, embora conjuntos em capricórnio. Śani aqui detém força e tanto ele quanto Rāhu atuam como yogakārakas, o que fez de Sagan exitoso no âmbito científico/tecnológico. No entanto, isso foi feito as custas de uma completa negação das antigas tradições religiosas e a constantes críticas as mesmas, conforme pontuou Jaimini acerca dos efeitos de Śani e Rāhu sobre a nona casa.


Por fim, temos acima o mapa de Michele Alboreto, um bem sucedido piloto de F1 que competiu em muitos países, mas acabou tendo um fim precoce, morrendo aos 44 anos em um teste de velocidade em Dresden, na Alemanha. Notem que Śukra, kāraka de veículos, ocupa a nove (estrangeiro), enquanto senhor de oito (morte), estando cercado por Śani e Rāhu. 

Inclusive, sua morte se deu durante a antardaśā de Śani, dentro da mahādaśā de Guru. Não só o senhor de três e oito aflito por Śani e Rāhu justificam a sua morte precoce. Maṅgala no lagna afligindo o lagneśa na sete, Chandra na seis sob olhar de Śani e Rāhu ocupando a oito (b. chakra) são outros importantes elementos.

Embora dois dos exemplos acima citados envolvam morte precoce, Śani Rāhu yoga não necessariamente causará isso. Akihito, o imperador do Japão, p. e., tem Śani Rāhu yoga na onze junto de Śukra e está com 84 anos. Frater Albertus, outro caso de Śani Rāhu yoga, morreu com mais de 70 anos. Enfim, há muitos outros casos provando que para haver morte precoce uma confluência de fatores é necessária, tal como no caso de Michele Alboreto e de Karl Abraham.

Quanto aos muitos efeitos negativos atribuídos ao viṣa yoga, como p. e., natureza irresponsável e auto destrutiva, inclinação a vícios, crime e infortúnio não só familiar, como também afetivo, profissional e educacional, para que sejam confirmados é preciso notar exatamente o que o viṣa yoga afeta no mapa e o quanto os demais fatores contribuem para confirmação ou negação de seus efeitos.

Os upayas (remédios) recomendados para lidar com as dificuldades causadas pelo viṣa yoga são a recitação regular do mahāmṛtyunjāya mantra, especialmente quando há aflição direta sobre elementos ligados a saúde no mapa. Seguir ekadaśī vrata, recitar o Durga saptaśatī, realizar doações a pessoas pobres e velhas durante os sábados também são outras medidas possíveis e, acima de tudo está o cantar devotado de harināma (Viṣṇu, Rāma ou Kṛṣṇa mantras, principalmente), que é sempre o melhor dentre todos os yajñās (sacrifícios religiosos), de acordo com diferentes escrituras.

Om tat sat

Nenhum comentário:

Postar um comentário