Há um yoga que é muito comentado nos dias
atuais, o chamado Guru Chāṇḍāla yoga,
que a partir dos princípios
clássicos envolve basicamente dois padrões:
(1.1) Guru conjunto a Rāhu sob a influência de um maléfico (idealmente tamasika).
(1.2) Guru conjunto a Ketu sob a influência de um maléfico (idealmente tamasika).
Os resultados desse yoga envolvem, basicamente, ingratidão, traição
aos mentores, inclinações pecaminosas e vis, mau caráter e a realização de
atividades anti-sociais. Além disso, pode denotar um nāstika (ateísta), alguém de conduta heterodoxa e até mesmo um
assassino.
Algumas pessoas consideram
que Guru conjunto a Śani ou Gulika também gera Guru Chāṇḍāla yoga, o que é parcialmente correto,
pois ambos predispõem a uma atitude blasfema. Inclusive, no Jātaka pārījāta é
dito que a conjunção de Guru e Gulika indica um herege. Porém, essas
configurações, incluindo as clássicas, para serem confirmadas precisam ser comparadas
com outros aspectos do jātaka
(horóscopo). K. N. Rao mesmo considera[1]
que aflições a nove ou relações da nove com a seis também gerariam Guru Chāṇḍāla ou reforçariam os resultados negativos
do yoga, caso presente. Porém, até para o Guru
Chāṇḍāla yoga há bhangas (nulificações). Ademais, quando esses se encontram
presentes, o Guru Chāṇḍāla yoga pode denotar
moral e espiritualidade genuína, mas marcada por algum tipo de irreverência ou
atitude reformadora e visionária para a época em questão, o que se aplica às
configurações padrões mencionadas nos clássicos.
Esses bhangas, mencionados em um artigo
excelente de K. Guru Rajesh[2] a
respeito do assunto e confirmados pelas minhas observações pessoais, se dão nas
seguintes circunstâncias:
(2.1) Quando Guru detém força, isso é, ocupa câncer, sagitário ou
peixes.
(2.2) Quando, além de Guru estar forte, o mesmo ainda se mantém distante
em termos de longitude dos grahas que
gerariam o yoga.
(2.3) Quando Guru e o graha
envolvido recebem os olhares de Śukra (Vên) e Budha (Merc).
(2.4) Quando a nove e seu senhor detém força.
(2.5) Quando há um poderoso dharma
karmādhipati yoga no jātaka.
(2.7) Quando há influências benéficas sobre o lagna e a dez.
Alguns exemplos claros
de bhanga são os de Balagangadhar
Tilak e Śrīla Bhaktivedānta Vamana Gosvāmī Mahārāja. Por outro lado, exemplos
claros de Guru Chāṇḍāla yoga são
Adolf Hitler, Abdul Hamid II, Klemens Behler, Edoardo Agnelli, Príncipe Alfred,
Jawaharlal Nehru, Marilyn Manson e Sylvie Andrieux.
Aqueles que possuem Guru
Chāṇḍāla envolvendo Rāhu são os que
estão mais predispostos a agir de forma traiçoeira e ingrata, pois Rāhu é o
verdadeiro chāṇḍāla (pária), além de
ser chamado também de Sarpa - serpente. Tais indivíduos podem ainda vir a
proliferar filosofias perniciosas e heterodoxas, se envolver com corrupção e
outras atividades sórdidas.
No caso do Guru Chāṇḍāla
formado por Ketu, seus resultados incluem desleixo ou indiferença aos
princípios tradicionais, apatia social, iconoclastia, etc. Por outro lado, Ketu
tem mais chances de gerar bons resultados do que Rāhu, caso hajam os bhangas acima mencionados no jātaka, pois Ketu, o mokṣa kāraka (significador da
libertação), é um transcendentalista por excelência, o que se afina bem com a
natureza de Guru. No caso, o indivíduo com um bhanga ao GCY envolvendo Ketu pode se mostrar muito mais envolvido
com o aspecto esotérico do que exotérico da religiosidade, o que não deixa de transmitir
a icônica atitude não conformista dos nodos. Além disso, R. G. Rao,
em seu "Essence of Nadi", menciona que em uma configuração
envolvendo, por exemplo, Śani, Guru e Ketu, o indivíduo se tornará um
astrólogo, filantropo, guru ou vaidya (médico) que se dedicará inclusive a servir os sādhus, tornando-se ele mesmo um sādhu ao longo de sua vida. Ele ainda diz que
tal pessoa viverá obstruções no seu desenvolvimento acadêmico e profissional, mas
terá êxito no cultivo de conhecimento transcendental, se encarregando de ajudar
a humanidade a se elevar e a se libertar do sofrimento. Já no que se refere a
um Guru Chāṇḍāla envolvendo Guru, Śani e Rāhu, os resultados atribuídos por R.
G. Rao são bastante negativos.
Minha conclusão pessoal
a respeito do tema é de que, mesmo em um GCY envolvendo Rāhu, a depender da
situação, bons resultados também podem se manifestar, pois os bhangas são igualmente aplicáveis a
esse. Em suma, os nodos sempre exercem uma influência não conformista sobre o
que tocam em um jātaka, o que pode
ser prejudicial, pois levará a rebeldia e a ingratidão. Porém, há de se convir
que boa parte dos grandes bem feitores da sociedade foram em maior ou menor
grau não conformistas, os quais puderam trazer importantes e visionárias
reformas para a sociedade por meio de suas atividades. Assim sendo, nem sempre
a relação de Guru com os nodos será causa de resultados negativos, pois tais
configurações podem vir a representar a destruição não do que é bom e traz
ordem a sociedade, mas sim do que se tornou obsoleto, sectário ou mesmo secular. Algo no espírito exemplificado por Jesus em uma de suas famosas citações: "Não
penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, pois não vim para revogar, mas
sim para cumprir".
oṁ
tat sat
Muito elucidativo
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