Dentre os vários yogas descritos nos textos de jyotiṣa,
há um grupo que ganhou grande importância: o dos mahāpuruṣa yogas. A palavra
por si só já é bastante significativa, pois se refere a uma grande (mahā) personalidade (purūṣa), alguém cujo destino é singular
e que possui no corpo certas marcas (lakṣanas)
que a distinguem dos demais.
Em seu Bṛhat Parāśara horā śāstra, o sábio Parāśara define os mahāpuruṣa yogas da seguinte forma
(75.1-2):
"...quando
Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno, ocupando seu domicílio (svakṣetra), mūlatrikoṇa ou signo de exaltação (uccha), estiverem simultaneamente em uma casa angular (kendra; 1-4-7-10) a partir do ascendente
(ou da Lua), isso dará origem a ruchaka,
bhadra, haṁsa, malavya e ṣaṣa yoga,
respectivamente. Esses yogas são
chamados de pancha mahāpuruṣa yogas e
as pessoas que nascem sob tais yogas
tornam-se grandes personalidades".
Mantreśvara, Kalyāna,
Vaidyanātha e tantos outros autores importantes também incluíram os pancha mahāpuruṣa yogas em seus textos.
Mantreśvara, na Phaladīpikā, abre o
capítulo de yogas justamente com os pancha mahāpuruṣa yogas, enquanto
Kalyāna dedicou um capítulo inteiro a discutir a força dos elementos, guṇas e dos mahāpuruṣa yogas. Isso nos dá uma idéia da importância desses yogas na tradição do jyotiṣa.
Se analisamos com mais
cuidado a formação desses yogas, não
é a toa que foram tão enfatizados. Em primeiro lugar, envolvem cada um dos pancha tāra grahas[1]
(Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno)
detendo força e em segundo lugar, eles devem estar dispostos nos kendras, as casas angulares (a partir do
ascendente ou da Lua natal), definidas por Parāśara como as mais fortes dentre
todas as casas do mapa. Isso por si só já faz de tais posicionamentos
louváveis.
Quando um graha se situa em um kendra ele obtém o chamado kendrādi bala, um tipo específico de
força que destaca os seus efeitos quando comparado com os efeitos de um graha em casa sucedente (2-5-8-11) ou
cadente (3-6-9-12). Há várias evidências de como um graha em casa angular possui uma força destacada e capaz de
predominar sobre os outros aspectos do mapa. Por exemplo, quando há certos yogas de morte precoce presentes no
mapa, um graha benéfico em kendra detendo força é suficiente para
mitigar os males de tais yogas.
No
caso dos mahāpuruṣa yogas, eles imprimem
na natureza do indivíduo as características do graha que forma o yoga,
ou seja, destaca o seu guṇa, elemento
e natureza intrínseca, além de exaltar os temas da casa ocupada e daqueles que
rege. Todos esses elementos definem a fonte da proeminência do indivíduo. Inclusive,
deve-se notar que há claras diferenças entre um mahāpuruṣa formado por Júpiter ou Saturno, assim como há diferenças
entre um mahāpuruṣa formado por um
mesmo graha, mas em casas diferentes
ou mesmo a partir de ascendentes diferentes.
Outro ponto importante
é que um mahāpuruṣa yoga tem os seus bhangas, ou seja, os fatores que o
nulificam ou minimizam seus efeitos. Alguns desses são a conjunção a um luminar
(Sol ou Lua), a aflição por maléficos, pāpa
kartari (grahas maléficos no
signo seguinte e anterior ao mesmo), a sua fraqueza em outros vargas (divisionais) e balas (classificações de força), assim
como a fraqueza dos luminares no mapa[2],
os quais são responsáveis por sustentar os yogas
de um mapa, especialmente os rāja yogas,
dos quais os mahāpuruṣa yogas podem
ser considerados como tais.
Segue abaixo um notável
exemplo de mahāpuruṣa yoga:
Śrī
Tridaṇḍi Svāmī
Śrī Tridaṇḍi Svāmī foi
um dos grandes santos da tradição śrī vaiṣṇava de Ramanujāchārya. Em seu mapa
há dois mahāpuruṣa yogas formados a
partir da Lua natal (o horário de nascimento do mesmo é desconhecido): ruchaka, por Marte e ṣaṣa, por Saturno. No entanto, o ruchaka mahāpuruṣa está em parte
impedido pela conjunção a Lua, enquanto o ṣaṣa
de Saturno é parcialmente obstruído pela conjunção a Ketu. Porém, visto que
os luminares no mapa detém força, tais yogas
não deixaram de dar os seus frutos. O Sol no mapa se encontra exaltado,
enquanto a Lua, detém luminosidade e forma um nīchabhanga (anulação de debilitação), causado pela conjunção ao
seu dispositor, Marte.
Essas configurações
garantiram os resultados do mahāpuruṣa
yoga, mas de forma distinta, pois esses mahāpuruṣa
coexistem com certos pravrajya yogas
que são combinações que conduzem a renúncia e ao asceticismo. A Lua em signo de
Marte sob influência de Marte e Saturno é um pravrajya, enquanto a conjunção de quatro grahas no signo de áries
e a conjunção de Saturno a Ketu são outras combinações que o conduziram a árduas
disciplinas espirituais.
Tridaṇḍi Svāmī viveu 94
anos, sendo que 74 anos de sua vida foram vividos sob o voto de renúncia (sanyāsa). Ao longo desse período ele escreveu
inúmeros comentários aos textos sagrados, construiu vários templos, escolas e
currais para vacas; além disso, na qualidade de um grande pregador ele instruiu
inúmeras pessoas, tornou-se um mestre no aṣṭānga
yoga de Nathamuni, manifestou siddhis
e experimentou transes meditativos que chegavam a durar cinco, sete e até mesmo
quinze dias. Sem dúvida alguma, Tridaṇḍi Svāmī é o exemplo claro de um mahāpuruṣa.
Em relação as observações clássicas, Kalyāna, em sua
Sārāvalī, diz que o indivíduo que nasce sob ruchaka
yoga deterá grande força, será esplendoroso, de um rosto longo, valoroso,
deterá conhecimento de mantras,
honrará os devas e os brāhmaṇas, além de deter uma série de
sinais auspiciosos no corpo. Inclusive, é notável que Marte dispõem os dois
principais pravrajyas de Tridaṇḍi
Svāmī: o formado pela conjunção a Lua e o que se dá em áries pela conjunção de
quatro grahas. Isso fez com que a
fonte de sua proeminência fosse a sua própria entrega espiritual que era
profunda e intensa como um Marte tão destacado já pressupõem. Em relação ao ṣaṣa yoga, as características de Saturno
proeminentes em um indivíduo com pravrajya
yogas presentes em seu mapa contribuem significativamente para uma vida
ascética, visto Saturno ser o significador do asceticismo. O fato de Saturno ocupar
a quarta da Lua indica que parte do seu reconhecimento viria dos muitos templos
que ele ajudaria a fundar e a manter, assim como de seu profundo desapego
emocional, típico de um sanyāsī
fidedigno.
Om
tat sat
[1] Tāra é uma estrela e, como tais grahas
se assemelham a estrelas do ponto de vista da Terra, são chamados de tāra grahas, o que difere do Sol e da
Lua que, devido ao grande disco que possuem são chamados de mandala grahas.
[2] 38.28, Sārāvalī de Kalyāna Varma
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