Recentemente uma pessoa veio desafiar uma análise que fiz sobre o tema filhos a partir de um horóscopo
feminino, dizendo que é a partir da nove e não da cinco que se vê os filhos em
um horóscopo feminino. De fato, podemos encontrar essa afirmação em três textos
clássicos: Horā sāra, Jātaka pārījāta e Phaladīpikā, enquanto que no Bṛhat jātaka,
Sārāvalī e no BPHS o contrário é indicado, ou seja, que a casa dos filhos é a
cinco para ambos os gêneros.
Inclusive, embora no
Jātaka pārījāta seja mencionada a nove como sendo a casa dos filhos em
horóscopos femininos, Vaidyanātha afirma educadamente que há outros astrólogos
que optam por usar a cinco. Ou seja, há uma divisão de visões entre os
astrólogos e eu sempre estive bem ciente disso. Optei por usar a cinco para
filhos nos mapas femininos não por ignorância, mas pelos seguintes fatores:
(1) A cinco representa
o ventre, enquanto a nove representa as coxas. Gestações se dão no ventre e não
nas coxas, obviamente. Também não faria sentido dizer que o ventre em mapas femininos é indicado pela nove, pois isso quebraria com a ordem natural das casas e das partes do corpo por elas representadas.
(2) Se a nove é a casa
dos filhos em mapas femininos, será também a casa do alunos/discípulos. Nesse
caso, onde ficaria o guru/professor, tema natural da nove? Na cinco? Ou
teríamos filhos, discípulos e o guru todos na mesma casa? Isso também não faz sentido algum.
(3) A nove é a cinco da
cinco, ou seja, ela tem impacto sobre os temas de cinco, assim como a três tem
sobre os da oito (sendo a oito da oito), a nove nos temas de onze (sendo a onze
da onze), etc. Dessa forma, tanto em horóscopos masculinos quanto femininos a
nove pode ser usada para analisar filhos, mas apenas como uma indicação
secundária e nunca como uma indicação primária, uma vez que a nove, sendo a cinco da cinco, é em primeiro lugar a casa dos netos e não dos filhos. Na minha opinião, a confusão a
respeito do tema se deve exatamente a essa derivação.
Além desses fatores,
tem outro muito mais significante: os exemplos práticos em si. Estudei dezenas
de casos somente para escrever esse artigo, considerando também a minha experiência
prévia, portanto apresento
aqui alguns desses casos que deixam mais do que claro que é a cinco que trata de
filhos tanto em horóscopos masculinos quanto femininos, algo que B. V. Raman e
K. N. Rao, os dois maiores nomes do jyotiṣa contemporâneo também concordam e exemplificam abundantemente em seus livros.
Começando com o horóscopo
da Marilyn Monroe, notem que o regente da cinco é Maṅgala a ocupar a oito em
signo de grande inimigo, enquanto a cinco recebe o olhar de Budha, regente de
doze e de Sūrya, ambos grahas que não estão colaborando em nada para a
gravidez. Marilyn tinha endometriose e chegou a fazer um aborto voluntário,
além de ter sofrido outros abortos. Ela jamais teve um filho. A indicação aqui
é bastante clara.
Considerando a nove,
seu regente, Guru, está na sete (b.
chakra) conjunto a Chandra por longitude e também por nakṣatra. Isso não explica os seus abortos e muito menos negaria
filhos se a nove fosse mesmo primária para julgar o tema. Inclusive, Guru não está conjunto a Maṅgala, devido a distância longitudinal, logo, não há como declarar que esse exemplo é ambíguo.
Nadine Allaria foi uma
policial francesa que, após o seu segundo divórcio matou seus dois filhos para
em seguida se suicidar. Notem que o regente de sete (casamento) e oito
(tragédias), Śani, ocupa a cinco dos filhos em signo e navāṁśa cruel sob o olhar de Maṅgala, o que aponta claramente para
o evento.
Agora considere a nove,
nela não há graha algum (b. chakra), enquanto o seu senhor ocupa
virgem, um signo benéfico, livre de qualquer influência maléfica. O evento não
está nada claro e o contraste é muito grande entre o que a cinco e a nove indicam. Faça a mesma análise a partir de Chandra e verá como também é
apenas a partir da cinco que o evento faz sentido.
O mapa acima pertence a
uma mulher que teve duas filhas e um filho, todos de parto normal. Conexões
sadias de cinco e oito, pelo que percebi em meus estudos, são um dos indicativos possíveis em casos de parto normal, uma vez que esse é um
parto vaginal (a oito representa a genitália). Vejam que o regente de cinco, Maṅgala,
ocupa a oito em signo de g. inimigo, exatamente como no caso da Marilyn Monroe,
no entanto, sob influências benéficas de grahas femininos (Chandra e Śukra, indicando também as duas meninas), o que garantiu o nascimento de seus bebês e
a protegeu de qualquer aborto.
Por outro lado, uma de
suas filhas nasceu com paralisia e teve de passar por várias cirurgias e
tratamentos, sendo que hoje ela desempenha todas as funções motoras
normalmente, exceto pelas funções da mão esquerda, na qual sua capacidade
motora é bem menor. Notem que Maṅgala na oito em um signo de Śani (o qual
preside o sistema nervoso) explica bem o porquê da dificuldade, enquanto os
benéficos influenciando mostram a sua boa recuperação.
Agora analisem a nove, seu senhor e comparem os resultados por conta própria, verão que as indicações nem se comparam as da cinco, em termos de precisão.
A pessoa do mapa acima passou por
um aborto espontâneo, o qual ela relata ter sido influenciado por uma relação afetiva difícil, o que aqui é claramente indicado por Śani, senhor da sete (relacionamentos) e oito (tragédias) ocupando a cinco em signo
de g. inimigo sob olhar de Sūrya, enquanto o senhor da cinco ocupa a doze (perdas) junto
do senhor de doze.
Considerando a nove, lá
está Guru, seu senhor, junto a Rāhu, o que está muito longo de caracterizar o evento. Sem dúvida alguma, a cinco é que está realmente representando a situação toda.
Com apenas esse quatro exemplos onde o lagna é câncer já é possível compreender como é a cinco quem trata primeiramente dos filhos e não a nove. Inclusive, notem que há similaridades entre as configurações envolvendo a cinco nos casos um e três, assim como entre os casos dois e quatro. Se alguém ainda sim tiver dúvidas sobre o tema, recomendo que colete um
bom número de mapas envolvendo casos de aborto ou mesmo do nascimento de
gêmeos, uma vez que nesses casos as configurações são muito mais contrastantes e, portanto, as chances de uma análise ambígua são bem menores.
oṁ
tat sat
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