quinta-feira, 19 de julho de 2018

A abordagem clássica dos vargas (divisões)

Após anos estudando os vargas (divisões), testando diferentes cálculos, técnicas e investigando a fundo o que é dito nos clássicos a respeito, a conclusão a que cheguei foi de que o uso dos vargas, enquanto mapas individuais é uma abordagem moderna. Se nos referimos ao Bṛhat jātaka ou mesmo a textos mais recentes como o Jātaka pārījāta, fica evidente, por meio desses, que os vargas eram usados apenas como divisões de um signo e não como mapas individuais com casas, conjunções e olhares entre os grahas.

Basicamente, as técnicas mencionadas entre os autores clássicos, giram em torno do seguinte:

(1) Especificar mais detalhadamente os resultados de um graha, combinando o signo ocupado no rāśi com o horā, drekkāṇa, saptāṁśa, navāṁśa, dvadaśāṁśa, ṣoḍaśāṁśa, triṁśāṁśa ou ṣaṣṭyāṁśa ocupado pelo mesmo. No caso, ênfase especial ao horā, drekkāṇa, navāṁśa, triṁśāṁśa e ṣaṣṭyāṁśa são encontradas nos clássicos. Quanto aos demais vargas, ou são mencionados em alguns raros casos ou então nem sequer encontramos exemplos de sua aplicação.

(2) Analisar a situação do dispositor do navāṁśa, drekkāṇa ou outro varga ocupado por um graha, a fim de delinear melhor os seus resultados. Um exemplo clássico é notar o senhor do navāṁśa ocupado pelo senhor da dez e a partir disso delinear o tipo de carreira que o indivíduo tenderá a seguir. Se o senhor da dez ocupa um navāṁśa de sagitário ou peixes, p. e., os temas de Guru influenciarão a sua carreira e, portanto, pode-se notar a posição de Guru no jātaka para uma delineação ainda mais precisa. Essa técnica da análise do dispositor é especialmente usada em relação ao navāṁśa, sendo raramente considerada com outros vargas.

(3) A técnica conhecida como 
rāśi-tulya-navāṁśa, em que o signo ocupado pelo graha não só no rāśi como também no navāṁśa é tomado como referência no rāśi para julgar melhor os seus efeitos gerais.

(4) Calcular a força de um graha com base no viṁśopaka ou vaiśeṣikāṁśa do mesmo, isso é, tomar a posição dele nos vargas e assim atribuir uma certa pontuação conforme as dignidades que obtém ou perde nos mesmos.

(5) Usar das divindades de cada varga para caracterizar os efeitos de um graha. No caso, Jātaka pārījāta, Sarvārtha chintāmaṇi e Phaladīpikā deram importância especial as divindades do ṣaṣṭyāṁśa, que podem ser krūra (cruéis) ou saumya (gentis).

(6) Diferenciação de gêmeos e indivíduos que nascem com as mesmas posições dos grahas e do lagna, baseando-se nas mudanças que ocorrem nos vargas ocupado pelo lagna, os quais são mais sutis. Inclusive, os vargas ocupado pelo lagna são utilizados também como referência para retificação de horário, baseado nas características comportamentais e físicas do indivíduo, conforme apontado na Sārāvalī de Kalyāna.

(7) O uso do svāṁśa ou kārakāṁśa-lagna, um lagna usado no rāśi, mas que toma por referência o navāṁśa do ātmakāraka e que é extensivamente usado em Jaimini jyotiṣa.

Essas são algumas das técnicas que tomam por referência os vargas, obviamente há outras, mas essas são as principais, pelo que notei no decorrer do meu estudo e prática. Inclusive, é importante mencionar que os vargas seguem diferentes tipos de contagem, por exemplo, o saptāṁśa, navāṁśa, daśāṁśa, ṣoḍāśāṁśa, viṁśāṁśa e saptaviṁśāṁśa seguem parivṛtti, um cálculo zodiacal regular, enquanto os demais vargas fogem desse padrão. O drekkāṇa, p. e., segue a ordem das triplicidades (trikoṇa) de cada elemento, enquanto o triṁśāṁśa parte de divisões irregulares regidas pelos tara grahas, os grahas que presidem os cinco elementos (Maṅgala, Śani, Guru, Budha e Śukra). Dessa forma, há diferentes padrões usados nos cálculos dos vargas, alguns deles sendo únicos a um determinado varga. Isso levanta algumas questões sobre a funcionalidade de tais cálculos, pois há certos cálculos que quebram completamente com a ordem zodiacal ou qualquer outra ordem possível, como é o caso do dvadaśāṁśa, chaturviṁśāṁśa, kavedhāṁśa e outros vargas menos populares, que são completamente assimétricos. Isso fez com que incontáveis variações nos cálculos dos vargas tenham se desenvolvido no decorrer do tempo, o que criou um verdadeiro labirinto de possibilidades, algo bastante desencorajador.

Minha experiência prática, portanto, me leva a crer que, baseado em todos esses problemas e questões nebulosas em que os vargas estão envoltos, é mais fácil nos fixarmos no uso do navāṁśa, horā, drekkāṇadvadaśāṁśa, triṁśāṁśa e ṣaṣṭyāṁśa, conforme o que foi apontado pelos autores clássicos, enquanto que em relação aos demais vargas, muitas pesquisas ainda devem ser feitas para que novas técnicas possam ser descobertas. Porém, devo salientar que estou cada vez mais convicto de que os vargas, de fato, não são mapas individuais com conjunções, aspectos e casas, por carência de referências clássicas substanciais, inclusive. Se eles são usados hoje em dia como mapas individuais, que fique claro, trata-se de uma abordagem moderna, o que não necessariamente a faz incorreta, embora a minha opinião pessoal é de que sim, é um método incorreto, algo que vim a perceber ao longo de todos esses anos de estudo e prática extensiva com os vargas

oṁ tat sat

3 comentários:

  1. gauraji, sobre o navāṁśa-tulya-rāśi, alguma diferença qualitativa na análise como vc exemplificou no topico (2) acima?

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    1. Sim, Tiago, pois nesse caso você transpõem o graha no rashi e o imagina naquela casa em questão que o signo cai.

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