Dentre os yogas, talvez um dos mais
incompreendidos seja o viparīta rāja yoga,
um tipo de rāja yoga que manifesta
seus resultados apenas após alguma situação estressante e dolorosa, ou seja, após
algum tipo de revés (viparīta -
contrário, inverso, oposto). A razão principal desse ser um yoga tão incompreendido é a divergência
existente em relação ao tema entre os astrólogos tanto clássicos quanto
contemporâneos.
Mantreśvara, por
exemplo, no cp. sexto de sua Phaladīpikā, opina que o viparīta ocorre quando (1) o senhor de seis ocupa a oito ou a doze
sob influência de um maléfico; (2) o senhor de oito ocupa a seis, oito ou doze;
(3) o senhor de doze ocupa a seis ou oito sob influência de um maléfico. Os
nomes que ele dá a esses yogas são,
respectivamente, harṣa (deleite), sarala (honesto, correto) e vimala yoga (puro), e seus efeitos
incluem um bom caráter, destemor, sucesso e riqueza, dentre outros. No entanto,
para que o viparīta seja funcional
não pode haver parivartana (recepção
mútua) envolvendo um senhor de dusthāna com
o senhor de qualquer outra casa, pois isso desencadeia um dainya yoga, um yoga para
miséria, pobreza e difíceis revezes na vida. Essas são, basicamente, as
opiniões de Mantreśvara quanto a viparīta
rāja yoga.
Outro astrólogo -
posterior a Mantreśvara -, chamado Kālīdāsa e que é autor do Uttara kalāmṛta,
já tem uma opinião um pouco distinta, inclusive, ele é quem usa pela primeira
vez o termo viparīta rāja yoga. No
cp. quarto, ele diz que um viparīta ocorre
quando o senhor de um dusthāna ocupa
outro dusthāna - assim como menciona
Mantreśvara -, mas sem a interferência de qualquer outro graha que não seja o senhor de um dusthāna. Além disso, na opinião de Kālīdāsa, se os senhores de dusthānas formam um parivartana entre si, isso também gera um viparīta ao invés de um dainya
yoga, como afirma Mantreśvara. Conjunções e outros sambandhas (relacionamentos) entre senhores de dusthānas, mesmo que não se deem em dusthānas, para Kālīdāsa também são viparītas.
Alguns outros autores
que comentaram a disposição dos regentes de dusthānas
em dusthānas foram Yavanācharya,
Harji e Parāśara. No entanto, eles não tratam tais yogas como viparītas.
Inclusive, Parāśara chega até a mencionar que o regente de oito na seis
destruirá os inimigos, enquanto o de doze na oito fará o indivíduo virtuoso e
afortunado, porém, em geral muitos outros maus resultados referentes ao caráter
e a saúde acompanham esses e outros yogas
envolvendo regentes de dusthānas em
dusthānas. Portanto, como podemos
conciliar essas informações tão distintas? Por um lado temos Mantreśvara e
Kālīdāsa atribuindo excelentes resultados aos viparītas, tanto em termos de sucesso e riqueza, quanto de saúde e
caráter, enquanto que por outro lado Parāśara, Harji e outros astrólogos
descrevem tais posicionamentos como sendo maléficos e completamente opostos em
seus resultados.
A minha observação
pessoal - que é também a observação de outros astrólogos contemporâneos como Marc Boney e Alan Annand - sobre o tema é de que ter um regente de dusthāna em dusthāna não
é suficiente para gerar um rāja yoga.
Tais grahas devem estar de alguma
forma fortes e se possível, envolvidos com outros senhores de dusthānas ou mesmo participando de
outros rāja yogas. Se o lagna, lagneśa e Chandra ainda detém força, então os resultados do viparīta serão mais certos do que em uma
situação contrária a essa. Inclusive, para um julgamento mais preciso, deve-se
notar como esse yoga se apresenta em
relação ao Chandra lagna.
No que se refere ao dainya parivartana yoga, a depender da
situação ele pode sim se converter em um viparīta
rāja yoga, no entanto, os fatores acima mencionados devem estar presentes,
caso contrário apenas as misérias aumentarão na vida do indivíduo dentro do
período de tais grahas.
Outra consideração
importante é de que quando um outro graha,
que não o regente de um dusthāna,
está envolvido em um viparīta, os
temas do mesmo sofrem. P. e., se o regente da quatro está envolvido em um viparīta o sucesso ou as conquistas do
indivíduo podem vir logo após a morte da mãe. Logo, idealmente não se deve ter
outros regentes envolvidos em um viparīta,
exceto os de dusthānas. Inclusive,
quando dois ou os três senhores de dusthānas
se relacionam em um dusthāna, tal viparīta confere excelentes resultados e
o mesmo pode ser dito quando todos os senhores de dusthāna formam viparīta,
estando dotados de algum tipo de força.
Em casos onde o viparīta se forma pela conjunção ou
olhar mútuo entre senhores de dusthānas,
mas em casas que não sejam dusthānas,
deve-se saber que o viparīta continuará
funcional, mas afetará negativamente a(s) casa(s) afetada(s). P. e., se o viparīta
se dá na sete, o indivíduo gozará de sucesso na daśā dos grahas
envolvidos, mas também viverá uma série de dificuldades na vida afetiva e em
suas parcerias e relacionamentos em geral.
Mesmo em casos onde o viparīta rāja yoga se dá em dusthāna, ele sempre vem acompanhado de
certas dificuldades, perdas ou outras infelicidades. Além disso, pode coexistir
com o viparīta defeitos de caráter e
problemas de saúde, como fica claro nos versos do Bṛhāt Parāśara horā śāstra e
do Mānsagari que tratam dos resultados dos regentes de dusthānas em dusthānas.
No entanto, decifrar quando esses resultados estarão presentes é algo que
depende de um estudo integral do mapa e não só da disposição do viparīta.
om
tat sat
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