No
Horā ratna de Balabhadra, logo no
primeiro capítulo, há uma explicação acerca de como o karma se efetiva através do daiva
(destino). Balabhadra explica (30-31) que as inclinações (mati) de um indivíduo dependem do seu intelecto (buddhi) e que, portanto, todas as manifestações
do seu karma se darão a partir disso. Em outras palavras, o daiva se efetiva a partir de nossa percepção/compreensão condicionada da realidade. No entanto, embora o destino seja real, Balabhadra prossegue explicando que a existência do destino não nos isenta da necessidade de agir,
pois os śrutis e smṛtis prescrevem uma série de atividades e proibições que visam educar
e elevar o jīva (ser vivo). Além
disso, todos precisam se ocupar em algum tipo de trabalho (karma) para se manter e até mesmo para obter os frutos de seu karma prévio.
Para
provar a existência de um destino imutável ou sthira (fixo) e outro maleável (utpāta
- súbito) ou dependente de nossas ações, Balabhadra cita um verso de Vṛddha
Yavana e explica que as configurações do mapa revelam o sthira karma ao passo que os trânsitos dos grahas determinam utpāta,
resultados súbitos ou inesperados.
Varahāmihira,
Kalyana, Parāśara, etc., indiretamente concordam com esse princípio, uma vez que recomendam, p. e., o
estudo do daśā praveśa chakra ou o
mapa dos trânsitos que ocorrem no início de uma daśā. Sem o daśā praveśa
ou um estudo regular dos trânsitos, não é possível determinar com tanta segurança
o que ocorrerá em uma determinada daśā,
pois os trânsitos tem o potencial de fortalecer ou enfraquecer certas promessas. Nesse caso, sthira e utpāta são considerados conjuntamente na análise.
P.
e., se o indivíduo vive a mahādaśā de
Guru e esse está bem colocado no mapa isso não quer dizer que apenas bons
resultados se darão, uma vez que a partir de trânsitos maléficos sobre Guru,
trânsitos do próprio Guru e também outros trânsitos negativos sobre o mapa
natal farão o indivíduo sofrer. Esse é um exemplo claro de como utpāta
se manifesta.
O que me atraiu na explicação apresentada por Balabhadra é, sem dúvida, o fato dele não ter definido utpāta como um karma completamente aleatório e livre, como muitas pessoas acreditam que seja. Sua ideia é precisa e está de acordo
com os jyotiṣa śāstras, śrutis e smṛtis, uma vez que mantém a noção de um determinismo moderado ou compatibilismo, onde as ações livres não são absolutamente livres, mas sim condicionadas por fatores como circunstância, impressões passadas, etc., ou seja, são livres no sentido de partirem de um querer, embora este querer seja a expressão de uma vontade que está condicionada, enquanto a própria substância interior e basilar de um indivíduo.
Om tat sat
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